Entrevista ao Brasil Econômico
Ex-diretor do BC e doutor em Economia pela Universidade da Califórnia, Alexandre Schwartsman diz que a prioridade do BC não é a inflação
Ex-diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central (BC) e doutor em Economia pela Universidade da Califórnia Alexandre Schwartsman tem se destacado como um dos críticos mais ferozes da atual política econômica. E justificou essa fama em entrevista ao Brasil Econômico. Para ele, o governo erra ao insistir em soluções voltadas para o aumento da demanda, quando o problema está na limitação da oferta, prejudicada pela baixa produtividade. Schwartsman atribui os equívocos à presidenta Dilma Rousseff. “Vamos falar a verdade: a política econômica no Brasil emana diretamente da Presidência da República. É ali que a responsabilidade está”.
Para ele, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, apenas seguem a orientação da presidenta, que não está disposta a pagar o preço de um ajuste fiscal, muito menos em ano eleitoral. O BC, acrescenta, é subserviente e submete-se às determinações do Planalto. “A prioridade do BC não é a inflação. É o crescimento, o câmbio. Dessa forma, perdeu o controle das expectativas. É só olhar para a gestão do BC para saber que é temerária”, ataca.
Qual a tendência para este ano?
Muito parecida com o ano passado, as mesmas forças estão valendo hoje. O principal problema é a restrição no lado da oferta. Ela está com dificuldade de crescer. Ao contrário de anos anteriores, quando havia grandes contingentes de pessoas para trabalhar, hoje não há mais. A produtividade de trabalho no Brasil tem crescido em torno de 1,5% ao ano. Não escapa disso. Junte a isso a expansão da população economicamente ativa, e o limite para crescimento da economia é de 2% ou 2,5%. A estratégia de crescimento do governo, de botar mais demanda na economia, com crédito e desonerações, vai muito bem quando há capacidade ociosa na economia. Não é o que se tem hoje.
Estamos condenados a esse crescimento?
Para citar o Copom, “neste momento”, sim. Não é um destino inexorável. É possível mudar com as políticas para fazer a produtividade crescer. Com muito atraso, depois de métodos equivocados, o processo de concessões parece estar avançando. E a infraestrutura é muito importante para a produtividade. Hoje, investimos 2% do PIB em infraestrutura. Quando aumentar essa participação, a produtividade subirá, mas não será da noite para o dia. Tem um conjunto de reformas, em particular nas áreas tributária e trabalhista, que poderiam destravar a produtividade, mas não vejo ninguém muito interessado em promover isso. Não estamos condenados, mas é preciso trabalhar. Demanda, é fácil crescer. O BC corta juros, o governo aumenta gasto. Um par de canetadas resolve. Mas quando a recessão está na oferta, é preciso trabalhar.
E a confiança do empresário?
Nosso nível de investimento, que traduz a confiança do empresariado, é baixo. Um pouco mais alto do que já foi, mas continua entre 18% e 19% do PIB. A confiança, entretanto, não é tudo. O empresário pode querer investir mais e não ter como. O consumo das famílias está em torno de 62% do PIB, o do governo fica na casa de 20%. Somados, chegam a quase 83%. O que sobra para investir, sem aumento de déficit externo, é cerca de 17%. Complicado. Para aumentar o investimento, é preciso pensar em um programa de ajuste fiscal de longo prazo. É aquele mesmo tipo de ajuste classificado de rudimentar por gente do governo. A chance de isso acontecer é baixa. Falta condição para o empresário investir, não basta ele querer.
Quais são as bases desse ajuste?
Principalmente controlar o gasto corrente do Brasil. O gasto do governo, que era de 14% em 1997, hoje é de 19%. O funcionalismo tem ficado mais ou menos estável. Foi montado um grande esquema de transferência…
Você fala dos programas sociais?
O Bolsa Família é troco, custa R$ 25 bilhões por ano, e não é ruim. É só 0,5% do PIB.
Seria mais grave sem esse nível de arrecadação?
