Velho contemporâneo. Por Meraldo Zisman
VELHO CONTEMPORÂNEO
Meraldo Zisman
Como garantir a qualidade de vida para esses sobreviventes à maratona que é a vida da grande maioria da população brasileira?
O brasileiro, como sempre, perde o bonde da história, até no acordar para a corrupção. Levou um tempão, mas acordou. Antes tarde do que nunca. Mas não me venham com outro clichê, do tipo: O País envelheceu antes, de enriquecer. Ou: A culpa é do cidadão que teima em não morrer…
Segundo alguns falam:
Como não fomos previdentes, devemos prantear a má sorte de nos tornarmos velhos quando deveríamos ter morrido? Quem mandou não nos alimentamos bem, tornarmo-nos sedentários e assim incapazes de evitar doenças crônicas? Pelo andar dessa carruagem, não posso embolsar essas advertências, como se fosse culpado de algum crime de lesa saúde? Pessoal:
— Só os tolos se queixam e eu não estou aqui para me queixar, mas sim para denunciar determinadas ocorrências que a grande mídia omite quando lhe convém.
Estudos mostram que cerca de 30% das pessoas com mais de 60 anos têm alguma doença crônica, como hipertensão ou diabetes. Aos 85, praticamente todas têm. Quem nasce hoje tem a possibilidade de alcançar os 75 anos, mais que o dobro do registrado há um século, e, segundo projeções, em 30 anos o Brasil terá mais de 300 mil cidadãos centenários.
Como garantir a qualidade de vida para esses sobreviventes à maratona que é a vida da grande maioria da população brasileira?
E vamos ao que leio na Internet, não importa se em dispositivos móveis ou qualquer dessas parafernálias eletrônicas que chegaram ou estão a chegar. Passeando por alguns textos que li na Internet, transcrevo:
“Esse cenário exige que as pessoas sejam mais previdentes, para que possam ter boas condições de saúde e também financeiras para enfrentar essa fase da vida”, afirma José Cechin, diretor-executivo da Fena Saúde (Federação Nacional de Saúde Suplementar). “Estamos vivendo mais e temos condições de viver melhor se adotarmos hábitos adequados e se definirmos um plano para acumular reservas no período em que somos mais produtivos no mercado de trabalho.” E prossigo nessa mesma chave: “Quanto mais pudermos adiar essas doenças, melhor. O tabagismo, por exemplo, que atingia 34% dos adultos nos anos 1990, hoje está em 13%. Na contramão, está a obesidade, que vem aumentando”, afirma Cechin, que foi ministro da Previdência (2002) no fim do segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso. O senhor Edson Franco, presidente da Fena Previ (Federação Nacional de Previdência Privada e Vida), concorda… “O aumento da longevidade e a queda na taxa de natalidade exigem mudanças econômicas, sociais e culturais. As pessoas precisam se preparar para trabalhar por mais tempo, pois estão vivendo mais. E precisam se preparar para ter renda quando pararem de trabalhar, porque o Estado não terá condições de prover aposentadorias no modelo que existe hoje”. Conferir no site: http://estudio.folha.uol.com.br/educacao-em-seguros/2016/10/1827431-desafios-economicos-da-longevidade.shtml.
Como castigo recebi uma correspondência do meu plano de saúde datada de julho deste ano: …
13,47% é o reajuste determinado pela Agencia Nacional de Saúde suplementar (ANS) para o período de junho/2016 a junho de 2017 … a sua mensalidade a partir da data de aniversário de sua apólice de seguro saúde…O negrito é do Comunicado Importante…
E tem mais: recebi em 04 de novembro de 2016, uma carta registrada, com A.R. (aviso de recebimento e outras seguranças postais), com uma alerta:
“Em consequência do seu atraso de pagamento, no mês de outubro do corrente, encontram-se suspensos seus direitos, conforme prevê a Lei de número 9.656 de 03/06/98, que dispõe sobre planos e seguros privados de assistência à saúde”.
Após entrar em taquicardia de estresse, não por medo ou susto mais pelo que li, o que me fez revoltado e indignado (aviso posso ser idoso, mas não perdi a capacidade de me indignar com as ameaças) Livraram-se com o fecho da ameaça: “Caso V.S. tenha efetuado o pagamento, por favor, entre em contato com a Central de Relacionamento ao Cliente”.
Cuidado com o que dizem e alegam os executivos das empresas de Planos de Saúde, em defesa de um lucro já previamente embolsado…
Aconselho aos apressados que não leem mais, recomendo aos de meia idade e aos idosos que leiam ou releiam “Os Anos de Aprendizado de Wilhelm Meister”, um romance do escritor alemão Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832) obra que originou os “romances de aprendizado” ou “de formação”, em que a personagem principal sofre um processo de desenvolvimento espiritual, psicológico, social e político e aprende que:
“Não valeria a pena chegar aos setenta anos, se toda sabedoria fosse tolice perante Deus”. Isso na época em que se morria muito mais cedo.
Imagine aqui e agora com todos estes avanços médicos e sociais em pleno século XXI, quando os velhos têm de envelhecer, porque a moderna medicina não os permite morrer.
Cuidado com o que dizem e alegam os executivos das empresas de Planos de Saúde, em defesa de um lucro já previamente embolsado, pois os gastos são pagos pelas nossas contribuições quando éramos jovens e foram bem recompensados.
Adotando essas ‘espertezas’, essas empresas podem cair nas malhas de um desses Lava-jatos da vida que agem contra as diversas formas da corrupção. As coisas devem acontecer por acúmulo e não por retirada dos direitos dos que pagaram a conta muito antes.
Essa história não pode jamais confirmar a máxima: ‘O lucro ganho não retorna, vai para o bolso de quem o conseguiu’.
Principalmente porque esse lucro deve garantir a saúde e a vida de outros segurados.
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Meraldo Zisman – Médico, psicoterapeuta. Foi um dos primeiros neonatologistas brasileiros. Consultante Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha)