Carlos Alberto Torres 1944-2016. Coluna Mário Marinho – Extra
Carlos Alberto Torres 1944-2016
Morre o Capitão do Tri
COLUNA MÁRIO MARINHO
Um craque na lateral direita, um líder dentro de campo, um gentleman fora dele.
Esse é o Carlos Alberto Torres que maravilhou quem o viu jogar e quem teve contato com ele.
Pouco depois que cheguei ao Jornal da Tarde, em 1968, vindo de Belo Horizonte, fui escalado para cobrir o Santos.
Quase que diariamente saia de São Paulo pela manhã e passava o dia em Santos. Era fácil fazer a cobertura do Santos, um time que nunca tinha crises. Além disso, com jogadores estrelas, porém, de fácil comunicação.
Dentre eles, naquela época, dois eram minhas fontes de informação: Carlos Alberto e o lateral esquerdo Rildo, que até pouco tempo morava nos Estados Unidos.
No céu de tantas estrelas – onde brilhava intensamente a maior delas, Pelé – Carlos Alberto era um líder incontestável.
Eram dois os líderes em campo: Zito, capitão, e Carlos Alberto.
Os dois, muito fortes na liderança, nunca brigaram ou tentaram se impor um ao outro.
Acompanhei muitos jogos do Santos e, portanto, do Carlos Alberto.
Não tenho a menor dúvida em apontá-lo como o melhor lateral direito que vi jogar na minha caminhada por esta longa estrada da vida e do futebol.
Abaixo, o perfil do grande Capitão que, após a Copa de 1970, passou a ser chamado, respeitosamente, da Capita.
Escrevi o perfil abaixo para o livro “Heróis do Brasil”, ainda inédito. O livro traz perfil de todos os jogadores que defenderam o Brasil Copa do Mundo. Os números correspondem exatamente ao desempenho do jogador na Seleção Brasileira.
Carlos Alberto – Carlos Alberto Torres
(*Rio de Janeiro-RJ, 17/07/1944 + Rio de Janeiro, 25/10/2016)
Posição – Lateral-direito
Jogos – 69 (54 vitórias, 6 empates, 9 derrotas, 9 gols)
Copas disputadas – 1970
Títulos pela Seleção – Medalha de ouro nos Jogos Pan-Americanos (1963); Copa Rio Branco (1968); Copa Oswaldo Cruz (1968); Copa do Mundo (1970).
Clubes em que jogou: Fluminense-RJ, 1963-1964 e 1976; Santos-SP, 1965 a 1970 e 1971 a 1975; Botafogo-RJ, 1971; Flamengo-RJ, 1977; New York Cosmos-EUA, 1977 a 1980 e 1982; Newport Beach-EUA, 1981.
Carlos Alberto foi o melhor lateral-direito que eu vi jogar. Revelado nas categorias de base do Fluminense, transferiu-se para o grande time do Santos em 1965. Participou da fase de treinos da Copa de 1966, mas foi cortado. Durante 10 anos (com interrupção de um ano em que defendeu o Botafogo), foi o grande líder do Santos. Também na Seleção Brasileira foi o capitão e líder do grupo dentro e fora de campo.
No jogo contra a Inglaterra, na Copa de 70, o atacante inglês Lee deu duas entradas violentas no goleiro Félix. Inconformado, o Capitão chamou Pelé e disse:
– Alguém precisa acertar esse cara. Ele não pode continuar assim.
Pelé respondeu:
– Eu não posso fazer isso. Sou muito visado e vou ser expulso.
Carlos Alberto concordou. Na primeira bola que Lee recebeu, na linha da intermediária, Carlos Alberto deixou a sua posição e foi até lá para acertar violento pontapé no abusado inglês, que, receoso, não voltou mais à área brasileira.
Em outra ocasião, fato que me foi contado por ele mesmo, o Santos foi enfrentar o Palmeiras, no Pacaembu lotado, jogo de estreia do ponta-esquerda Nei, recém-contratado da Ferroviária, que chegava precedido da fama de driblador.
É Carlos Alberto quem conta, bem-humorado:
– Na primeira bola que o Nei pegou, o Pacaembu quase veio abaixo. E ele veio pra cima de mim. Parei na frente dele e abri um pouco as pernas. Ele fez o que eu esperava: tocou no meio das minhas pernas. Como eu já esperava, dei a volta, peguei a bola e, de quebra, meti no meio das pernas dele e saí jogando. Ainda encostei nele e avisei: “Se você vier pra cima de mim outra vez, vai levar outra debaixo das pernas”. Coitado do Nei: ele abaixou a cabeça e sumiu em campo.
Carlos Alberto era dos poucos laterais capazes de virar o jogo de um lado para o outro do campo com precisão. Defendia com muita classe e atacava com perfeição, como fez ao marcar o quarto gol do Brasil contra a Itália no final desta Copa de 70.
Ao todo, em sua carreira, marcou 40 gols, número marcante para um lateral e que muitos atacantes não alcançaram.
O mais famoso de todos, sem dúvida, foi este contra a Itália, na vitória por 4 a 1, que deu o tricampeonato mundial ao Brasil.
https://youtu.be/M5HbmeNKino
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Mario Marinho – É jornalista. Especializado em jornalismo esportivo foi durante muitos anos Editor de Esportes do Jornal da Tarde. Entre outros locais, Marinho trabalhou também no Estadão, em revistas da Editora Abril, nas rádios e TVs Gazeta e Record, na TV Bandeirantes, na TV Cultura, nas rádios 9 de Julho, Atual e Capital. Foi duas vezes presidente da Aceesp (Associação dos Cronistas Esportivos do Estado de São Paulo). Também é escritor. Tem publicados Velórios Inusitados e O Padre e a Partilha, além de participação em livros do setor esportivo
(DUAS VEZES POR SEMANA E SEMPRE QUE TIVER MAIS NOVIDADE OU COISA BOA DE COMENTAR)
MMarinho. Fazemos parte de uma geração repleta de privilégios. Entre esses, a fantástica geração de esportistas que nos empolgou vestindo o nosso uniforme e encantando o mundo. Essa geração revolucionou o futebol mundial e nós ( entre esses nós, eu e você ) assistimos o espetáculo que a TV começava a transmitir diretamente. Mais tarde, um respaldo ainda pode ser colhido. E acabou. Os artistas estão nos deixando, um por um. Agora o foi a vez do capitão Carlos Alberto. Nos deixam lembranças inesquecíveis de dedicação, brasilidade e de muita união.