Se não houvesse esse nível de arrecadação, a gente já teria quebrado, não teríamos como sustentar esse volume de gastos. A estimativa de carga tributária, de 36% do PIB, é alta e trabalhosa. O Banco Mundial estima que uma empresa média típica no Brasil gasta algo como 2.800 homens/hora/ano, é o mais alto custo do ranking, mais do que o dobro do segundo lugar. Nos países desenvolvidos, o índice fica entre 300 e 500. Cada empresa gasta em excesso mais de 2 mil homens/hora/ano para uma tarefa essencialmente improdutiva, que é preencher papel e pagar imposto. Imagina o potencial que a gente teria ao alocar essas pessoas em tarefas mais úteis. É um custo imposto pelo setor público brasileiro ao resto da economia que afeta a produtividade. Nada me parece mais óbvio do que tirar esse contingente de pessoas que está preenchendo papel e botar para fazer algo melhor. É o fruto que está baixinho na árvore. É só pegar.
Com essa despesa corrente alta, é preciso manter a arrecadação. Não há como pensar numa reforma tributária hoje que reduza a carga tributária?
Não tenho nenhuma ilusão de que seja possível essa redução. O que deveria ser um objetivo é manter a carga tributária, mas tentar uma estrutura menos caótica do que a atual.
Isso é um foco de inflação?
Acaba acontecendo em setores que não sofrem concorrência externa, como o de serviços. Como a gente caracteriza as grandes linhas econômicas brasileiras hoje? A demanda interna sobe mais rápido do que o PIB; a inflação de serviços é mais alta e puxa o índice geral; o setor industrial cresce pouco, mas a demanda maior, em última análise, vira aumento de importação. O desequilíbrio externo, portanto, também está ligado a isso. Se conseguirmos fazer a produtividade crescer bem mais rápida, essa restrição de oferta se afrouxa, mudando o ciclo.
Parece que o único antídoto que temos hoje em dia é o aumento da taxa de juros…
É o remédio para o problema inflacionário, mas para outros, não. A oferta cresce menos do que a demanda. Para controlar a segunda, é preciso aumentar os juros. A gente poderia fazer a mesma coisa com a política fiscal. Como não fazemos, sobra a política monetária, hoje atrasada e insuficiente. Não vai resolver o problema, vamos continuar com inflação alta.
Qual seria o nível de juros para trazer a inflação a 4,5%?
Entre 12% e 13%. Não vamos conseguir com menos que isso.
Mas como ficaria o crescimento?
Certamente abaixo do que provavelmente teremos este ano. Até dá para controlar a inflação só com os juros. A questão é qual o preço que se quer pagar.
O preço seria menor com instrumentos fiscais?
Certamente. Mas, mesmo com instrumentos fiscais, recuar a inflação passa por diminuir a demanda. É o que fazemos países que passam por um momento de inflação muito baixa. Mas quando têm de fazer um programa de desinflação, passamos por alguma desaceleração do PIB por algum tempo. Desse jeito, o mercado de trabalho afrouxa, o salário diminui e a inflação é trazida para baixo. Não tem mágica. O juro não tem relação direta com a inflação. Ele bate na demanda interna e o ciclo começa.
Mas essa cadeia seria acionada em um ano eleitoral?
Acho altamente improvável. Por isso eu vejo um cenário inflacionário que dificilmente vai ser melhor do que o do ano passado. A verdade é a seguinte: a inflação ficou em 5,91% em 2013, mas à custa do controle extraordinário de preços – redução na tarifa de energia, defasagem nos preços dos combustíveis, tarifas de transportes urbanos congeladas. Controlar a inflação segurando preços públicos é facílimo. O problema é que não funciona em lugar nenhum por mais que uns poucos meses.
Acha possível manter esse represamento ainda este ano?
Muito difícil. Os preços administrados subiram, em média, 1,5% ano passado. Para 2014, o BC prevê subida de 4,5% nos preços administrados. Acho exagerado. Supondo que o reajuste seja de 3,5%, é um aumento de 2 pontos percentuais nessa linha. De acordo com o peso dela, vai acabar adicionando algo como 0,6 ponto na inflação, pondo a taxa muito próxima de 6,5% no fim do ano, juntando com os preços livres. Nossa situação inflacionária não é tranquila; o próprio BC diz que não vê a inflação voltando ao centro da meta nem em 2015. Essa administração perdeu 2011, 2012, 2013, já admitiu que vai perder em 2014 e, muito provavelmente, 2015.
