“Pessidilma”

Por que não conseguimos
trazer a inflação de volta à meta? Simplesmente porque o governo federal não quer,
fato aparente em suas repetidas mostras de satisfação com uma taxa que não
ultrapasse o limite superior permitido, 6,5%.
Há pouco, por exemplo,
a presidente afirmou que “a inflação tenderá para o centro da
meta a partir de novembro ou dezembro
”, mesmo reconhecendo que fechará o ano
apenas pouco abaixo do nível crítico. Esta fala isoladamente não significa
muito, mas afirmações como esta abundam, não apenas no discurso presidencial,
mas também no que se refere a praticamente todas as autoridades econômicas. O
próprio BC, supostamente o responsável pela manutenção da inflação próxima à
meta, comemorou acintosamente até quando a inflação ficou exatamente em 6,5%
(em 2011).
Como de hábito, a culpa
é sempre dos outros: a seca, a chuva, a safra, os EUA, a China, o câmbio ou o
“Pessimildo”; jamais resultado do manejo inadequado de política econômica,
manifesto na visível piora das contas públicas, assim como de uma política
monetária temerária, que reduziu a taxa de juros mesmo em face de inflação alta
e crescente.
E, como sempre, a promessa
é de queda da inflação no ano que vem, ou no próximo. A convergência lenta, às
vezes “não-linear”, e nunca verdadeira, é geralmente justificada como uma tentativa de
preservar o nível de atividade. Na prática, porém, independentemente de termos
registrado inflação média superior a 6% ao ano nos últimos quatro anos, o país
chega ao fim deste período com crescimento medíocre, inferior a 2% ao ano e muito
próximo de zero em 2014.
E nem adianta
argumentar que as coisas teriam sido ainda piores caso houvesse um esforço para
conter a inflação. Como se sabe, a relação negativa entre crescimento e
inflação só existe em prazos curtos; ao longo de quatro anos teria sido
possível trazer a inflação de volta à meta a tempo de retomar o crescimento e
compensar qualquer perda de produto, ainda mais porque, até 2011, o BC ainda
dispunha da credibilidade herdada de gestões anteriores.
A verdade é que o
descaso com o problema tem agravado a questão do crescimento. Nem tanto porque
uma taxa de inflação na casa de 6% produza, por si só, um estrago muito maior
do que uma taxa de 4,5%, mas sim por conta das tentativas desastradas de lidar
com a alta de preços por meio de intervenções diretas na economia.
O congelamento do preço
da gasolina, por exemplo, teve forte impacto negativo na capacidade de
investimento da Petrobras. Adicionalmente, “amassou” o setor de açúcar e
álcool, dando uma lição inesquecível àqueles que acreditaram nas palavras do
governo acerca do futuro de biocombustíveis. Já a intervenção no setor elétrico
deve ter liquidado qualquer fiapo de confiança acerca do respeito às regras do
jogo.
Não é por outro motivo
que o investimento, como já destacado neste espaço, apresenta quatro trimestres
consecutivos de queda, recuando a níveis observados pela última vez em 2007.
Da mesma forma, para
evitar que a inflação se cristalize acima do limite permitido, o BC tem feito
pesadas intervenções no mercado de câmbio, afetando negativamente nossas
exportações.
Em outras palavras, a
falta de disposição para combater a inflação e a aceitação tácita que bastaria
mantê-la levemente abaixo do limite superior para poder decretar vitória nos
colocaram numa situação delicada. Para evitar chegar a patamares superiores ao
permitido no fim deste ano, o governo recorreu a controles de preços e câmbio,
com consequências adversas para nosso crescimento.
A culpa, portanto, não
é do “Pessimildo”, mas da “Pessidilma”, a gestora iluminada que,
por sua conta e risco, abandonou o bem-sucedido regime macroeconômico que nos
assegurava a estabilidade, obtendo em troca inflação alta e crescimento risível,
uma combinação verdadeiramente inigualável. Vai para o trono ou não vai?
(Publicado 24/Set/2014)

20 thoughts on ““Pessidilma”

  1. Alex, existem estimativas de quanto as pedaladas, antecipação de lucros da petrobras e todos os tipos de contabilidade criativa do governo estão melhorando as contas públicas no curto prazo ? Digo em 2012, 2013.

  2. "Talvez seria melhor na época que a turma do FMI a cada três meses vinha a Brasília e determinava o rumo a ser tomado…."

    O povo unido
    Jamais será vencido!

    Fora daqui FMI!

    O petróleo é nosso!

    Privatização não!

    Tá bom de clichê ou precisa um pouco mais?

  3. Vou ser muito sincero. A-d-o-r-o inflação!! Nos 2-3% a.m. é o ideal!! Aplica-se o dinheiro, e retira-se o rendimento para despesas de custeio diversas, deixando o saldo restante para render em regime de juros compostos; Inflação baixa, essa sim, pune o poupador.

  4. A merd@ é ver que todos os candidatos querem as pessoas escravas ao Estado. Só tem socialista candidato. Socialismo é roubo, mesmo estando na constituição (de 88, a versão aperfeiçoada de Getulio Vargas).

    E, mandem avisar lá aos 'experts' da equipe do PSDB. Precisam entender que o ílicito legalizado é ilícito do mesmo jeito.

  5. Acho que por contrato vc não pode comentar, fica pra próxima semana, mas…irmão perverso do Luca Pacioli foi uma de suas maiores tiradas desde que te acompanho!

  6. Mercadante com Armínioo Fraga é como colocar hj o Maguila contra o Cigano no UFC… Ultrapassado, sem preparo, com recursos de dar dó…

  7. Legal mesmo será hoje na Globonews o embate entre Armínio Fraga e Guido Mantega, vulgo, coelho da Mônica. A Mônica vocês deduzam quem possa ser…

  8. O Arminio foi muito sossegado contra o Mantega. Esperava mais porrada. Mas a diferença de postura dos dois era gritante… O Mantega repetindo a cantilena do Pt e o Armínio sossegado, sem nada a explicar…

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