Procurar sim, mas bem devagarinho. Por Josué Machado
PROCURAR SIM, MAS BEM DEVAGARINHO
por Josué Machado
Em São Paulo, pelo jeito, as buscas quase nunca dão certo. Por que será?
Por que será que o Ministério Público de São Paulo jamais, jamais, jamais consegue incriminar alguém da esfera do poder ao investigar denúncias de escândalos levemente domésticos que pipocam aki e ali?
Foi o que perguntou o jornalista Fábio Pannunzio, da Rádio e TV Bandeirantes no programa radiofônico “Jornal Gente” há dias, lembrando o caso dos desvios de recursos da merenda escolar.
É curioso de fato que tais denúncias não prosperem nunca, nunca, nunca e não resultem jamais em indiciamento das pessoas graúdas de vez em sempre lembradas como ecos e em breve esquecidas.
Desvios na merenda escolar, desvios de recursos na área do transporte sobre trilhos, com a Siemens no meio; desvios de recursos no setor de energia, com a Alston no meio; desvios de recursos na construção do Rodoanel; desvios de recursos na nova Marginal do Tietê; o mistério da cratera nas obras da linha 4, amarela, do metrô em Pinheiros com as sete mortes resultantes; e outros vários.
Misteriosamente, as investigações não evoluem ou evoluem sempre favoravelmente ao governo, e o governador, como sereno sacerdote em férias, sem jamais alterar o monocórdico tom da voz serena, afirma serenamente que tudo foi ou está sendo esclarecido e que jamais haverá leniência com malfeitorias em seu governo, como não houve nos anteriores do PSDB. Jamais.
Suspeita-se, no entanto, que uma dessas não-malfeitorias — desvios de recursos da merenda escolar, transformada em CPI na Assembleia Legislativa paulista, com seu presidente, deputado Fernando Capez acusado de envolvimento — jamais acusará gente que não é como a gente.
Pode ser que acabe incriminando o Ashimoto, da chácara que fornecia alface com larvas para a merenda. Onde já se viu?
Fora algum Ashimoto desengravatado, ninguém mais.
Por isso, talvez alguns se lembrem de que Capez é deputado do PSDB, partido do governador; ex-secretário do governo; presidente da utilíssima e indispensável Assembleia Legislativa; e procurador da Justiça do Estado, que sempre procura mas dificilmente a acha.
Mas não convém evocar tais lembranças.
…………………………….
Nota verde: O edifício da Assembleia Legislativa e as instalações militares do II Exército roubam do Parque do Ibirapuera gigantesca área verde que poderia ser de grande utilidade para a população. Tristeza.
_____________________
Josué Rodrigues Silva Machado, jornalista, autor de “Manual da Falta de Estilo”, Best Seller, SP, 1995; e “Língua sem Vergonha”, Civilização Brasileira, RJ, 2011, livros de avaliação crítica e análise bem-humorada de textos torturados de jornais, revistas, TV, rádio e publicidade.