A grande atração. Coluna Mário Marinho
A grande atração
Coluna Mário Marinho
Quantos são os técnicos que existiram ou existem no futebol brasileiro – ou mesmo mundial – que são capazes de serem apresentados como a grande atração de um jogo?
Qual seria o maior chamariz para o torcedor no jogo da Seleção Brasileira atual: o craque Neymar? O jovem e talentoso Gabriel Jesus? O agora internacional Gabigol?
Para quem entende desse assunto lá em Manaus, a grande atração, o grande chamariz é o técnico Tite.
Há dias a cidade foi inundada com outdoors como o que ilustra essa coluna.
É claro que o torcedor quer ver os gols de Neymar, de Gabigol, de Gabriel Jesus, o futebol e Renato Augusto e etc.
Mas, os cartazes espalhados pela cidade dão conta do prestígio, do enorme prestígio de que goza o técnico da Seleção. E que lhe aumenta a responsabilidade.
Tente imaginar Manaus repleta desses imensos cartazes com o Dunga. Não, não é possível. Com fotos do Parreira, uma pessoa até simpática. Também não dá.
Enfim, temos a Seleção sob o comando de uma pessoa que alia forte carisma com muita competência.
Foi assim que Tite, nascido Adenor Leonardo Bacchi, em Caxias do Sul-RS, em 25 de maio de 1961, conquistou a nação corintiana. E acabou conquistando o Brasil.
Seu jeito de falar com os jogadores, lembra um pouco de Osvaldo Brandão, o Velho Mestre, também gaúcho (Taquara-RS, 18-09-1916+São Paulo, 29-07-1989), técnico vitorioso no Palmeiras e no Corinthians, times que mais dirigiu em sua vida.
Assim como Tite, Brandão se dividia bem entre o paizão e o treinador exigente.
Sabia como conversar com os jogadores.
Na manhã do jogo contra a Ponte Preta, em outubro de 1977, o Corinthians estava concentrado no hotel Rancho Silvestre, em Embu das Artes, pertinho de São Paulo. O jogo era muito importante, pois o timão não conquistava um título há 22 anos, um tabu que amargurava os corintianos.
Pela manhã, logo após o café, Brandão chamou o jogador Basílio para um passeio pelo entorno do agradável hotel, quase um hotel-fazenda.
No meio da caminhada, colocou a mão no ombro do jogador e, com sua voz rouca e pausada, segredou-lhe em quase um cochicho:
– Basílio, esta noite eu tive um sonho muito importante. Sonhei que nós vencemos a Ponte Preta por 1 a 0 e Você fez o gol da vitória.
O atacante corintiano, que receberia mais tarde o apelido de Pé de Anjo, arregalou os olhos incrédulo e até meio confuso. Mas o Velho Mestre o interrompeu.
– Foi o meu sonho. Mas eu não quero que Você comente isso com ninguém. Apenas fique concentrado no jogo.
Na noite daquela quinta-feira, 13 de outubro, o Morumbi recebeu publico pagante de 86.677 torcedores.
Sob a arbitragem de Dulcídio Vanderlei Boschillia, Corinthians quebrou o penoso tabu e tornou-se campeão com a vitória por 1 a 0. Gol de quem? Basílio, aos 36 minutos do segundo tempo.
Somente anos depois é que se soube que o Velho Mestre teve a mesma conversa com praticamente todos os jogadores corintianos. Todos acreditaram que iriam fazer o gol do título. Só um fez.
Relembre.
Não sei se Tite lançaria ou já lançou mão dessa mentirinha para elevar o moral de seus jogadores.
Mas ele sabe também como fazer isso.
Deu à Seleção Brasileira, em poucos dias de convívio, a razão, a motivação, o estímulo e, principalmente, liberdade para os jogadores jogarem o seu futebol.
Amanhã, será contra a Colômbia.
Na maré baixa em que se encontra o futebol brasileiro, todo adversário impõe muito mais respeito do que deveria.
No caso da Colômbia, ainda mais. Historicamente o País tem um futebol alegre, de toques de bola. Um time que joga e deixa jogar.
Mas já não é apenas isso.
O argentino José Pekérman é o técnico da Colômbia desde 2012. Nestes quatro anos de trabalho continuado, deu aos colombianos a raça argentina que precisavam para tornar seu futebol clássico mais sólido.
Teremos amanhã um jogo duro, não tenham dúvida.
Por falar
em outdoor
Então falando em cartazes de futebol, veio-me à mente o cartaz ao lado, feito pelo competente e saudoso fotógrafo Domício Pinheiro.
Domício era incrível com sua máquina sem teleobjetiva, sem motor, máquina ainda daqueles tempos em que se usavam os filmes de celuloide. E Domício se colocava perto das traves do goleiro e não perdia um lance dentro da área. Fazia sequências incríveis. E tinha excelente faro jornalístico como mostra essa foto feita na cidade de Guadalajara, no México, em 1970.
A ANDA, Associação Nacional de Atores, Seção de Guadalajara, criou e colocou na parede de seu teatro este cartaz:
“Hoje não trabalhamos por que vamos ver Pelé jogar”.
O cartaz ficou por ali durante alguns dias, mas só Domício Pinheiro com seu faro de notícia o fotografou e mandou para São Paulo. Foi publicado pelo também saudoso Jornal da Tarde.
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Mario Marinho – É jornalista. Especializado em jornalismo esportivo foi durante muitos anos Editor de Esportes do Jornal da Tarde. Entre outros locais, Marinho trabalhou também no Estadão, em revistas da Editora Abril, nas rádios e TVs Gazeta e Record, na TV Bandeirantes, na TV Cultura, nas rádios 9 de Julho, Atual e Capital. Foi duas vezes presidente da Aceesp (Associação dos Cronistas Esportivos do Estado de São Paulo). Também é escritor. Tem publicados Velórios Inusitados e O Padre e a Partilha, além de participação em livros do setor esportivo
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