A aura encantada do ano bissexto. Por Josué Machado
A AURA ENCANTADA DO ANO BISSEXTO
Por Josué Machado
Anos bissextos, como 2016, sempre carregaram certa fama de infelicidade e desgraça.
Mas não pra todos.
Sabemos todos que anos bissextos são aqueles de 366 dias, um a mais do que os outros; neles, fevereiro tem um dia de sobra — 29. É o caso deste magnífico 2016 cheio de surpresas políticas e econômicas.
Os bissextos se repetem de quatro em quatro anos, com o dia extra formado pelas seis horas a mais de cada ano, que se compõe de 365 dias e seis horas, não há quem não saiba, embora se esqueça. E todos, divisíveis por quatro.
…Ocorre que os latinos não acrescentavam como nós o dia a mais do ano bissexto no fim de fevereiro e sim depois do dia 24, que era o sexto (“sextus”) antes das calendas, nome do primeiro dia de cada mês.
São herança latina do calendário juliano, implantado pelo ditador romano Júlio César em 46 a.C. e modificado pelo imperador Augusto, o sucessor, em 8 d.C.
Ocorre que os latinos não acrescentavam como nós o dia a mais do ano bissexto no fim de fevereiro e sim depois do dia 24, que era o sexto (“sextus”) antes das calendas, nome do primeiro dia de cada mês.
O dia intrometido depois do sexto, portanto, era batizado de “bis sextus”, o segundo dia sexto, nosso querido bissexto.
Por que o dia 24 de fevereiro era chamado de sexto? Porque os latinos contavam os dias de trás para frente a partir de três datas fixas: calendas, nonas e idos.
Como as calendas (“Calendae”) indicavam o primeiro dia do mês, as calendas de março eram, pois, o dia primeiro de março. Daí para trás vinha o segundo dia antes das calendas de março (28/2); o terceiro dia antes (27/2) etc., até o sexto dia a contar das tais calendas — 24 de fevereiro atual, o “sextus”.
Introduzido o segundo sexto (“bis sextus”), o mês inchava e ficava com 29 dias. O dia bissexto, o atual 25 do ano excepcional, era nefasto, e nele se esperavam desgraças; o imperador fazia longos discursos, dizia que a miséria de Roma ia acabar se todos ajudassem, mas que sem reformas (tributária, política, trabalhista, previdenciária, etc.) não dava, coisa e tal porque o Senado atrapalhava (aki, o Congresso). E lá vinha aumento de impostos. Não era mole.
Depois, o nome e a aura malévola desse dia aziago passaram para o ano bissexto inteiro. Algumas pessoas acreditam até hoje nos maus eflúvios bissextinos.
Terão seus motivos, se não forem políticos, para os quais não há tempo ruim. A menos que sejam apanhados.
…este bissexto vem sendo um ano muito pouco engraçado, principalmente para o povão.
Muito depois, em 1582, veio o calendário gregoriano imposto pelo papa Gregório XIII, por conselho de astrônomos, para compensar a diferença acumulada ao longo de séculos entre o calendário juliano e as ocorrências astronômicas. Foi uma correção que o papa estabeleceu por decreto por meio da bula Inter Gravissimas. Ficou decidido então que a quinta-feira, 4 de outubro daquele ano de 1582, seria seguida imediatamente de sexta-feira 15 de outubro.
(Era um tempo em que os papas mandavam em tudo.)
De volta às supostas desgraças do ano bissexto, agora felizmente elas estão bem distribuídas por todos os anos, de forma que não precisamos nos preocupar muito com os bissextos.
Mesmo assim, este bissexto vem sendo um ano muito pouco engraçado, principalmente para o povão. Porque os profissionais da política e todos os altos funcionários públicos sustentados por impostos flutuam felizes como sempre com seus gordos reajustes salariais, indiferentes às aflições da maioria. Principalmente os da Justiça e do Ministério Público, como vemos agora.
Palmas para eles!
Por enquanto.
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LEMBRANÇA: 1964, ano em que eclodiu a gloriosa revolução redentora, e 1968, ano em que ela botou pra quebrar de verdade – foram bissextos.
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