Volta América, volta. Coluna Mário Marinho
Volta América, volta
COLUNA MÁRIO MARINHO
Foi duro, muito duro assistir ao jogo do meu América contra o Palmeiras neste domingo.
Logo aos dois minutos de jogo, o Palmeiras fez 1 a 0.
Não teve americano que não pensou: “Caraca, vai ser de goleada”.
E o tempo não passava. Cada cinco minutos levava uma semana para passar.
E nós americanos ali, aflitos. Torcendo para que o tempo voasse e o jogo terminasse naquele heroico 1 a 0.
Tirando a jogada do goleiro que deu desnecessário drible no nosso atacante e num zagueiro que tocou de letra, também para enfeitar – e humilhar -, o resto foi bem. O Palmeiras jogou com seriedade, mas sem o empenho que teria se o jogo fosse em sua casa ou se não estivesse com a temperatura tão alta como lá em Londrina.
Meu amor pelo América é herança de meu pai que muitas vezes me levou para ver jogos nos tempos, idos e vividos, do estádio Otacílio Negrão de Lima, que ficava perto do Parque Municipal, região Central de Belo Horizonte.
Assisti a jogos e treinos ali.
Hoje, um hipermercado ocupa o lugar de tantas boas lembranças.
Até à inauguração do Mineirão, quando os jogos eram disputados, em Belo Horizonte, nos acanhados estádios Antônio Carlos (do Atlético, no sofisticado bairro de Lourdes, capacidade para cerca de 5.000 torcedores); no Juscelino Kubitschek (do Cruzeiro, no quase central bairro do Barro Preto, também uns 5.000 torcedores); no Otacílio Negrão de Lima (América, capacidade para uns 10 mil torcedores) e no imenso estádio Independência (do Sete de Setembro, capacidade para uns 14 mil torcedores, construído para a Copa de 1950), naquela época, antes do Mineirão, o Galo era o rei do pedaço, o América vinha em segundo e o Cruzeiro em terceiro.
O Atlético tinha a maior torcida, a segunda maior era da Coligação, quando americanos e cruzeirenses se juntavam para torcer contra o Galo.
Só o Cruzeiro se preparou para o Mineirão. Dirigido por Felício Brandi, um astuto empresário, que tinha como seu braço direito, Carmine Furletti, outro astuto empresário, o Cruzeiro entendeu o que seria o futuro do futebol Mineiro.
Lembro-me de entrevista que fiz com Felício Brandi, no comecinho da minha carreira jornalística, em 1966. Ele me disse qual o futuro queria para o Cruzeiro. Naquela época, havia um cruzeiro muito forte em Porto Alegre.
Assim a Imprensa de fora de Minas, ao se referir ao Cruzeiro, tinha que especificar que era o de Minas. Mas, no futuro, não seria assim, me garantiu Felício Brandi.
– Olha, dentro de pouco tempo quando se falar em Cruzeiro, todos saberão que é daqui. Ninguém terá que explicar que é de Minas.
E, de fato, foi que sucedeu.
Naquele mesmo ano de 1966, o Cruzeiro venceu o Santos no Mineirão, Santos de Pelé, Coutinho e Pepe por 5 a 2.
Era o Cruzeiro de Piazza, Tostão e Dirceu Lopes.
O jogo valeu pela Copa do Brasil. Na semana seguinte, no Pacaembu, o Cruzeiro venceu por 3 a 2, escrevendo definitivamente seu nome fora das cadeias montanhosas das Minas Gerais.
Nos cinco primeiro anos do Mineirão, o Cruzeiro foi campeão mineiro ou pentacampeão. O América e o Atlético ficaram em segundo e terceiro lugares.
O Atlético, com sempre teve imensa torcida, conseguiu se reorganizar e deu a volta por cima.
O América se contentava em ter pequena torcida, mas torcida de elite.
A elite não paga as contas e o time foi afundando cada vez mais.
