Das quadras para a história. Coluna Mário Marinho
Das quadras para a história
COLUNA MÁRIO MARINHO
Certa vez, já há alguns anos, ouvi excelente palestra de Bernardinho. Depois que abriu para as perguntas, muitas delas técnicas, arrisquei uma pergunta:
– Por que você está sempre preocupado?
Algumas pessoas acharam a pergunta engraçada, algumas risadinhas aqui e ali, mas Bernardinho continuou com aquela cara de poucos amigos. E foi com essa cara que ele me olhou e respondeu:
– Quando eu não estou preocupado, eu fico preocupado.
Embora o auditório todo tenha explodido em sonora gargalhada, ele ficou impassível, cara amarrada.
A ótima frase, que eu não sei se era nova ou não, foi repetida em outras ocasiões e serviu bem para mostrar quem era o Bernardinho: uma pessoa absolutamente centrada no seu trabalho, onde não encontra espaço para coisas supérfluas, como, por exemplo, dar um sorriso.
Bernardo Rocha de Rezende (Rio de Janeiro, 25 de agosto de 1959) é o maior campeão da história do voleibol, com mais de trinta títulos importantes em vinte e dois anos de carreira dirigindo as seleções brasileiras feminina e masculina.
Nesta quarta-feira, 12-01-2017, Bernardinho entregou o cargo de técnico da Seleção Brasileira.
Assim como Pelé que parou no momento certo, no auge, Bernardinho, que é o Pelé dos técnicos, também para pouco depois de ganhar o Ouro nos Jogos Olímpicos do Rio. Parou no topo de pódio.
Sai das quadras e entra para a história. Vira lenda, mito.
Fez parte da geração de prata, a geração que conquistou a medalha de prata na Olimpíada de Los Angeles, em 1984. Era um timaço que tinha: William, Amauri, Badá, Bernard, Bernardinho, Domingos Maracanã, Fernandão, Montanaro, Vinícius, Xandó, Renan Dal Zotto, Rui Campos do Nascimento. O técnico era o também vitorioso Bebeto de Freitas.
Bernardinho defendeu a Seleção Brasileira de 1979 a 1986. Em 1988, quando parou de jogar, começou a carreira de técnico, trabalhando com auxiliar de Bebeto de Freitas. Dois anos depois, treinou a equipe feminina do Perugia, da Itália, e por lá ficou até 1992. No ano seguinte, dirigiu o também italiano Modena. Ao retornar ao Brasil, em 1994, assumiu o comando da Seleção Brasileira feminina.
Bernardinho foi sempre um perfeccionista.
Na palestra a que me refiro no começo da coluna, ele disse outra frase que também espelhava bem o seu perfil:
– A vontade de treinar tem que ser tão grande quanto a vontade de ganhar.
De fato, quem já praticou algum tipo de esporte, sabe que treinar é muito chato.
A competição é ótima: joga adrenalina nas alturas qualquer que seja o adversário, abre o apetite para mais uma vitória, os nervos ficam esticados como cordas de violino e, mais forte o adversário, maior a vontade de ganhar.
Agora, o treino… putz, é um saco.
Mas, Bernardinho fazia seus pupilos treinarem.
Certa vez, chegou com a Seleção Brasileira em uma friorenta cidade europeia. De lá, mais quarenta minutos de viagem até a pequena cidade onde ficariam concentrados.
Direto para o hotel? Não, nada disso.
Direto para o ginásio: é preciso treinar, alongar e “tirar o avião do corpo”.
Porém, para a alegria dos sonolentos jogadores, o ginásio estava fechado e ninguém sabia o paradeiro do porteiro.
Que fazer? Para o hotel, claro.
Dez minutos depois que chegaram e quando ainda nem haviam se acomodado, os jogadores são chamados para se apresentar na portaria urgente.
Ordem de Bernardinho ninguém discute.
Ao chegarem, triste surpresa: Bernardinho havia conseguido espaço no estacionamento do hotel. E o treino se deu ali mesmo.
