A fé remove montanhas. Por Josué Machado

A FÉ REMOVE MONTANHAS

por Josué Machado

No entusiasmo de um discurso vibrante e cheio de fé, às vezes brotam frases maravilhosas capazes de mover montanhas de provas.

Na esfera da Operação Lava-Jato, o estelar, atenorado e algo espalhafatoso procurador de Justiça Deltan Dellagnol talvez tenha exagerado um tanto ao acusar Luiznácio de ser o Chefão de todos os chefões com base “apenas” em depoimentos e provas indiciárias.

Por isso, logo assumiu proporções maravilhosas uma frase de Luizinácio em seu discurso de defesa em reunião com o pessoal do PT no dia seguinte. A frase foi formulada por ele como síntese da acusação dos procuradores:

Não tenho provas, mas tenho convicção!”

Foi o que disse Luiznácio, e repetiu, e repetiu com pausas bem estudadas, cada vez mais aplaudido:

Não tenho provas, mas tenho convicção!”

Só que nem Dellagnol nem Roberson Pozzobon disse a frase no show de acusação com powerpoint do dia anterior. Luiz Inácio apenas juntou frases de ambos, ditas em contextos diferentes. O resultado da perdoável licença com a verdade foi bom, impactante. E as lágrimas ajudaram.

Sim, “por mais ladrão que ele seja…”

Eis aí outra frase para qualquer antologia: filosófica, sociológica, literária, política, judicial, legislativa. E humorística, porque o humor involuntário costuma ser mais surpreendente.

Noutro momento, tentando desqualificar os procuradores, supõe-se que todos concursados, disse o exuberante Luizinácio, no embalo do entusiasmo proporcionado pelos aplausos:

A profissão mais honesta é a do político. Sabe por quê? Porque todo ano, por mais ladrão que ele seja, ele tem que ir pra rua encarar o povo e pedir voto. O concursado, não. Ele se forma numa universidade, faz um concurso e está com o emprego garantido.”

Sim, “por mais ladrão que ele seja…”

Eis aí outra frase para qualquer antologia: filosófica, sociológica, literária, política, judicial, legislativa. E humorística, porque o humor involuntário costuma ser mais surpreendente.

No fim, mais uma frase bombástica de Luizinácio, comparando-se de novo ao bom Jesus, que já deve estar acostumado com essas liberdades:

“Eu estou falando como cidadão indignado. Eu tenho história pública conhecida. Só ganha de mim no Brasil Jesus Cristo.”

Pessoas de má vontade poderão duvidar, mas nunca se sabe.

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JOSUE 2Josué Rodrigues Silva Machado, jornalista, autor de “Manual da Falta de Estilo”, Best Seller, SP, 1995; e “Língua sem Vergonha”, Civilização Brasileira, RJ, 2011, livros de avaliação crítica e análise bem-humorada de textos torturados de jornais, revistas, TV, rádio e publicidade.

1 thought on “A fé remove montanhas. Por Josué Machado

  1. Lulla usa o artifício da mentira desde sempre, aliás ele mesmo se confessa um mentiroso inveterado, como no vídeo em que confessa as mentiras ditas no exterior, em que afirmara haver 25 milhões de crianças de rua no Brasil.
    É uma pena que o palanqueiro talentoso não tenha caráter.

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