Por que sorri José? Ou E agora, José? Por Josué Machado
POR QUE SORRI JOSÉ? Ou “E AGORA, JOSÉ?”
Sobre cassações, viagens, privilégios, afagos e sorrisos, muitos sorrisos.
O senador José já mandou arrumar as malas para ir à China em um ou dois dias com o já então presidente definitivo Michel Miguel Elias Temer Lulia no Aerolula. Vão em alegre comitiva para o encontro do G20.
Primeiro, José vai co-concluir a sessão do enterro político da inepta Dilma, que cai não por causa da contabilidade “criativa” mas pela paralisia do governo e do país. (Até o PT, já em campanha para 2018 com filmagens e tudo, reconhece a inaptidão dilmal para governar, pelo menos no esquema atual de obsceno troca-troca).
Mas o que importa aqui não é a argumentação circular e repetitiva de parte a parte, mas o afável senador José, conhecido como José Renan Vasconcelos Calheiros. Sorridente, ele copreside com o ministro Ricardo Lewandowski a sessão de julgamento da presidentA. Todos viram que em certo momento de raro descontrole José perdeu a paciência com a buliçosa senadora Gleisi “Narizinho” Hoffmann e, de ânimo alterado, lembrou ter intercedido por ela e o marido, Paulo Bernardo, no STF, para livrá-lo da cadeia.
Mas isso também não tem importância.
Nem tem a menor importância que José responda a uns oito ou nove inquéritos no STF. Alguns deles há vários anos, e vários sob segredo de Justiça, ocultos de olhares indiscretos, porque o senador José merece respeito. Como iriam divulgar assim sem mais nem menos acusações de malfeitorias contra políticos de escol como o senador José e seus muitos, muitos pares investigados? Não ficaria bem. O que iriam pensar dele por aí?
… Por tudo isso, o senador José sorri entre afagos e agrados concedidos e recebidos aqui e ali. E nisso difere do furibundo Cunha, que, por furibundo, já era, enquanto ele, José, continua flutuando impávido.
Pois os inquéritos estão tramitando… Tramitando?
O verbo TRAMITAR indica movimento, significa transitar em determinada sequência; passar pelos estados e diligências indicados na lei processual; dirigir-se (um documento ou projeto de lei) de uma comissão a outra para apreciação, dizem os dicionários.
Conclui-se, portanto, que os inquéritos contra o senador José NÃO estão tramitando. Não, não estão. Estão convenientemente estacionados como se vê pelo sorriso feliz do fagueiro José ao acenar para seus “pares” nas sessões felizes do Senado.
Ou estarão tramitando a passos de cágado?
Por tudo isso, o senador José sorri entre afagos e agrados concedidos e recebidos aqui e ali. E nisso difere do furibundo Cunha, que, por furibundo, já era, enquanto ele, José, continua flutuando impávido.
Por que não sorriria José?
Ele sabe que as engrenagens da velha Justiça do velho STF estão enferrujadas. Movem-se, quando se movem, rangendo os dentes corroídos pelo esforço de carregar aqueles cadeirões, privilégios, capas, privilégios, capinhas, privilégios. Carregam também milhares, milhões de pastas amareladas por dezenas de anos de vaivém estéril. (Eles ainda usam pastas e a linguagem d’antanho.)
(Verdade que o STF pegou alguns figurões há algum tempo, mas foi o tal “ponto fora da curva”, como gostam de dizer.)
Então, tudo como sempre, por que o senador José deixaria de sorrir?
E agora, José? Agora nada, que o José precisa passear sorrindo pela China sem gastar do próprio bolso um só cruzeiro, o dinheiro em vigor quando os primeiros inquéritos contra ele chegaram ao STF.
Viva o José!
Que vivam os felizes Josés!
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Nota: Tudo isso lembra um pouco, só um pouco, o Afebrasilistão, país entre a Ásia central e o fim do mundo, em que os políticos fazem leis macias que beneficiam a elite judiciária com altos ganhos e privilégios para que ela, em troca, amacie inquéritos contra a classe política. Tudo isso em acordo tácito, à sorrelfa, como diriam eles. Ainda bem que é tudo lá longe.
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Josué Rodrigues Silva Machado, jornalista, autor de “Manual da Falta de Estilo”, Best Seller, SP, 1995; e “Língua sem Vergonha”, Civilização Brasileira, RJ, 2011, livros de avaliação crítica e análise bem-humorada de textos torturados de jornais, revistas, TV, rádio e publicidade.
querido amigo Josué. Como sempre, brilhante. Mas faltou um certo cuidado do portal ao colocar a foto do José Serra, não mencionado em seu artigo. abs. Robertinho
Mas chamou a atenção, né???
abração, Marli Gonçalves