Por ser exigente e buscar o perfeccionismo, Bernardinho tornou-se o maior campeão do vôlei brasileiro.
Seus principais títulos como jogador:
1981 – Campeão sul-americano
1981 – Bronze na Copa do Mundo de Voleibol de 1981
1982 – Campeão do Mundialito
1982 – Prata no Mundial de 1982
1983 – Bicampeão sul-americano
1983 – Ouro no Pan-americano de Caracas
1984 – Prata na Olimpíada de Los Angeles
1985 – Tricampeão sul-americano
1986 – Campeão sul-americano
Alguns dos principais títulos como técnico:
Seleção Feminina
Grand Prix de Voleibol: 1994, 1996, 1998
Campeonato Sul-Americano de Voleibol Feminino: 1995,1997,1999
Jogos Pan-Americano: 1999
Montreux Volley Masters: 1994 e 1995
1994 – Vice-campeão no Mundial de Voleibol Feminino
1996 – Bronze na Olimpíada de Atlanta
1997 – Bronze na Copa dos Campeões
1999 – Prata no Grand Prix
1999 – Bronze na Copa do Mundo de Voleibol
2000 – Bronze no Grand Prix
2000 – Bronze na Olimpíada de Sydney
Seleção Masculina
Campeonato Mundial de Vôlei: 2002, 2006 e 2010
Copa dos Campeões de Voleibol: 2005, 2009 e 2013
Copa do Mundo de Voleibol: 2003 e 2007
Liga Mundial de Voleibol: 2001, 2003, 2004, 2005, 2006, 2007, 2009 e 2010
Jogos Pan-Americanos: 2007 e 2011
Campeonato Sul-Americano de Voleibol Masculino: 2001, 2003, 2005, 2007, 2009, 2011, 2013 e 2015
2001 – Copa América de Voleibol
2001 – Campeão do Torneio Ponte di Legno, na Itália
2001 – Campeão do Torneio Consorzio Metano de Vellecamonica, na Itália
2001 – Vice-campeão da Copa dos Campeões de Voleibol, no Japão
2002 – Vice-campeão da Liga Mundial de Voleibol, em Belo Horizonte
2002 – Campeão do Torneio Sei Nazioni
2003 – Bronze no Pan-americano de Santo Domingo
2004 – Ouro na Olimpíada de Atenas
2005 – Vice-campeão da Copa América de Voleibol
2007 – Vice-campeão da Copa América de Voleibol
2008 – Prata na Olimpíada de Pequim
2010 – Campeão do Torneio Hubert Jerzy Wagner, na Polônia
2011 – Vice-campeão da Liga Mundial de Voleibol, na Polônia
2011 – Bronze da Copa do Mundo
2012 – Prata na Olimpíada de Londres
2013 – Vice-campeão da Liga Mundial de Voleibol, na Argentina
2014 – Vice-campeão da Liga Mundial de Voleibol, na Itália
2014 – Vice-campeão Mundial, na Polônia.
2015 – Prata no Pan-americano de Toronto
2016 – Vice-campeão da Liga Mundial na Polônia
2016 – Ouro na Olimpíada do Rio, no Brasil
E o homem ainda ficava preocupado…
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Mario Marinho – É jornalista. Especializado em jornalismo esportivo foi durante muitos anos Editor de Esportes do Jornal da Tarde. Entre outros locais, Marinho trabalhou também no Estadão, em revistas da Editora Abril, nas rádios e TVs Gazeta e Record, na TV Bandeirantes, na TV Cultura, nas rádios 9 de Julho, Atual e Capital. Foi duas vezes presidente da Aceesp (Associação dos Cronistas Esportivos do Estado de São Paulo). Também é escritor. Tem publicados Velórios Inusitados e O Padre e a Partilha, além de participação em livros do setor esportivo
(DUAS VEZES POR SEMANA E SEMPRE QUE TIVER MAIS NOVIDADE OU COISA BOA DE COMENTAR)