A gulosa fauna engravatada. Por Josué Machado
A GULOSA FAUNA ENGRAVATADA
Por Josué Machado
Não passa de sonho esperar que os sanguessugas fechem as veias e artérias que sugam com avidez cada vez maior.
Alguns sábios analistas e cientistas políticos insistem na tese de que os eleitores são os culpados pela magnífica fauna aglomerada nos palácios executivos, legislativos e judiciários.
Convém lembrar que todos os espécimes por lá reunidos recebem ótimos salários recheados por muitos penduricalhos oficiais, fora do alcance da lei com seu foro privilegiado e fora o inconfessável e indevassável “por fora”.
Culpa dos eleitores?
Será?
Quem é que prepara as listas com os nomes dos candidatos aos cargos eletivos ou de confiança?
Não são os políticos os responsáveis pelo sistema?
Por que inscreveriam nas listas nomes de gente sábia e honesta, tão diferente deles? E que gente sábia e honesta quereria se misturar com eles?
As corporações têm de se garantir, não é preciso ser esperto para perceber isso.
É como esperar que os renitentes vendilhões da pátria e do povo se empenhem numa reforma política que lhes restrinja os atuais privilégios. E onde é que ficaria o in$tinto de $obrevivência?
Nem é preciso ser sábio para perceber que jamais – jamais – limitarão seus gordos ganhos, ou eliminarão privilégios como o foro privilegiado, ou limitarão os mandatos a dois consecutivos no máximo, por exemplo.
E jamais tentarão impedir que seres na mira da Justiça – como grande parte deles — sejam impedidos de se eleger.
Sem drama nem moralismo, sabemos todos que política por aki é carreira, é status que se sedimenta com o tempo, assim como a habilidade de “trabalhar” por favore$.
Por que essas criaturas seguiriam o exemplo de políticos como os de Noruega, Dinamarca, Suécia, Islândia, Finlândia, Suíça e adjacências, que servem à população e não se servem da população, como aki?
É esperar demais daquele rico zoológico engravatado que acabou de se reunir para o troca-troca cirandeiro e esperto de cadeiras: mudam de poltrona, mas mantêm o poder.
Há quem pense em solução mais radical, mas, nos limites democráticos, parece que só uma Assembleia Constituinte à parte da fauna lá instalada poderia fazer uma verdadeira reforma política capaz de extirpar privilégios das hienas sugadoras.
A fauna sanguessuga não quer, mas o povo semianestesiado pode querer.
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Josué Rodrigues Silva Machado, jornalista, autor de “Manual da Falta de Estilo”, Best Seller, SP, 1995; e “Língua sem Vergonha”, Civilização Brasileira, RJ, 2011, livros de avaliação crítica e análise bem-humorada de textos torturados de jornais, revistas, TV, rádio e publicidade.