Falta de vacina. Por Meraldo Zisman
— SERÁ ESSE NOSSO ÚNICO PROBLEMA? —
Quando imaginariam os ecônomos que a pandemia causada pelo Sars- Cov2 seria capaz de lançar tantas desgraças entre as populações dos países apelidados de “em desenvolvimento”?
Projeções feitas pelo Fundo Monetário Internacional sugerem que em países chamados de “em desenvolvimento”, sobretudo Índia e Brasil, houve um espantoso aumento no coeficiente de morbimortalidade, atribuída ao coronavírus e suas mutações.
Na época pré-pandemia, estudos afirmavam que os países ditos em desenvolvimento levariam mais de 170 anos para reduzir pela metade a diferença entre sua renda e aquela dos países ricos.
Na década de 2005 a 2015, um hiato diminuiu a lacuna entre os países pobres e ricos, redução essa causada em parte pela desaceleração das economias do Primeiro Mundo, talvez em consequência da aceleração do desenvolvimento da China. Essa virada causou enormes consequências na geopolítica mundial e sabe-se lá quantas mudanças futuras. No fim do século passado e no início deste, o aumento dos preços das commodities pôde dar um alento maior aos afortunados exportadores de recursos naturais: algodão, lã, carne, couro, peixes, soja e distintos grãos. No entanto, esse recente crescimento não reduziu muito a dependência do mundo pobre, que continua à mercê – cada vez mais – das benevolências do mundo rico, como demonstra agora uma lacuna enorme nas taxas de vacinação.
O rápido crescimento ocorrido no fim do século passado encorajou os governos do mundo rico a ver os países em desenvolvimento mais como mercados lucrativos ou rivais estratégicos do que como casos de beneficência (ato, prática ou virtude de fazer o bem, de beneficiar o próximo; bem-fazer, filantropia).
A verdade é que os lugares pobres continuam mais vulneráveis às crises, com ou sem pandemias. E cada golpe – imprevisto ou previsto – impede o crescimento estável desses países, que já se encontram na rabeira mundial.
Será que o problema se resume apenas à falta de vacinas?
Quem sabe os obstáculos que enfrentamos sejam mais relacionados com uso ou não da cloroquina, ou de outras medicações assemelhadas no tratamento dos pacientes afetados pelo vírus? Perguntar não é pecado. Fica aqui minha indagação. A pergunta feita traz em seu bojo metade da resposta.
___________________________________________________________
Meraldo Zisman – Médico, psicoterapeuta. É um dos primeiros neonatologistas brasileiros. Consultante Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha). Vive no Recife (PE). Imortal, pela Academia Recifense de Letras, da Cadeira de número 20, cujo patrono é o escritor Álvaro Ferraz.
Ótimo artigo, Dr. Meraldo. Pois é! O problema não é, somente, fazer questões, mas, compreender, a quem, de verdade, interessa não vacinar?Como mãe de cinco filhos, vacinei-os por saber que, não existe remédio para sarampo, catapora ou coqueluche! Existem as vacinas, que as minimizam, claro, sob a sua batuta, como médico deles. Muito obrigada.
queridona!