Nada de aposentadoria precoce, mas me incluam fora. Por Josué Machado
NADA DE APOSENTADORIA PRECOCE, MAS ME INCLUAM FORA
Por Josué Machado
… Lulia e todos os seus ministros regiamente aposentados venham a ser tomados por uma iluminação divina, como aquela que arrebatou o rico herdeiro Giovanni Battista di Pietro di Bernardone e o transformou no pio São Francisco de Assis…
O governo de Temer está lutando pelo aumento da idade mínima da aposentadoria para 65 anos da idade, intenção em princípio correta considerando o esgotamento dos recursos da Previdência Social: se mais gente se aposenta cada vez mais tarde e menos gente contribui, parece claro que a fonte secará um dia. Ainda mais com a redução acelerada do desemprego — que começou antes que Miguel se tornasse presidente, convém salientar.
Convém salientar também que a degradação dos recursos do INSS muito se deve às generosas superaposentadorias para supercategorias superbemremuneradas no serviço público ou semipúblico – tudo propiciado pela excelência do trabalho de nosso legislativo, da mesma forma muito bem-remunerado durante o “trabalho” e também depois, na aposentadoria. Ganham mais, muitíssimo mais, os inativos das classes e categorias mais fortes, mais poderosas, com mais capacidade de pressão: os altos funcionários do Judiciário, do Ministério público, do Legislativo e do Executivo.
A propósito, Elio Gaspari informou em sua coluna na Folha de 9 de outubro último que Michel Miguel Elias Temer Lulia se aposentou em 1996 com 55 anos como procurador do Estado de São Paulo; recebeu por isso em maio passado a mensalidade de R$ 30.613. Agora recebe também R$ 27.841 mensais pelo exercício da presidência da República.
Outro defensor do aumento da idade mínima para a aposentadoria é seu robusto e rosado ministro Geddel Vieira Lima, que se aposentou em 2011 com 51 anos e recebe por sua mensal inatividade parlamentar R$ 20.354. Fora os 30.934 pelo frutífero exercício do cargo de ministro, cargo que já tinha exercido no governo de Luizinácio, pois o que importa mais do que a ideologia é servir à Pátria estremecida.
Também soldado do governo, o ministro Eliseu Padilha se aposentou sem tanta glória aos 53 anos. O último valor mensal por sua inatividade foi de R$ 19.389. E R$ 30.934 mensais remuneram a fluência e a convicção com que defende os valores do Executivo como ministro.
Alguns poderão achar que tais aposentadorias são altas demais, principalmente por considerar que poucos, muito poucos, recebem o teto de R$ 5.189,82 mensais dos inativos da iniciativa privada.
Claro que são muito altas. Mas há uma esperança: pode ser que Lulia e todos os seus ministros regiamente aposentados venham a ser tomados por uma iluminação divina, como aquela que arrebatou o rico herdeiro Giovanni Battista di Pietro di Bernardone e o transformou no pio São Francisco de Assis. Assim devolveriam à Previdência todos os meses o que exceder o teto de R$ 5.189,82 dos inativos do mundo real.
Esperemos com fé.
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Josué Rodrigues Silva Machado, jornalista, autor de “Manual da Falta de Estilo”, Best Seller, SP, 1995; e “Língua sem Vergonha”, Civilização Brasileira, RJ, 2011, livros de avaliação crítica e análise bem-humorada de textos torturados de jornais, revistas, TV, rádio e publicidade.