Não só a torcida era pequena, como as diretorias que se formavam não conseguiam dialogar entre eles mesmos: era crise em cima de crise.
Assim, o América de hoje é, lamentavelmente, um time pequeno.
Quando o América voltou para a Série A, eu pensei: não vai dar certo.
Não tem estrutura para disputar um campeonato como o Brasileirão.
Vai bater e voltar, profetizei torcendo para estar errado.
Infelizmente, não estava.
No ano que vem, estaremos disputando a Série B. Não há demérito nisso.
Cala a boca, Cleber!
Meu neto, o Vinicius, de 13 anos, entende mais de futebol do que o meu amigo e ex-companheiro de TV Gazeta, Cleber Machado.
Na narração de América e Palmeiras, a imagem da tevê mostrou o juiz punindo alguém com o cartão vermelho. Na sequência, apareceu o técnico do América, Enderson Moreira. Cleber não teve dúvida:
– Xi, o juiz mostrou o cartão vermelho para o técnico do América.
Vinicius rebateu na hora.
– Vô, o juiz não mostra cartão para o técnico!
Leonardo Gaciba, ótimo comentarista de arbitragem da Globo, delicadamente salvou o Cleber.
– É bom a gente ouvir o repórter da campo para saber realmente o que aconteceu pois, como se sabe, o juiz pode até expulsar o técnico ou qualquer membro da Comissão Técnica, mas cartão só mesmo para os jogadores.
1 a 0 para o Vinicius.
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Mario Marinho – É jornalista. Especializado em jornalismo esportivo foi durante muitos anos Editor de Esportes do Jornal da Tarde. Entre outros locais, Marinho trabalhou também no Estadão, em revistas da Editora Abril, nas rádios e TVs Gazeta e Record, na TV Bandeirantes, na TV Cultura, nas rádios 9 de Julho, Atual e Capital. Foi duas vezes presidente da Aceesp (Associação dos Cronistas Esportivos do Estado de São Paulo). Também é escritor. Tem publicados Velórios Inusitados e O Padre e a Partilha, além de participação em livros do setor esportivo
(DUAS VEZES POR SEMANA E SEMPRE QUE TIVER MAIS NOVIDADE OU COISA BOA DE COMENTAR)
Pois é meu amigo Mario Marinho, o América com certeza está na segunda divisão do Brasileiro. Até matematicamente fica difícil fazer as contas. E, parabéns ao Vinicius. Sabe muito e com certeza tem a quem puxar. Mas permita-me citar uma outra pauta que está a me incomodar. Eu, (acho que nós) sou do tempo em que o bom e velho futebol brasileiro, era transmitido às quartas e domingos com a TV aberta e então todos podiam assistir e não atrapalhávamos muito nossas consortes e suas novelas. Ou então irmos ao campo, no velho Pacaembu para vermos ao vivo, ato que hoje, precisamos de uma certa dose de coragem nas atuais “arenas”. Para quem pode, aí está o “Premiere” que mostra todos os jogos que acontecem às segundas, quintas, sábados e até outros campeonatos aqui da terra ou lá dos estranjas. Só que o preço caro amigo, é proibitivo e até acho que como aposentado estou é ganhando pouco. Quando é que um torcedor ou mesmo jornalista, iria adivinhar que uma só rede de TV aberta, mostraria nosso principal campeonato? Quantos profissionais perderam seu emprego ou tiveram seu salário reduzido por essa ação? Pois é meu amigo, quanto ao episódio do Cleber Machado sou testemunha visual desse “comentário”, aliás feito do estúdio em São Paulo (outra novidade em tempos de crise) que se instalou em, nossa profissão: narrar jogos assistindo televisão. E apenas como curiosidade, conheci o Cleber na TV Gazeta, onde eu fazia um quadro sobre pesca e ele estava começando como âncora, em um programa do nosso companheiro de JT o Roberto Avalone. Abraço e parabéns pela coluna.