Como o sr. vê a postura do governo com a inflação?
Há um completo descompromisso. Uma meta, perdida por tantos anos, é muito descuido. Ou incompetência. Tentar por cinco anos e não conseguir é muito errado. Subserviência, descuido, incompetência – pode escolher. Isso foi cometido pelo BC ou por quem manda nele.
Mas de quem seria essa culpa?
Vamos falar a verdade: a política econômica no Brasil emana diretamente da Presidência da República. É ali que a responsabilidade está. Tem os intermediários: o Tombini, o Guido, mas obviamente eles não são os formuladores da política econômica.
A presidenta Dilma em Davos pode conseguir evitar o rebaixamento da nossa dívida?
Se discurso resolvesse problema, ninguém teria dificuldade econômica. O que interessa nesses momentos é o que você faz – o que você fala, é outra coisa. Recuperei uma entrevista da Dilma logo no começo do mandato dizendo que a inflação era a prioridade total e em nenhum ano chegou perto do centro da meta. É quase como aquela história de criança: todo mundo quer comer, mas ninguém quer fazer o bolo. Todos querem inflação baixa, mas ninguém está disposto a pagar o custo. Há cerca de um ano, a própria presidenta da República disse que essa ideia de baixar o crescimento para controlar a inflação era totalmente equivocada. Por isso que a gente não baixa a inflação.
Mas quem defende isso é acusado de pregar o desemprego, e são vistos como “do mal”…
Neste caso, sou eu. Mas não apenas eu. O sujeito acha que vai diminuir a inflação sem passar por um aumento de desemprego? Desculpe, ele está enganado. Veja o que o Alan Greenspan (ex-presidente do Fed) fazia quando precisava desinflacionar a economia – elevava a taxa de desemprego. Não porque ele era mau, mas porque tinha um objetivo. Nada é de graça. Mas a partir do momento que o BC consegue consolidar as expectativas de inflação em torno da meta, como fizemos no período até 2008, é possível manter a economia perto do pleno emprego sem grandes tensões inflacionárias. O problema é quando se perde o controle sobre as expectativas. Aí a economia cresce mais devagar, com inflação mais alta. A troca de longo prazo, “vou crescer mais com inflação mais alta”, já foi provada como errada, não só pela teoria econômica, como empiricamente. Existe, sim, uma troca de curto prazo: se precisa baixar a inflação, o custo temporário é desemprego. E o benefício é duradouro. Ignorar essa lição, politicamente é muito cômodo, mas não resolve nosso problema.
Qual foi o efeito do aumento da Selic? A dosagem foi ideal?
Só sabemos o que o BC fez. “Como seria a trajetória da inflação semos aumentos recentes?” – é uma pergunta a ser respondida. Sobre a dosagem, cabe uma referência a Santo Agostinho: “Por favor, dai-me continência e castidade, mas não agora”. O BC começou tarde e devagar, a contragosto. E rapidamente deixou de dar qualquer indicação de que está disposto a buscar o centro da meta. É difícil inferir qual o objetivo do BC. A parte fácil é perceber que não é 4,5%. Numa época pensou-se em 5,5%. Me parece mais provável alguma coisa abaixo de 6,5%. O BC parou inclusive de falar em “convergência tempestiva”. É por isso que dizem que o BC perdeu a credibilidade, que foi construída lá atrás com um custo não desprezível.
Quando isso aconteceu?
Em 2011, o BC falou que a expectativa da inflação estava para cima, mas que iria cortar o juro porque o mundo iria desinflacionar o Brasil para a gente. Mesmo com sinais cada vez mais claro sem contrário, ele apenas assistiu ao movimento de agosto de 2011 a dezembro de 2012, com a crise já rolando. Ficou muito claro que a prioridade do BC não era a inflação. A prioridade do BC é crescimento, é o câmbio, não é inflação. Ele perdeu o controle das expectativas, o que explica o que estamos vivendo. É só olhar para a gestão do BC para saber que ela é temerária.
