Que venha a Primavera brasileira
MARLI GONÇALVES
Transbordou.
Se muitos movimentos políticos foram chamados de primaveras, porque não a Primavera Brasileira, bonita, colorida, diferente, divertida? Quem sabe não poderemos aproveitar a estação e fazer florescer uma nova cultura, mais ampla, solidária, construtiva? Nas ruas, com alegria, em paz, vamos tentar buscar a solução, a que seja melhor, que possa agregar e reunir o maior número de pessoas e representações. Houve a Primavera dos Povos, a Primavera de Praga, a Primavera Árabe, e até em Portugal, se não foi primavera, tinha flor no meio, a Revolução dos Cravos.
Mas tem de ser nessa estação que começa agora, 23, desta semana de setembro. Pensa que temos três meses, que não nos resta muita alternativa. Temos de parar de andar em círculos, onde todos os dias parece que lemos a mesma edição do jornal, cheias de achismos, chutes, previsões plantadas, diz-que-disse. Essa xingação mútua não tem sentido algum nem ajuda a desempacar. Vamos atarracar uma mangueira nesse Lava Jato para adubar novas ideias e perspectivas.
Pega a primavera, a fina flor, as pessoas na flor da idade, as flores raras, as flores que já desabrocharam e perderam espinhos, vamos cultivar as flores da retórica do convencimento por um projeto decente, de retomada de rumo. Revolução de comportamento, com a marca da personalidade brasileira. Pensamentos dogmáticos tradicionais não têm cabimento agora.
Já dá para ouvir o canto dos pássaros assobiando, rebolando bonito as suas asas, atrás de penas para se coçar e procriar. O acasalamento é a cara da primavera, das cores e das flores, das pessoas. Vê se me entende e ajuda: puxa mais gente e sementes.
Senão, olha que eu vou chamar a Comadre Florzinha para aterrorizar e puxar o pé de vocês de noite. Conhece a história dela, lenda do folclore pernambucano? Foi uma menina que se perdeu na mata, morreu, mas seu espírito ficou perdido na floresta e com o tempo ela passou a aterrorizar vilas e fazendas, com suas aparições. Dizem, e ela vive aparecendo, que é parecida com aquela outra assustadora garota de O Chamado, que mora em um poço. Florzinha tem longos cabelos negros. Mas à noite eles, os cabelos, pegam fogo e viram chicotes ardidos para cima do lombo de quem não lhe dá as coisas de que mais gosta, fumos, mel e mingau. Arteira, adora dar nós nos rabos dos cavalos. Ela também ataca quem não trata bem as árvores e protege a natureza como fada – pode ser menina-moça boazinha também. Comadre Florzinha.
“A ironia é a expressão mais perfeita do pensamento”, escreveu a grande poetisa portuguesa Florbela Espanca.
marli@brickmann.com.br
marligo@uol.com.br