O MEC pisou na vírgula. Por Josué Machado
O MEC PISOU NA VÍRGULA
Por Josué Machado
Se a reforma e os programas planejados pelo novo MEC forem iguais à virgulação de seu texto, a coisa vai ficar feia.
O Ministério da Educação e Cultura anunciou no dia 28 de setembro passado que investirá R$ 700 milhões nos programas “Mais Educação” e “Ensino Médio Inovador”.
Só que o texto do anúncio estava marcado por dois erros na colocação de vírgulas; o Estadão os apontou, e os burocratas do ministério os corrigiram imediatamente.
São os seguintes os parágrafos com os escorregões virgulatórios originais (os trechos em maiúsculas constituem o sujeito de cada frase com seus anexos, seguido do verbo sublinhado):
“AS ESCOLAS QUE NÃO CONTAM COM A INFRAESTRUTURA NECESSÁRIA PARA OFERECER O TEMPO INTEGRAL,(vírgula obscena) poderão participar do programa …”
…………..
“O estudo apontou que AS ESCOLAS QUE PARTICIPARAM DO MAIS EDUCAÇÃO DE 2008 A 2011, (vírgula corrupta) apresentaram redução no desempenho de matemática, …”
Como nos ensinaram no ensino médio, o núcleo do sujeito da primeira frase é “escolas”, que aparece distante de seu verbo (poderão) por causa de adjuntos entre os dois e dele separado pela vírgula mal posta.
Na segunda frase em evidência, o núcleo do sujeito (“escolas”, de novo) também está afastado de seu verbo (apresentaram) por adjuntos e dele separado pela virguleta distraída.
Uma das coisas que ensinavam em boas escolas era que nunca se devem pôr vírgulas entre o sujeito e o verbo e entre o verbo e seus complementos.
Ainda que o redator sofra de bronquite asmática ou gagueje ao falar, não deve marcar na escrita cada pausa fisiológica por vírgula, que não foi inventada para isso.
Verdade que Paulo Coelho, rico à custa de seus livros, respondendo a críticas sobre a natureza algo cambaleante de suas histórias, estilo e virgulação, comentou filosófico:
“E que diferença faz para o mundo uma vírgula separando um sujeito de um verbo?”
Ele tem razão; o mundo segue sereno como milho de pipoca em panela quente, mas o atropelo de vírgulas num documento oficial do MEC não pega bem. Ainda mais nestes tempos em que o ministério é alvo de bombardeios pela proposta da discutível reforma do ensino médio. Coisinha feia.
Dir-se-ia (Temer) que se tratou, no mínimo, de uma tosca falta de educação do governo.
_____________________
Josué Rodrigues Silva Machado, jornalista, autor de “Manual da Falta de Estilo”, Best Seller, SP, 1995; e “Língua sem Vergonha”, Civilização Brasileira, RJ, 2011, livros de avaliação crítica e análise bem-humorada de textos torturados de jornais, revistas, TV, rádio e publicidade.
O analfabetismo funcional chegou ao mercado de trabalho..