Paradoxos heterodoxos
A economia não cresce;
apesar disto o desemprego tem caído, atingindo 5% em agosto nas seis regiões
metropolitanas pesquisadas pelo IBGE, que correspondem a pouco mais de um
quinto do emprego no país. Trata-se do menor registro para o mês desde que
estas estatísticas começaram a ser coletadas, o que, aliás, tem sido verdade em
todos os meses deste ano. Em que pesem questões específicas destas regiões, o
resultado desafia o senso comum: como é possível a redução do desemprego em
face da economia estagnada?
apesar disto o desemprego tem caído, atingindo 5% em agosto nas seis regiões
metropolitanas pesquisadas pelo IBGE, que correspondem a pouco mais de um
quinto do emprego no país. Trata-se do menor registro para o mês desde que
estas estatísticas começaram a ser coletadas, o que, aliás, tem sido verdade em
todos os meses deste ano. Em que pesem questões específicas destas regiões, o
resultado desafia o senso comum: como é possível a redução do desemprego em
face da economia estagnada?
O resultado se torna
menos paradoxal quando examinamos o número mais de perto. Nessas regiões o
emprego não cresceu; muito pelo contrário, caiu nos oito meses deste ano,
registrando em agosto redução de 85 mil postos de trabalho na comparação com o
mesmo mês do ano passado. Este comportamento é consistente com o que seria
natural no caso de uma economia cujo crescimento deve ficar ao redor de zero.
menos paradoxal quando examinamos o número mais de perto. Nessas regiões o
emprego não cresceu; muito pelo contrário, caiu nos oito meses deste ano,
registrando em agosto redução de 85 mil postos de trabalho na comparação com o
mesmo mês do ano passado. Este comportamento é consistente com o que seria
natural no caso de uma economia cujo crescimento deve ficar ao redor de zero.
Fica claro, portanto,
que a evolução positiva do desemprego em 2014 não se deve ao desempenho
favorável do emprego, mas sim a desenvolvimentos que afetam a oferta de
trabalhadores.
que a evolução positiva do desemprego em 2014 não se deve ao desempenho
favorável do emprego, mas sim a desenvolvimentos que afetam a oferta de
trabalhadores.
Parte da história
reflete a demografia. Há 10 anos a população em idade ativa (PIA) crescia perto
de 2% ao ano; hoje o crescimento oscila de 1% a 1,5% ao ano. Isto, porém, não
explica o aparente paradoxo: mesmo este ritmo mais modesto de crescimento da
PIA supera por larga margem a expansão (negativa!) do emprego. Com mais pessoas
chegando ao mercado de trabalho do que empregos sendo gerados, o natural seria
observarmos desemprego crescente.
reflete a demografia. Há 10 anos a população em idade ativa (PIA) crescia perto
de 2% ao ano; hoje o crescimento oscila de 1% a 1,5% ao ano. Isto, porém, não
explica o aparente paradoxo: mesmo este ritmo mais modesto de crescimento da
PIA supera por larga margem a expansão (negativa!) do emprego. Com mais pessoas
chegando ao mercado de trabalho do que empregos sendo gerados, o natural seria
observarmos desemprego crescente.
O que tem ocorrido,
porém, é uma redução persistente da fração da PIA engajada no mercado de
trabalho (a população economicamente ativa, PEA, ou força de trabalho), seja
trabalhando, seja na busca por empregos. Entre 2003 e 2013 a PEA foi
equivalente em média a 57% da PIA, proporção que hoje se reduziu para pouco
menos de 56%.
porém, é uma redução persistente da fração da PIA engajada no mercado de
trabalho (a população economicamente ativa, PEA, ou força de trabalho), seja
trabalhando, seja na busca por empregos. Entre 2003 e 2013 a PEA foi
equivalente em média a 57% da PIA, proporção que hoje se reduziu para pouco
menos de 56%.
Parece uma queda
pequena, mas não é. Caso a PEA em agosto deste ano atingisse a mesma proporção
registrada um ano antes, o total de pessoas engajadas no mercado de trabalho
seria algo da ordem de 24,8 milhões; na prática, porém, apenas 24,3 milhões de
pessoas participavam dele, uma diferença de quase 500 mil pessoas.
pequena, mas não é. Caso a PEA em agosto deste ano atingisse a mesma proporção
registrada um ano antes, o total de pessoas engajadas no mercado de trabalho
seria algo da ordem de 24,8 milhões; na prática, porém, apenas 24,3 milhões de
pessoas participavam dele, uma diferença de quase 500 mil pessoas.
Vista por outra ótica,
entre agosto de 2013 e agosto de 2014 a força de trabalho encolheu em 160 mil
pessoas, quase o dobro da queda do emprego no período. É este desenvolvimento
que explica a redução do desemprego apesar da produção e do emprego estagnados.
entre agosto de 2013 e agosto de 2014 a força de trabalho encolheu em 160 mil
pessoas, quase o dobro da queda do emprego no período. É este desenvolvimento
que explica a redução do desemprego apesar da produção e do emprego estagnados.