É um problema de equipe?
Não gosto de “fulanizar”. Não é deficiência técnica. O que falta ali é autonomia. Não tenho certeza se o que está na cabeça do Tombini é uma inflação um pouco menor do que 6,5%, ou se é essa a orientação que ele recebe do governo como um todo. Sem tirar a responsabilidade do Tombini, me inclino para a segunda hipótese. Está mais do que evidente que Tombini não tem autonomia para fazer o necessário.
Era diferente no período em que você trabalhou no BC?
Em setembro de 2004, começamos um processo de aperto monetário. Logo depois, veio um colunista de jornal (supostamente bem conectado) e escreveu que não tínhamos autonomia para fazer o que era necessário. Foi um “senta que o leão é manso”. A curva de juros, que havia subido, caiu depois do artigo. Em outubro, subimos de novo, e veio novamente a matéria derrubando a curva futura. Novembro, a mesma coisa. Quando foi dezembro, a ordem se inverteu. O colunista escreveu antes da reunião que a taxa não subiria. Quando nós elevamos a Selic novamente, o mercado falou “Opa!”, e o jogo mudou. A curva de juros futura, depois de três tentativas sabotadas por algo que não tinha a ver com nossa comunicação e estratégia, subiu. Isso aconteceu porque o mercado caiu em si, enxergou a autonomia no BC. Pagamos mais caro por isso do que se tivéssemos feito sem a interferência. Hoje, é o contrário.
Havia mais autonomia no tempo em que o sr. trabalhou no BC?
Sem dúvida. Não eram pessoas que tinham simpatia política pelo partido – nem digo que a atual tenha. Sem autonomia, o Henrique Meirelles não poderia ter escolhido aquela equipe, e não digo só por mim. Hoje, o Tombini não escolhe o time que quer; escolhe dentro das possibilidades que lhe são permitidas. Chega ao ponto de, antes de subir os juros, ele ter que ouvir primeiro o que pensam o Yoshiaki Nakano, o Delfim Netto e o ex-presidente do Palmeiras… Da próxima vez pergunta para o Juvenal Juvêncio (presidente do clube São Paulo).
No ano passado, Delfim falou em tempestade perfeita…
Tempestade perfeita para quem? Os sinais são de que a economia norte-americana pode crescer talvez mais de 3% esse ano. Com isso, a curva futurade juros lá está subindo. Mas o motivo é bom. A maior economia do planeta, um quarto do PIB do mundo, cresce mais rápidodo que o imaginado. Tempestade para quem? Obviamente, o Brasil é fechado, não fez os ajustes, e não vai aproveitar os efeitos positivos. Mas havia quem reclamava da taxa de câmbio e que agora não pode mais reclamar. E ainda bem que o câmbio flutua. Vamos sofrer mais com a situação porque os nossos fundamentos não estão bons. Alguns vizinhos, como Colômbia, Chile e México, vão aproveitar o momento melhor do que a gente. Para eles, a tempestade vai ser oportunidade.
Dos pré-candidatos a presidente, há algum mais consciente dessa situação?
Sou cético. Conheço economistas extraordinários que são próximos aos candidatos, como o Eduardo Giannetti com a Marina Silva, e o Armínio Fraga com o Aécio Neves. Mas não sei o quanto eles vão influenciar na formulação de políticas. Quem imaginaria que o Palocci seria o ministro da Fazenda do Lula? Se o Aécio for eleito, uma possibilidade muito remota, quem garante que o Armínio dará as cartas? Gostaria muito que fosse ele, principalmente por ser competente e um cara legal. A impressão que eu tenho é que o discurso que eu faço não tem a menor ressonância na sociedade brasileira. As pessoas querem o que estamos vendo, de preferência com inflação mais baixa.
