MOSCA AZUL - CAUSAR

Eu e a mosca azul. Por Silvia Zaclis

Eu e a mosca azul

por Silvia Zaclis

… minha plataforma de governo ainda não está totalmente definida, na verdade diria que ela é bem elástica. Mas tenho uma carta na manga; vou ouvir não a voz das urnas, mas a voz que vai me colocar nas urnas…

Fui picada pela mosca azul. Finalmente, atendendo a inúmeros pedidos (não adianta perguntar quem pediu, não vou revelar minha base eleitoral), vou concorrer a alguma coisa aqui em São Paulo.

Ouvi diversas propagandas no rádio (na TV não aguento) para aprender  o jeito da coisa, e preparar um belo discurso,  daquele tipo que agita as massas. Minha estratégia vai ser melhorar e aumentar tudo o que os outros candidatos prometem.

Vão dar cartão de saúde com acesso pelo whatsapp, vejam que moderno… Mas eu, mais esperta, vou oferecer atendimento por chip – o sujeito faz um reconhecimento pelo olho que tem o chip (é bem pequenininho, não se preocupem)- como aquele do filme do  James Bond (acabo de denunciar  minha idade…) e recebe atendimento nos melhores hospitais do país. Todo mundo igual, não precisa preencher  nada, cadastrar nada.

Anotação para falar com marketeiro: me arruma um personagem atual, se não essa história de James Bond vai me custar os votos dos jovens; e mais uma coisa: essa frase “todos serão atendidos da mesma forma”, não sei não, parece coisa de comunista, muda isso. Não quero perder o voto do pessoal da direita.

Eles vão reviver o Controlar para melhorar o ar da cidade? É fichinha para mim. Vou prometer vistoria domiciliar, sem custo; o sujeito marca o dia em que prefere ser vistoriado; e se o carro estiver OK, ainda  ganha uma lavagem grátis.

Teremos também mais feriados, pelo menos uns dois por mês (marketeiro, precisa arranjar uns eventos de homenagem, tipo Dia da Cebola, Dia do Bonde, coisas assim; me lembre, heim?) E vou acabar com o rodízio, que é bem no dia do meu  cabeleireiro. Aí já resolvo meu problema.

Vou tirar todas as feiras livres das ruas – inclusive aquela da Barão de Capanema – e não quero nem saber… Mas essa parte fica fora do discurso, se não perco votos dos feirantes.

Como podem ver, minha plataforma de governo ainda não está totalmente definida, na verdade diria que ela é bem elástica. Mas tenho uma carta na manga; vou ouvir não a voz das urnas, mas a voz que vai me colocar nas urnas.

Por isto, meu amigo/ minha amiga, participe desse projeto de renovação, conto com você para sugerir ações prioritárias do meu governo.  Pode ser qualquer coisa e nem precisa falar de onde vou tirar  o dinheiro para fazer. Pense grande, OK?  Você não vai se arrepender; tem sempre um aliado político devendo favor, e posso arrumar umas boquinhas no segundo escalão.

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SILVIA ZACLIS – É JORNALISTA

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