A hora e a vez de Vasconcelos. Por Josué Machado
A HORA E A VEZ DE VASCONCELOS
por Josué Machado
Renan parece ter-se esquecido de que seu descabelado telheiro talvez não aguente tanto.
Quem vê José Renan Vasconcelos Calheiros em ação deve lembrar-se da frase antológica proclamada por Luizinácio há semanas na sede do PT, indignado com os procuradores da Lava Jato que o acusavam de ser “O Chefão”, com PowerPoint e tudo:
“A profissão mais honesta é a do político. Sabe por quê?” – perguntou Luizinácio colérico. “Porque todo ano, por mais ladrão que ele seja, ele tem que ir pra rua encarar o povo e pedir voto. O concursado, não. Ele se forma numa universidade, faz um concurso e está com o emprego garantido.”
Sim, político exerce a profissão mais honesta, por mais ladrão que seja!
Serviria também – também – para Vasconcelos Calheiros? Vasconcelos(PMDB-AL) é um político exemplar, mas não tem de encarar o povo para pedir voto todo ano porque as eleições para senador ocorrem apenas a cada oito anos. Mas vê-lo em ação com sua milícia armada no Senado, coisa ainda comum no velho cangaço alagoense, é sempre uma lição de “política”.
Que desenvoltura! Que voos!
Que estragos devia fazer quando governador das Alagoas, que tão bem representa no cenário nacional!
Até agora, pareciam pouco importar a Vasconcelos os onze inquéritos contra ele no STF.
Sim, até agora. Mas agora talvez lhe importe aquele que a ministra presidente do STF, Cármen Lúcia, deve pôr em pauta para julgamento depois de anos em gavetas amigas. Nesse inquérito, a Procuradoria Geral da República acusa Vasconcelos de ter cometido crimes de peculato, falsidade ideológica e uso de documento falso – coisa de cangaceiro refinado. Tudo isso, só porque a empreiteira Mendes Júnior lhe pagava pelo menos despesas pessoais em troca de R$ 13,2 milhões em emendas parlamentares para uma obra no porto de Maceió.
Pois até agora, Vasconcelos, o Renan, vinha amaciando tudo ao redor, o eterno meio sorriso a derreter vontades, temperando palavras estudadas, em geral de sentido dúbio, num eterno lambe-suga-mordisca-chupa-lambe. E depois lambe, e depois chupa, e depois mordisca, mas com doçura.
Foi sempre assim, todo sorrisos, desde os governos do amigão Collor (ah, aquelas praias turbinadas e doidonas de Aquiraz!), de Fernandenrique (de quem foi o inacreditável ministro da Justiça!!!), de Luizinácio e de Dilma (que não lhe entendeu o sorriso de Mona Lisa alagoína).
…um grupo de guarda-costas corporativo muito bem pago, que chama indevidamente de “polícia”. Uma “polícia” capaz de tarefas estranhíssimas dentro e fora do Senado.
Sorria também para os ministros do STF, principalmente os mais suscetíveis, certo de que os onze inquéritos contra ele por lá poderiam esperar mais algum tempo, um bom tempo, antes de ser examinados, talvez esquecidos.
O problema foi que deixou os sorrisos de lado e destemperou-se feio contra a Justiça (“juizeco”) e o ministro da Justiça (“chefete de polícia”) para defender sua milícia armada — um grupo de guarda-costas corporativo muito bem pago, que chama indevidamente de “polícia”. Uma “polícia” capaz de tarefas estranhíssimas dentro e fora do Senado.
Pode ser coincidência, mas, mudada a presidência do STF, um dos mais antigos inquéritos contra Vasconcelos entrou na ponta da fila, já pronto para julgamento depois de alguns anos de amistosa e aconchegante geladeira.
Mas primeiro o plenário decidirá se um réu pode figurar na linha sucessória presidencial – caso em que, também por coincidência, se alinha o até agora risonho presidente do Senado.
Se o STF decidir que não, Vasconcelos perderá o cargo.
Continuará sorrindo ele com seus cabelos implantados à custa do povo?
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Josué Rodrigues Silva Machado, jornalista, autor de “Manual da Falta de Estilo”, Best Seller, SP, 1995; e “Língua sem Vergonha”, Civilização Brasileira, RJ, 2011, livros de avaliação crítica e análise bem-humorada de textos torturados de jornais, revistas, TV, rádio e publicidade.