Carlos Augusto Montenegro, do Ibope, diz que o eleitor médio não sabe o que é PIB, Selic, Copom, ele quer saber do bolso dele, do preço no supermercado. Para esse cidadão, a inflação assusta?
A questão toda é quem vai colocar o guiso no gato. Isso é Churchill, amigo: “Sangue, suor e lágrimas”. O discurso do ajuste não elege ninguém. Quem aceita uma enxugada no setor público não quer que isso afete a sua parte. Aí fica difícil.
Se a Dilma for eleita, será que em 2015 haverá um freio de arrumação?
Esse é “o” debate, a pergunta que todos estão fazendo. Minha inclinação é de que o freio de arrumação poderá vir de outro fator, mas não da reeleição. Em 2011, tinham a mesma oportunidade de pôr a casa em ordem, mas em seis meses já estavam como pé no acelerador.
Seria resultado da visão que Dilma tem da economia?
Estou convicto disso. Olhe as afirmações dela durante a eleição e compare como que foi adotado. “Eu quero inflação baixa.” Ah, eu também quero ser rico, bonito e saudável. Mas, estou disposto a trabalhar para ser rico, malhar para ser saudável e fazer um implante de cabelo para ser bonito? O gasto público não tem controle, só cresce, e não significou mais investimento. Não há nenhum esforço para controlar a carga tributária. A desoneração é pontual e vista como um incentivo para setores ganhadores. O BNDES está maior do que nunca.
Dilma é desenvolvimentista, keynesiana?
Sim.
E o sr., como se vê?
No meu blog, me defino como paleoliberal, mas é um exagero. Sou menos liberal que meus leitores e amigos.
Olha a careta! |
Os pontos principais do pensamento do Senhor Alexandre Schwartsman, para resolver os problemas do Brasil:
Reforma Tributaria/Trabalhista;
Programa de ajuste fiscal de longo prazo;
Aumento da TX de juros para frear o consumo;
Aumento dos preços de combustível, utilities, tarifas, etc;
Diminuição da inflação, mesmo com aumento do desemprego;
BNDES coadjuvante.
Tenho minhas dúvidas.
Excelente entrevista! Honesta, análise como sempre bem fundamentada e corajosa. Parabéns!
Três pontos que me surpreenderam: "centro da meta"? "presidenta"? "Dilma keynesiana"?
Entrevista excelente, foto genial!hahaha
Muito bom, Alex!
Vai que o implante vale a pena!
Nome forte a ocupar a presidencia da pasta do BC, caso o candidato da (quase)oposiçÃo ganhe ! Apoio e torço a favor !
Que cara feia na foto!
Que cara feia na foto!
Acabou a margem para brincar com a inflação. Daqui pra frente a coisa é séria.
Depois dê uma olhada na curva da Treasury de 10 anos. Se precisar tenho o gráfico dela aqui ( http://3.bp.blogspot.com/-TjGeOLnoBZo/UrTtCFyMvaI/AAAAAAAAHw8/GZ1HtYZrkGU/s1600/Yield+Treasury+10+anos+longo+prazo.png )
A "simples" expectativa de aperto monetário nos Estados Unidos já está provocando uma inversão relevante na tendência de longo prazo das taxas de juros futuros no mercado norte-americano, encerrando um ciclo de queda dos Yields que durou mais de três décadas. Inevitavelmente este movimento respinga sobre os demais títulos da dívida soberana, especialmente em países emergentes, onde sabemos que os ativos apresentam maior presença de fatores de risco. Com o aumento da remuneração dos títulos do Tesouro norte-americano, os demais países (especialmente emergentes) serão obrigados a subirem seus respectivos prêmios de risco (alta dos juros), a fim de manter a atratividade de seus ativos e impedir uma fuga em massa de capitais.
Pra mim isso é o início de um perigoso bull market das taxas de juros globais. O movimento ganhará mais consistência quando a Federal Funds Rate começar a subir nos Estados Unidos, o que pode acontecer já no próximo ano, a depender da velocidade de retomada da inflação deles.
