A guerra do fim do mundo. Coluna Carlos Brickmann
A guerra do fim do mundo
Coluna Carlos Brickmann
Edição dos jornais de Domingo, 2 de outubro de 2016
As operações da Polícia Federal vão se desenvolvendo normalmente, as delações premiadas continuam a apontar pagamentos e conexões que levam a novas investigações, mas a Lava Jato hoje busca um objetivo principal: a condenação do ex-presidente Lula. Há um certo consenso de que todo o trabalho até agora realizado se perderá se Lula puder ser candidato em 2018 – e, pior ainda, se for eleito, apesar do que foi até agora conhecido.
É difícil explicar à opinião pública que um gerente da Petrobras, como Pedro Barusco, tenha se apossado de uns R$ 200 milhões, enquanto o presidente da República se limitou ao triplex, ao sítio de Atibaia, a presentes que deveria ter mandado incorporar ao patrimônio da União e a gentilezas de empreiteiras. As denúncias contribuem para minar a imagem de Lula, mas é preciso ter mais do que isso para cercear um político com sua popularidade, contatos e capacidade de manobra. É quase uma operação especial dentro da Operação Lava Jato: a Operação Pega Lula.
Boa parte das perspectivas de êxito da investigação está no material colhido com a apreensão de documentos da Odebrecht. Saem daí, por exemplo, informações sobre as palestras de Lula. A LILS, empresa do ex-presidente, se antecipou e divulgou seus dados: 72 palestras, cada uma a US$ 200 mil, para 45 empresas contratantes. Seis dessas empresas, a propósito, acusadas por superfaturamento e propinas na Petrobras.
Lula fora
As seis empresas acusadas no Petrolão e que pagaram US$ 200 mil por palestra de Lula são Odebrecht, OAS, Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa, UTC e Queiroz Galvão. Executivos da Andrade Gutierrez, UTC e Camargo Corrêa fizeram delações premiadas, confessaram o pagamento de propinas, mas ao que se saiba não incluíram os pagamentos pelas palestras de Lula na lista de ilegalidades.
É a Guerra do Fim do Mundo: a Lava Jato e Lula, frente a frente, com sangue nos olhos, um querendo destruir o outro.
O novo-pobre
O Supremo Tribunal Federal liberou os bens de Marcelo Odebrecht. O empresário, preso e condenado na Lava Jato, demonstrou que o bloqueio dos bens inviabilizava sua sobrevivência e de sua família. Então, tá.
Passinho pra frente…
No período em que Temer assumiu interinamente a Presidência, antes do impeachment, ele e sua equipe deixaram claro que revitalizar a economia iria exigir um substancial corte de gastos públicos, a reforma da Previdência e amplas modificações nas leis trabalhistas. A emenda constitucional estabelecendo um teto para o aumento dos gastos públicos seria (e foi) encaminhada ao Congresso. Era o caminho a seguir.
…passinho pra trás…
Ao assumir de vez a Presidência, Temer se tornou bem mais flexível: concedeu ótimos aumentos a grupos corporativos com capacidade de pressão, e ampliou os gastos públicos em algo como R$ 40 bilhões (com isso, aumentou o déficit orçamentário em bons 30%). Em seguida, a reforma que considerava essencial e inadiável, a da Previdência, para não desagradar deputados e senadores, foi adiada para depois das eleições (que se realizam hoje; mas há segundo turno, há um período de consolidação do novo quadro político, e as festas de fim de ano vão chegando). Temer promete enviar o projeto de reforma em novembro – e ou é votado às pressas, sem que haja debate profundo no Congresso, ou fica para 2017.
…passinho pro lado
Agora, segundo o bem informado colunista Josias de Souza (josiasdesouza.blogosfera.uol.com.br), a reforma trabalhista ficou para depois. Há no Governo quem ache que um novo projeto é desnecessário: já tramitam no Congresso projetos que tratam do tema. Basta emendá-los, se for o caso, e aprová-los. Quando houver tempo e disposição.
O fim do caminho
Resultados do vaivém, quando se esperavam atitudes decisivas:
Buraco nas contas públicas: R$ 58,8 bilhões até 31 de agosto. No mesmo período do ano passado, o buraco era de R$ 1,15 bilhão;
Rombo na Previdência: R$ 87,57 bilhões até 31 de agosto. No mesmo período do ano passado, era de R$ 44,56 bilhões.
Dinheiro público é público
O Ministério Público sugeriu a anulação de normas do programa Minha Casa, Minha Vida que submetem as famílias às organizações privadas que gerem empreendimentos. Entidades de luta pela moradia inscritas no programa escolhem, segundo seus critérios, as famílias que vão receber casas. Há entidades, por exemplo, que dão preferência a quem for a mais manifestações. Se a sugestão não for aceita, o MP entrará na Justiça.
Twitter: @CarlosBrickmann