Vida em Tlön
Às vezes, na verdade
quase sempre – o “quase” apenas para acomodar alguma exceção desconhecida –
tenho a impressão que nossos “keynesianos de quermesse” habitam uma dimensão à
parte (a Dimensão Z), onde os fatos se acomodam às crenças, permitindo que o
voluntarismo mais primitivo se estabeleça como ideologia hegemônica.
quase sempre – o “quase” apenas para acomodar alguma exceção desconhecida –
tenho a impressão que nossos “keynesianos de quermesse” habitam uma dimensão à
parte (a Dimensão Z), onde os fatos se acomodam às crenças, permitindo que o
voluntarismo mais primitivo se estabeleça como ideologia hegemônica.
Veja-se, por exemplo, o
manifesto publicado por
luminares da quermesse nacional, defendendo a manutenção da atual política
econômica. Não bastasse reivindicar para si o monopólio do desenvolvimento com
inclusão social – como se todos os demais economistas favorecessem a decadência
econômica com piora da distribuição de renda –, os signatários do documento
levam às raias do extremismo a distância entre o mundo como ele é e a realidade
como reflexão distorcida de uma mentalidade peculiar.
manifesto publicado por
luminares da quermesse nacional, defendendo a manutenção da atual política
econômica. Não bastasse reivindicar para si o monopólio do desenvolvimento com
inclusão social – como se todos os demais economistas favorecessem a decadência
econômica com piora da distribuição de renda –, os signatários do documento
levam às raias do extremismo a distância entre o mundo como ele é e a realidade
como reflexão distorcida de uma mentalidade peculiar.
A declaração é um
repúdio às políticas de austeridade, não apenas no que se refere à política
monetária, mas principalmente no que diz respeito à política fiscal. O mau
desempenho econômico dos países desenvolvidos é apontado como resultado da
redução da despesa pública, enquanto se sugere que a elevação dos gastos governamentais
no Brasil nos faria retomar o crescimento.
repúdio às políticas de austeridade, não apenas no que se refere à política
monetária, mas principalmente no que diz respeito à política fiscal. O mau
desempenho econômico dos países desenvolvidos é apontado como resultado da
redução da despesa pública, enquanto se sugere que a elevação dos gastos governamentais
no Brasil nos faria retomar o crescimento.
Trata-se de
impressionante incapacidade de distinguir os problemas brasileiros daqueles
enfrentados por alguns países desenvolvidos, notadamente na periferia europeia.
impressionante incapacidade de distinguir os problemas brasileiros daqueles
enfrentados por alguns países desenvolvidos, notadamente na periferia europeia.
Lá o desemprego é alto
e a inflação se encontra muito abaixo da meta. Na Espanha, por exemplo, o primeiro
segue acima de 20% e a segunda (medida ao longo de 12 meses) tem ficado em
terreno negativo, situação semelhante à enfrentada por Portugal e Itália, onde
o desemprego, embora menor, permanece na casa de dois dígitos, enquanto a
inflação se mantém abaixo de zero. Na verdade, como sabe qualquer um que tenha
se dignado a olhar os números, o maior risco hoje enfrentado na Zona do Euro é
a ameaça de deflação.
e a inflação se encontra muito abaixo da meta. Na Espanha, por exemplo, o primeiro
segue acima de 20% e a segunda (medida ao longo de 12 meses) tem ficado em
terreno negativo, situação semelhante à enfrentada por Portugal e Itália, onde
o desemprego, embora menor, permanece na casa de dois dígitos, enquanto a
inflação se mantém abaixo de zero. Na verdade, como sabe qualquer um que tenha
se dignado a olhar os números, o maior risco hoje enfrentado na Zona do Euro é
a ameaça de deflação.
Deveria ser óbvio, mas,
como aparentemente não se trata do caso, noto que o problema no Brasil é
diametralmente oposto. A inflação se encontra não apenas (bem) acima da meta,
4,5%, é bom lembrar, como nos últimos meses tem atingido além do limite máximo
de tolerância. É formidável que, mesmo à luz disto, os luminares insistam na
afirmação furada que “a inflação (…) manteve-se dentro (sic) da meta no
governo Dilma Rousseff”.
como aparentemente não se trata do caso, noto que o problema no Brasil é
diametralmente oposto. A inflação se encontra não apenas (bem) acima da meta,
4,5%, é bom lembrar, como nos últimos meses tem atingido além do limite máximo
de tolerância. É formidável que, mesmo à luz disto, os luminares insistam na
afirmação furada que “a inflação (…) manteve-se dentro (sic) da meta no
governo Dilma Rousseff”.