Isso significa que não podemos chegar em 2015 com a inflação doméstica distante do centro da meta, oscilando neste patamar de 6% ou mais. Juntaria a pressão externa extremamente delicada (que não controlamos, e, portanto, não podemos fugir do impacto) com a pressão interna (que poderíamos controlar e, portanto, reduzir o potencial de impacto). Se o Banco Central, ou quem quer que seja no governo, não abrir o olho enquanto é tempo, podemos cair numa crise de juros sem precedentes. Isso sim é uma tempestade perfeita.
O que eu acho o máximo é que, justamente aqueles que criticam o mercado e seus ganhos, são os reais causadores do desastre de uma nação e do lucro dos "especuladores".
Nasinários.
Vide Argentina, Venezuela e Cuba. Para entrarem nos eixos e começarem a colherem bons frutos são necessários mais 20 anos,…
O Brasil dos anos 80 e 90.
Realmente, o mercado financeiro não sofre por politicas econômicas estúpidas, pois, aumenta-se o ganho sem ter que suar tanto a camisa e sem arriscar o capital, em investimento produtivo (argh!).
E é assim, quando os que governam se encontram entre o vexame e o fracasso, que a língua, labareda acusatória e caluniadora sobre a responsabilidade alheia indevida, alcança o clímax da ferocidade.
É o padrão comportamental repetitivo humano, de Adão aos dias atuais.
Temos que torcer e muito para, no curto prazo, 1 a 3 anos, não termos que regredir ao patamar 'junkie', ou seja, sem o grau de investimento.
A geração "nem-nem-nem" e "os dependentes dos 'bolsas-cipó'" ficariam irascíveis, com certeza. Outro estúpido socialista, metido a "comuna", poderia ser guindado ao poder, e isto, não seria bom para a democracia.
Distante, porém, percebido; improvável, contudo, possível.
Eu é que não ressono em berço esplêndido.
Ângelo.
Alexandre, você deveria ter se definido como realmente é:
Economista que estudou
Seria uma resposta provocativa e não menos correta.
É isso aí, Alex. Acho que já passou da hora de por um fim neste costumeiro pisar em ovos ao falar o que precisa ser dito.
O tom nas respostas é de uma assertividade que vai chocar os espíritos mais sensíveis. Mas que se danem. É preciso não ter medo de dizer com clareza o que muita gente pensa mas não tem coragem de falar.
Prepare-se. Depois desta acho que você certamente será promovido a comandante nessa tal de "guerra psicológica" contra o Brasil. 🙂
Abs.
A questão dos juros alto é causa, e não consequencia
Os poupadores, principal sacrificado nos últimos anos, ao contrário do que a esquerdopatia prega, eles não são demônios burgueses rentistas exploradores, mas a base de qualquer sistema sustentável.
A ideologia cegou aquela gente.
Estão colhendo crescimento baixo, inflação e crescente agitação social. Vai dar merda! (vide Argentina)
Só estou esperando o momento "farei o que for preciso para conter a inflação, usaremos a política monetária" do BC…
Maradona
Ao Jorge … faltou na lista, topo:
1. PRIVATIZAR A PETROBRáS
Uma boa adicao, renato.
A Petro passou de uma das top 3 petroleiras globais para uma vergonha com risco de credito – sem falar que o controle exacerbado dos precos da gasolina quebraram muitas usinas com decadas de existencia, que haviam aguentado uns 4 ou 5 planos economicos ao longo de suas vida.
Jorge, vide Argentina que ha dois anos provavelmente era o seu modelo de desenvolvimento para sanar suas duvidas.
A cagada se faz agora muito mais evidente – veja o que a Turquia fez para segurar a Lira (bem ao estilo Lombard Street). Se o Brasil tivesse feito a sua tarefa de casa e tivesse com o fiscal certinho, hoje estaria numa posicao melhor para oferecer o credito que vai minguar com a fuga de capital dos emergentes… foi ciclico ao dizer que era anticiclico e vai ser ciclico quando devia ser anticiclico.
Sr. Alexandre,
Acho que na entrevista, assim como nos seus artigos, falta uma análise mais profunda sobre a situação da indústria.
