Espanha inventa mais um pretexto para não formar governo…Por Celso Barata

Espanha inventa mais um pretexto para não formar governo:

 espera resultado das eleições regionais no País Basco e Galícia

Por Celso Barata*

… Ao melhor estilo brasileiro, nada se fará antes das eleições

 Em 25 de setembro na Espanha se está dando uma importância demasiada às eleições regionais em duas regiões autônomas do país – a Galícia e o País Basco, talvez por absoluta falta de imaginação ou opções políticas depois de duas eleições nacionais seguidas que não levaram a governo ou lugar algum.

Situadas ambas no norte da Espanha, atribui-se ao galego a origem da língua portuguesa, e cabe aos bascos a língua mais antiga falada até hoje na Europa – sem parentesco com nenhuma outra no mundo.

Enquanto isso, nenhum grupo na Espanha consegue formar um governo: o “premier” Mariano Rajoy, do Partido Popular,  foi derrotado em duas votações seguidas só no último mês, sempre pelos mesmos implacáveis 180 votos contras versus apenas 170 a favor.

Pesquisa recente realizada pela Metroscopia mostrou que quase a metade dos eleitores consultados sentia um misto de decepção e engano com estes nove meses de tentativas inúteis para formar governo. Mas, mesmo com as dificuldades pelo aumento do número de grandes partidos (de 2 para 4) e fim do bipartidarismo, dois terços continuam preferindo a situação atual, porque permitiria maior pluralismo. Assim, a culpa não seria do sistema: mas, segundo 60% , dos políticos, que não saberiam negociar ou pactuar. De qualquer forma, três em cada quatro rejeitam novas eleições (que seriam as terceiras em menos de um ano).

No estilo brasileiro…sempre devagar

Tudo continua andando da forma mais lenta possível: agora há o pretexto de se esperar para ver o que ocorre na Galícia e no País Basco. Ao melhor estilo brasileiro, para tudo e todos os partidos avaliam que nenhuma mudança e nenhuma movimentação política ocorrerá antes destas eleições.

… Rejeitado por todas as demais facções políticas por sua rígida política econômica e pela recusa em agir eficazmente contra a corrupção, Rajoy não consegue novos apoios, mantém sua arrogância, insiste em ser o candidato (e em não abrir vaga para nenhum colega de partido) e só faz meter os pés pelas mãos.

Rejeitado por todas as demais facções políticas por sua rígida política econômica e pela recusa em agir eficazmente contra a corrupção, Rajoy não consegue novos apoios, mantém sua arrogância, insiste em ser o candidato (e em não abrir vaga para nenhum colega de partido) e só faz meter os pés pelas mãos. Mesmo o rejeitando e denunciando pessoalmente,  o mais jovem partido espanhol, Ciudadanos, de centro-direita, acabou emprestando seus 32 votos aos 137 do PP no parlamento, para permtir ao país afinal um governo. Nada feito: só alcançou 170 com um voto da Canárias. Faltaram–lhe seis.

A última jogada de Rajoy – que vai se mantendo como “Presidente do Governo” interinamente desde dezembro – soou quase como deboche: tentou indicar para diretor do Banco Mundial José Manuel Soria, político que teve que demitir há um ano como ministro da Indústria por estar envolvido no escândalo financeiro dos Papéis do Panamá. Imagine-se um envolvido em escândalo financeiro no Banco Mundial: a avalanche de críticas foi tão generalizada, inclusive dentro do governo, que Rajoy teve que desistir.

Galícia e País Basco

Desde a redemocratização e o fim do regime fascista do generalíssimo Franco, há 40 anos, o PP tem governado quase sempre a Galícia, salvo em duas legislaturas; e o nacionalista Partido Nacional Basco, que luta pela independência, governou praticamente sozinho no País Basco, com exceção de breve interregno socialista. Em 2012, o PNV conquistou 27 das 75 cadeiras do Parlamento regional, elegendo o Iehendakari (presidente da região autônoma). Na ocasião, o grupo de esquerda nacionalista  EH-Bildu ficou com 21, o socialista PSE-EE teve 16, o conservador PP (que ainda governa a Espanha) ganhou 10 e os liberais do UPyD ficaram com1. Mas nas últimas eleições nacionais (em dezembro e em junho) o novo partido nacional esquerdista Unidos Podemos foi o mais votado. Agora, as pesquisas mostram que haverá uma reviravolta em relação a junho, com novamente a vitória do PNV, com a mesma margem de cadeiras, seguido mais uma vez pelo local Bildu, com 16 ou 17, que voltaria a se firmar como segunda força, superando a posição ascendente de Unidos Podemos

Já na Galícia a previsão é de maioria absoluta – 44,9%  e de 40 a 41 deputados -para o PP . Em 2012 teve 45% e 41 cadeiras, para um mínimo de maioria de 38.

O Rei de mãos atadas

Enquanto isso, o Rei Felipe VI se equilibra nesta fase mais dificilmente política de seu breve reinado de dois anos para manter a letra constitucional, pela qual nada pode fazer para desatar o nó, sob pena de comprometer a sua mais estrita neutralidade. A ele, coube simplesmente indicar o líder do partido mais votado, Rajoy, depois de consultas contínuas com a presidente do Congresso de Deputados, Ana Pastor.

A Casa do Rei, entidade que dirige sua agenda a partir do Palácio da Zarzuela, tem se esforçado ao máximo para afastar sua imagem do plano político: chegou a evitar comemorações do segundo ano de reinado, em maio, por estar às vésperas das eleições. Resta agora ver quando Rajoy lhe devolverá sua incumbência, reconhecendo afinal seu fracasso em formar um governo estável.

Pelo sim, pelo não, o líder socialista Pedro Sanchez, do PSOE (que fracassou duas vezes ao ser indicado no primeiro semestre) , começou a manter conversações com outros partidos , para o caso de ter que novamente tentar, no lugar de Rajoy.  O prazo para que se forme algum governo acaba a 31 de outubro: senão teremos que partir para as terceiras eleições em dezembro.

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celso barataCelso Barataé jornalista. Foi editor  de Política Internacional. Trabalhou e colabora com alguns dos mais importantes veículos nacionais.

 

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