ÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉ. Por Josué Machado

ÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉÉ

Por Josué Machado

Seria um pedido de ajuda aos deuses da inspiração, um simples lamento caprino ou um truque capaz de arejar o cérebro esgotado?

Quem ouve ou já ouviu noticiários pelo rádio deve ter notado uma excentricidade que marca a fala de vários repórteres e comentaristas: a intromissão na frase de um “é”, que pode ser curto e tímido (É) ou um balido longo e lamentoso (ÉÉÉÉÉÉÉÉ) sem nenhum nexo com o contexto. Há variações entre o curto e o lonnnngo.

Esse “ÉÉÉÉÉÉ” caprino parece ser involuntariamente emitido para marcar uma pausa em busca da palavra certa, mas, em geral, constitui apenas um vezo, pequena muleta ou mania que talvez sirva para arejar o cérebro cansado ou algo assim.

A comentarista de economia, adepta da ortodoxia extrema em sua área:

“A economia se desenvolvia ÉÉÉÉ bem até que deixou de ir bem ÉÉÉÉÉÉ para ir de mal a pior por causa das várias ÉÉ forças contraditórias ÉÉÉÉ em jogo. Mas agora ÉÉÉÉ voltará a se desenvolver ÉÉÉÉ como resultado da aprovação ÉÉÉ da PEC 241. É o que garantem ÉÉÉÉÉÉ todos os especialistas ÉÉÉ que entrevistei.”

 O correspondente da emissora na Suíça, campeão dos ÉÉÉÉÉS:

Na reunião ÉÉÉÉÉ da cúpula para controle das ÉÉÉÉÉ emissões de gases de efeito estufa, o chanceler ÉÉÉÉ da França considerou ÉÉÉÉÉ quase inatingível ÉÉÉ a meta ÉÉ pretendida.”

 A repórter comentando o roubo de uma vaca na Índia, terra da vaca sagrada, durante a visita de Temer Lulia à região. O roubo de fato ocorreu:

 “Várias pessoas viram quando ÉÉÉ um homem puxou uma vaca que andava pela rua ÉÉ para o banco traseiro do automóvel Fiat Palio ÉÉÉÉ relativamente pequeno. Enquanto ele puxava, o amigo tentava ÉÉÉÉ empurrar a vaca ÉÉÉ pelo traseiro. Finalmente ÉÉÉÉ conseguiram com algum ÉÉÉ esforço e a levaram para ÉEÉ espanto geral.”

 Inofensiva a mania do ÉÉÉÉ, não fosse a irreprimível vontade de chorar que provoca nestes tempos cabeçudos de certezas definitivas e posições tão gloriosamente marcadas, eu estou certo, você está errado.

Pois É.

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JOSUE 2Josué Rodrigues Silva Machado, jornalista, autor de “Manual da Falta de Estilo”, Best Seller, SP, 1995; e “Língua sem Vergonha”, Civilização Brasileira, RJ, 2011, livros de avaliação crítica e análise bem-humorada de textos torturados de jornais, revistas, TV, rádio e publicidade.

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