Por exemplo, em entrevista ao Estadão, o Prof. Delfin disse: “De 2002 a 2008, tinha um excedente de exportação de manufaturados de US$ 120 bilhões. Depois, virou um déficit de uns US$ 170 bilhões. Ou seja, na verdade, a valorização do câmbio roubou quase US$ 300 bilhões de dólares de demanda do setor industrial. Se o sujeito, diante desse roubou, decide investir, é um idiota. (…) Primeiro, a valorização do câmbio foi cortando a exportação, depois, ela foi se acentuado e, também, foi cortando o mercado interno.”.
Os números mostram que a indústria nacional está com capacidade ociosa e produzindo menos do que em 2011.
Esse fato não deveria ser considerado ao formular uma política econômica?
Abs,
O Poeta
Para O Poeta:
Em 2013, a indústria de transformação – que compreende a longa cadeia industrial que transforma matéria-prima em bens de consumo ou em itens usados por outras indústrias- representou apenas 14,6% do PIB.
Patamar menor só em 1956, quando a indústria respondeu por 13,8% do PIB. De lá para cá, a indústria se diversificou, mas seu peso relativo diminuiu. O auge da contribuição da indústria para a geração de riquezas no país ocorreu em 1985: 27,2% do PIB. Desde então, tem caído.
fonte (para não dizer que .. inventei !): http://www1.folha.uol.com.br/fsp/poder/30194-participacao-da-industria-no-pib-recua-aos-anos-jk.shtml
>>> Precisa comentar mais ??
O modelo de crescimento economico, rigor tributário e fiscal de los Hermanos:
"Governo argentino ameaça fechar loja que subir preço, diz jornal. Controle deve ser maior nos supermercados, nos quais vigora uma lista de 194 itens com preços congelados até março"
leia aqui: http://economia.terra.com.br/governo-argentino-ameaca-fechar-loja-que-subir-preco-diz-jornal,beba210f0cdd3410VgnVCM10000098cceb0aRCRD.html
Renato (10:42)
Próximo passo de Cristina, a "Loca"..
"Vamos a cazar el ganado en los pastos"
Galego ….
"… Com crise cambial, desabastecimento chega a 46% em mercados argentinos …"
Leia mais: http://oglobo.globo.com/economia/com-crise-cambial-desabastecimento-chega-46-em-mercados-argentinos-11433683#ixzz2rnHlgT1n
>> daqui a pouco, o governo argentino firma convenio com o brasileiro que enviará para lá os Fiscais do Sarney, (O jorge, do 1o. post, acho, nem era nascido…) hoje aposentados mas que devem estar torcendo por um empreguinho público para aumentar a renda familiar – lamentável !! Isso, é o brasil em 2020, se nada mudar, aguardem !!
Renato,
Vc tem que tomar cuidado na série de participação da indústria no PIB, pois houve mudanças nas contas nacionais.
Inclusive tem um post aqui no blog falando sobre isso. Se não me engano é extamente descendo a lenha no Orelha.
É esse aqui:
http://maovisivel.blogspot.com.br/2009/12/o-sobre-desindustrializacao.html
O "O" e o Alex como sempre com posts didáticos e excelentes hehehehe
Os caras estudaram e estudam.
Abs
E com isso, NTN-B Principal a 7,15%. Vamos comprar!
Alex,
O pior é que na capa da publicação aparece a chamada para a reportagem do Nersão, e pelo visto ele só falou besteira.
Abs.
A impressão que eu tenho é que o discurso que eu faço não tem a menor ressonância na sociedade brasileira. As pessoas querem o que estamos vendo, de preferência com inflação mais baixa.
Pode ter certeza que há sim ressonancia, muita gente inteligente e rica le isso aqui.
Alex,
Não sou economista. Sou um leitor assíduo do seu blog, justamente para aprender um pouco sobre economia. Achei excelente a sua entrevista. Tenho uma questão sobre o trecho em que vc escreveu o que vai abaixo:
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"A demanda interna sobe mais rápido do que o PIB (…) o setor industrial cresce pouco, mas a demanda maior, em última análise, vira aumento de importação."
