Olimpíadas…Por José Paulo Cavalcanti Filho
OLIMPÍADAS…
José Paulo Cavalcanti Filho
Agora, o Rio vai viver sua Olimpíada. As televisões não falam de outra coisa. O Brasil (quase) parou. Claro que não a deveríamos ter feito. É cara demais, para nossas carências tantas. Mas ela está posta, não dá para mudar a realidade. E aproveito esse momento para imaginar como os estrangeiros nos verão.
Foi em Londres. Um amigo convidou para assistir à noite, na casa dele, filme sobre a pobreza nos morros do Rio de Janeiro. O primeiro mundo, que nos oprime economicamente, gosta dessas denúncias. Como uma espécie de desculpa, ou catarse, nas suas consciências. Cena inicial era uma pelada. Tendo, como fundo musical, partido alto. Dos bons. Os meninos jogando bola e, em cortes, imagens dos esgotos a céu aberto. Do lixo. Dos casebres infectos. Problema é que aquelas crianças estavam todas rindo. Muito. E o cenário, por trás, era espetacular. A cidade emoldurada por um mar azul impecável. Só então o locutor, com voz soturna, começou a descrever aquele caos. Mas já era tarde.
Na pequena recepção que o dono da casa ofereceu depois aos presentes, quase todos professores, prestei atenção nos seus rostos. Certo que qualquer daqueles velhinhos daria tudo para viver, por um momento que fosse, a explosão de alegria que esborrava da tela.
…Mas há outra pergunta que devemos fazer. E como nós nos vemos?, eis a questão. Fernando Pessoa acreditava que os países têm alma. Até fez o horóscopo de Portugal. Para ele, por exemplo, países grandes têm música alegre. E os pequenos, triste…
Agora, o Rio vai viver sua Olimpíada. As televisões não falam de outra coisa. O Brasil (quase) parou. Claro que não a deveríamos ter feito. É cara demais, para nossas carências tantas. Mas ela está posta, não dá para mudar a realidade. E aproveito esse momento para imaginar como os estrangeiros nos verão.
Esses de fora chegam já prevenidos. Pela insegurança. Por gente pedindo esmolas. E nossa improvisação ancestral faz com que tudo seja feito sempre na última hora. Ocorre que, por trás dessa visão aparentemente isenta, está a soberba. A crença míope de que são melhores que nós (e todos os demais países não desenvolvidos do planeta). Bem dentro, sentem certo desprezo por quem não tem seu way of life. E lamentam que não copiemos, servilmente, suas instituições. Sem nem perceber que se fizermos só isso, acriticamente, seremos sempre mais dependentes, mais pobres e mais tristes que eles.
Aqui para nós, vão levar um susto. Simplesmente não estão preparados sequer para nossa luz tão intensa e clara. Já vivi em cidades onde o sol, quando surgia (e não era sempre), vinha só ao meio dia. E ficava por pouco tempo. Acostumados a viver presos nas salas, por conta do frio, simplesmente não estão habituados com essa epifania própria de nossa civilização de terraços. Para fora. Quente. De abraços. E serão outras pessoas, espero, ao voltar para suas casas.
Mas há outra pergunta que devemos fazer. E como nós nos vemos?, eis a questão. Fernando Pessoa acreditava que os países têm alma. Até fez o horóscopo de Portugal. Para ele, por exemplo, países grandes têm música alegre. E os pequenos, triste. Assim se explicaria o Fado. Bem sei que vivemos em meio às investigações do maior sistema de corrupção do planeta. E tudo se passa às vésperas do impeachment que vai devolver para Porto Alegre aquela que, na imagem concebida por João Santana, seria um coração valente.
Aceito opiniões em contrário, mas penso que veremos essas Olimpíadas com enorme orgulho. Chega a ser engraçado. Se conheço um pouco de nosso temperamento aposto que já hoje, no show de abertura, vamos dizer que foi o mais belo de todos os tempos. Ao menos, desde aquele do ursinho de Moscou. Lamentaremos ter poucas medalhas, claro. Mas já estamos acostumados. E tudo vai correr bem. Muito bem. Por incrível que pareça. Deus nos proteja.
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