Não bastasse isto nosso
desequilíbrio externo se encontra na casa de US$ 85 bilhões (3,5% do PIB) nos
12 meses terminados em setembro, indicando que a demanda interna supera nossa
produção, em contraste com superávits nas contas externas observados na
periferia europeia.
desequilíbrio externo se encontra na casa de US$ 85 bilhões (3,5% do PIB) nos
12 meses terminados em setembro, indicando que a demanda interna supera nossa
produção, em contraste com superávits nas contas externas observados na
periferia europeia.
É, portanto, notável, embora
nada surpreendente, que a conclusão da quermesse seja sempre a mesma (“vamos aumentar
o gasto público!”) independentemente da natureza do problema.
nada surpreendente, que a conclusão da quermesse seja sempre a mesma (“vamos aumentar
o gasto público!”) independentemente da natureza do problema.
Diga-se, aliás, que
esta postura diminui em muito a credibilidade da promessa de “iniciativas
contracionistas (…) para quando a economia voltar a crescer”, mas, justiça
seja feita, estas vozes também se calaram quando o país crescia forte e o
governo seguia com o pé no acelerador fiscal. Sua coerência em sempre pedir
mais despesa é legendária.
esta postura diminui em muito a credibilidade da promessa de “iniciativas
contracionistas (…) para quando a economia voltar a crescer”, mas, justiça
seja feita, estas vozes também se calaram quando o país crescia forte e o
governo seguia com o pé no acelerador fiscal. Sua coerência em sempre pedir
mais despesa é legendária.
A verdade é que esta
visão, embora se coloque como “alternativa”, predominou nos últimos quatro
anos. O arranjo de política econômica, caracterizado por gastos crescentes,
redução “na marra” das taxas de juros, intervenção no mercado de câmbio e
ativismo injustificável no domínio econômico, foi, sem tirar nem por,
exatamente aquilo por que clamaram anos a fio os autodenominados
“desenvolvimentistas”.
visão, embora se coloque como “alternativa”, predominou nos últimos quatro
anos. O arranjo de política econômica, caracterizado por gastos crescentes,
redução “na marra” das taxas de juros, intervenção no mercado de câmbio e
ativismo injustificável no domínio econômico, foi, sem tirar nem por,
exatamente aquilo por que clamaram anos a fio os autodenominados
“desenvolvimentistas”.
Os resultados estão aí:
crescimento pífio, inflação acima da meta (não “dentro” dela), desequilíbrios
externos, estagnação da produtividade e, agora sabemos, também retrocesso no campo das conquistas
sociais.
Engana-se, porém, quem acreditar que o fracasso retumbante poderia lhes ensinar
alguma coisa; o manifesto da semana passada é prova disto.
crescimento pífio, inflação acima da meta (não “dentro” dela), desequilíbrios
externos, estagnação da produtividade e, agora sabemos, também retrocesso no campo das conquistas
sociais.
Engana-se, porém, quem acreditar que o fracasso retumbante poderia lhes ensinar
alguma coisa; o manifesto da semana passada é prova disto.
(Publicado 12/Nov/2014)
Alex, um comentário recorrente dessa trupe é que política de contração fiscal não é expansionista. Logo, diminuir gastos e até mesmo aumentar a taxa de juros (política monetária restritiva) não garantem a retomada do crescimento e, além disso, podem inibir investimentos. Outro argumento é que a relação empírica entre o tripé macroeconômico e crescimento é inconclusiva. Enfim, a pergunta é: até onde vai a dita "ciência" econômica? Particularmente, acho bom o dissenso, já que tenho certa simpatia com a frase que afirma que todo unanimidade é burra. abs
"os fatos se acomodam às crenças"
uma boa analogia, os sabios economistas da nova matriz atacando seus gigantes (moinhos)…
Pronto agora o senhor não tem do que reclamar:Joaquim Levy para a área fiscal.
Só não vale chorar porque vai ser escolhido um "Chicago Boy" para a área fiscal.
Lembrando que os liberais de Chicago jamais defenderiam posições que o SR defende no caso do Japão,uma expansão fiscal adicional,em um pais com endividamento alto.
Fiz especializacao na Unicamp em Economia e ouvi de um professor que foi o Lula quem controlou a inflação. Até hoje fico pensando em como alguém pode ser tao desonesto intelectualmente…