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Tenho lido que a utilização da capacidade instalada da indústria está em 80%, o que teria espaço para ela crescer. Então, a minha pergunta (de leigo) é: por que a indústria não cresce? Se alguém quiser me responder, agradeço!
… LP: ôpa, li lá – obrigado pelo artigo, mensagens !
TErtuliano, um aopinião de um outro não-economista: Crescer ? Prá que ? Para pagar mais impostos e ficar passivel de mais fiscalização trabalhista e encargos ? E o investimento para se poder crescer, vem de onde se apenas as escolhodas do rei conseguem financimentos e desonarações de pai-prá-filho ?(isso sem falar na curva demanda x oferta, que implica um ponto ótimo que fora deste não adianta teimar com a matemática-economica…)
"Tenho lido que a utilização da capacidade instalada da indústria está em 80%, o que teria espaço para ela crescer."
Na verdade 82%, mas isto não quer dizer que o limite seja 100%, assim como limite do desemprego não é 0%.
Da mesma forma que há uma taxa "natural" de desemprego, há um NUCI "natural", que não é muito diferente dos níveis observados. Ou seja, também no que diz respeito ao NUCI estamos esticando a corda (mas menos do que no mercado de trabalho).
"…"Tenho lido que a utilização da capacidade instalada da indústria está em 80%, o que teria espaço para ela crescer."
Na verdade 82%, mas isto não quer dizer que o limite seja 100%, assim como limite do desemprego não é 0%.
Da mesma forma que há uma taxa "natural" de desemprego, há um NUCI "natural", que não é muito diferente dos níveis observados. Ou seja, também no que diz respeito ao NUCI estamos esticando a corda (mas menos do que no mercado de trabalho)…"
Um pequeno comentário (em especial aos não-economistas). Qualquer índice é uma aproximação maior ou menor (mal feita ou não) da realidade.
Lembro que recentemente, descobriram uma menina que tirou uma nota de QI maior que a de Einstein. E um tanto de gente (ela própria) dizendo que não sabia que ela era tão inteligente! Outros casos (mais corriqueiros) são meninas que mostram determinada fotografia (delas mesmas) para provar que são bonitas. Ambos os casos são engraçados porque a realidade está ali, não precisamos de indicadores para identificá-las, mas como os indicadores sairam melhor que a realidade, esquece-se a realidade (a menina ser inteligente ou não seá definido pelo contato com ela, a menina ser bonita ou não será definido ao olhar para a menina).
Esta grande introdução é para falar sobre índices de desemprego (principal restrição atual para aumento da produção). Difícil definir o que é ou não pleno emprego. Mas veja sua experiência profissional. Está fácil contratar um pedreiro? Caso você consiga, o preço pago é alto (e crescente) ou não? É fácil substituir mão-de-obra em seu negócio? Ou a substituição será por trabalhador pior e mais caro? É isto.
Saudações
Obrigado!
No Brasil, de acordo com o senhor:
“há um NUCI "natural", que não é muito diferente dos níveis observados. Ou seja, também no que diz respeito ao NUCI estamos esticando a corda.”
Em uma Galáxia distante, de acordo com a CNI (fonte Veja On Line): “Produção industrial cai 3,5% em dezembro: pior resultado em 5 anos. Já no acumulado do ano passado, houve avanço de 1,2%, insuficiente para recuperar as perdas registradas em 2012, de 2,5%”
“Esticando a corda” com crescimento negativo no acumulado dos últimos dois anos?
Abs,
O Poeta
Pelo seu raciocínio um cara que perdeu 1 kg nos últimos 2 anos está magro independente de quanto pesava no início do processo.
Sr. Alexandre,
“Pelo seu raciocínio um cara que perdeu 1 kg nos últimos 2 anos está magro independente de quanto pesava no início do processo.”
Bem colocado. Eu deveria ter analisado o nível de produção no início do processo e não assumir que era o nível médio.
Obrigado,
O Poeta.
Não é o nível da produção, mas da UCI