Não é claro o que
causou este fenômeno. Ele parece mais pronunciado na faixa etária de 18 a 24
anos e pode resultar tanto da busca por maior qualificação por parte dos jovens
(que teriam se afastado do mercado para estudar), como do aumento da “geração nem-nem” (nem trabalha, nem
estuda). Muita gente boa tem queimado as pestanas para entender o que ocorre.
causou este fenômeno. Ele parece mais pronunciado na faixa etária de 18 a 24
anos e pode resultar tanto da busca por maior qualificação por parte dos jovens
(que teriam se afastado do mercado para estudar), como do aumento da “geração nem-nem” (nem trabalha, nem
estuda). Muita gente boa tem queimado as pestanas para entender o que ocorre.
Embora o debate sobre
as origens do fenômeno seja de interesse por si só, prefiro destacar aqui uma
conclusão que me parece pouco notada. Se há menos gente disposta a trabalhar
(por bons ou maus motivos), nossa própria capacidade produtiva deve ser menor
do que imaginávamos.
as origens do fenômeno seja de interesse por si só, prefiro destacar aqui uma
conclusão que me parece pouco notada. Se há menos gente disposta a trabalhar
(por bons ou maus motivos), nossa própria capacidade produtiva deve ser menor
do que imaginávamos.
Em números, com a
produtividade crescendo ao redor de 0,7% ao ano, enquanto a força de trabalho
encolhe em magnitude parecida, nossa capacidade atual de crescimento não deve
ser muito diferente de zero. Isto, contudo, não deve ser persistente, já que em
algum momento a força de trabalho voltará a crescer em linha com a população.
produtividade crescendo ao redor de 0,7% ao ano, enquanto a força de trabalho
encolhe em magnitude parecida, nossa capacidade atual de crescimento não deve
ser muito diferente de zero. Isto, contudo, não deve ser persistente, já que em
algum momento a força de trabalho voltará a crescer em linha com a população.
Ainda assim, este desenvolvimento
parece explicar a resistência da inflação mesmo em face do baixíssimo
crescimento deste ano, o que ajuda a esclarecer mais uma aparente anormalidade
brasileira. Trata-se apenas de mais uma das contas que pagamos pelo descaso com
a produtividade em nome da “nova matriz macroeconômica”, cuja obsessão com a
expansão do consumo e com o microgerenciamento da economia minou as bases do
crescimento sustentado.
parece explicar a resistência da inflação mesmo em face do baixíssimo
crescimento deste ano, o que ajuda a esclarecer mais uma aparente anormalidade
brasileira. Trata-se apenas de mais uma das contas que pagamos pelo descaso com
a produtividade em nome da “nova matriz macroeconômica”, cuja obsessão com a
expansão do consumo e com o microgerenciamento da economia minou as bases do
crescimento sustentado.
A lugar algum |
(Publicado 08/Out/2014)
Ola Alexandre
Ha evidencia de que o salario dos jovens de 18 a 24 anos que trabalham tenha aumentado?
O maior paradoxo "heterodoxo" e economistas como Krugman,o ganhador atual do Nobel de economia ganharem prêmios escrevendo teses Keynesianas,defendendo teses de falha de mercado.
Por favor Alexandre comente esse manifesto:
http://manifestoprofessoresufabcdilma.wordpress.com/
O que eu mais gosto é que são usados valores nominais…
"Ha evidencia de que o salario dos jovens de 18 a 24 anos que trabalham tenha aumentado?"
Não vi dados a este respeito; se há evidência, desconheço.
Aparentemente ninguém lá sabe corrigir valores nominais pela inflação…
Pow, mas é difícil né? …
Houve um aumento de vagas em universidades e um grande aumento de instituições do ensino técnico federal. Isso poderia ter algum impacto: mais jovens optando pelo ensino e postergando sua entrada no mercado de trabalho?
Prezado Alex,
Estes estudos captam a migração do mercado de trabalho da carteira assinada para PJ?
Com a recente mudança legal, estão se criando milhares de MEIs em todo o BR.
Alex: alguém já pensou em analisar a correlação com o aumento da taxa de encarceramento e/ou uso de drogas pesadas (crack), que é preponderante na faixa mais jovem da população?
Alex,
Se os jovens estão se retirando principalmente para estudar (vide Pronatec com 4 milhões de inscritos, FIES com mais de 300 mil matriculados, etc) , então o impacto contracionista sobre a capacidade produtiva é algo de curto prazo.
No longo prazo, o acúmulo de capital humano pode mais do que compensar a queda da participação (ou pelo menos aliviar o impacto da queda da participação).
Aliás, se o maior engajamento com estudos for algo permanente, então é possível que haja um efeito permanente na redução da taxa de participação (o que poderia ser testado via quebra estrutural nessa variável tradicionalmente estacionária).
O que acha?
Economista X