A experiência e as lembranças. Coluna Mário Marinho
A experiência e as lembranças
Coluna Mário Marinho
Decidi acompanhar na noite de segunda-feira a experiência da CBF com jogos à noite.
Em princípio acho legal essa procura e oferta de novas opções para o futebol. Alguém há de gritar lá no fundo: Mas segunda-feira não é dia de futebol! E eu respondo: por que não?
Num mundo em que a todo momento, a toda hora, em todo lugar há alguém que trabalhe, há alguém que folgue, não vejo por que não tentar.
Também os principais campeonatos nacionais europeus costumam ter jogos em horários e dias que não são aqueles já consagrados.
Aliás, foi o melhor público que o Sport Recife conseguiu até agora no Campeonato Brasileiro: mais de 24 mil pagantes.
É possível que o novo horário tenha atraído torcedores com a publicidade que se fez em torno do evento. O certo é que os dirigentes do Sport gostaram da experiência.
Continuará assim? Bem, na próxima semana, será dia de Cruzeiro e Atlético Paranaense se encontrarem no Mineirão às 20 horas – um excelente horário.
O Sportv soube aproveitar bem, emendou a programação no Bem Amigos do Galvão Bueno e, provavelmente, ganhou alguns pontinhos a mais em sua audiência. Aliás, inteligentemente, o Sportv denominou de Segunda Campeã a transmissão do jogo, dando nobreza à noite de segunda e valorizando o seu slogan: O Canal Campeão.
Os horários de futebol estão sempre à procura de seu público. É verdade que nos últimos anos a televisão impôs o seu poder financeiro e hoje horários e dias de jogos são definidos de acordo com os interesses comerciais.
Mas, dizem os sábios, que quem paga a pizza tem direito de escolher o sabor.
A vitória do Verdão mostrou o bom momento do time dirigido pelo Cuca. Destaque mesmo, merecem Fernando Prass, Gabriel Jesus e o lateral Rogério Guedes.
O Sport mostrou toda a sua fraqueza.
Veja os gols:
https://youtu.be/lhB32RQlg9U
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Em busca da
brasilidade perdida
Após a vitória do Verdão, fiquei ligado no Sportv para assistir o “Bem amigos” que levou como atração o Rogério Micale, técnico da Seleção Olímpica que vai tentar a sonhada medalha de ouro no futebol.
Foi bem o Micale. Para mim, passou a imagem de estudioso do futebol, mas também conhecedor do futebol dentro de campo, não apenas um teórico.
Seu sonho é ter uma seleção que “defenda como a Itália e ataque como o Barcelona”.
É um sonho, claro, mas já se pode antever que há um planejamento, um esquema a ser aplicado. Porque na seleção comandada pelo Dunga, a imagem que se tinha é de um grande catado, um time montado ali na beira do estádio e colocado em campo.
Rogério Micale gosta de futebol e gosta do bom futebol. Como gostamos todos nós que amamos esse incrível esporte.
Ele tem, também, a certeza de que o que é necessário, agora, não é apenas a vitória, mas o resgate do sentimento de brasilidade por parte dos jogadores que serão convocados.
Eu também penso assim.
Hoje, parece que os jogadores que vão vestir a camisa da Seleção Brasileira estão fazendo um favor. Ficou longe o tempo em que o jogador ansiava vestir a nossa camisa. Esperava, roendo as unhas, pela lista de convocação.
Aí está um árduo e sério trabalho que tanto o Micale como o Tite têm pela frente: resgatar o amor e o respeito pela camisa do Brasil.
Frequentando o desvairado mundo do Facebook, encontramos protestos mil contra a situação de momento do País e até mesmo declarações iradas de brasileiros dizendo que se sentem envergonhados de serem brasileiro.
E aí sobra para o futebol.
Tá certo, há corrupção na CBF (como na Fifa e outras entidades no mundo inteiro e até mesmo no Vaticano) mas não é razão para tamanho desencanto com o futebol.
Quando da última passeata de protesto contra a Dilma, com a paulista tomada de camisas amarelas, li o desabafo de um radical no Face: “É um absurdo, bradava ele, as pessoas usarem camisas de uma entidade corrupta como a CBF”.
Ninguém vestia camisa da CBF, mas, sim, camisa do Brasil, a nossa seleção.
Mas é difícil que algumas pessoas façam essa separação num momento de tanta radicalização, de tanto ódio, de desemprego, de inflação, enfim, de vida muito difícil.
Bem, vamos voltar ao futebol.
Quem sabe Micale e Fernando Prass consigam mostrar aos garotos olímpicos que essa camisa ainda representa muito. Quem sabe Tite (e eu acredito que ele terá também Fernando Prass) com sua seriedade, com seu jeito fácil de comunicar consiga também resgatar a brasilidade dos nossos craques europeus?
Amém.
Para relembrar
momento histórico
Meu filho Cássio é corintiano, assim como o Vinicius, filho dele e, claro, meu neto. Pois o Cássio mandou-me um e-mail dizendo que eu me esqueci da conquista corintiana da Libertadores.
Para atendê-lo, eis aí os gols da histórica vitória.
Corinthians 2 x Boca Juniors 0, noite de 4 de julho de 2012, Pacaembu.
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Mario Marinho – É jornalista. Especializado em jornalismo esportivo foi durante muitos anos Editor de Esportes do Jornal da Tarde. Entre outros locais, Marinho trabalhou também no Estadão, em revistas da Editora Abril, nas rádios e TVs Gazeta e Record, na TV Bandeirantes, na TV Cultura, nas rádios 9 de Julho, Atual e Capital. Foi duas vezes presidente da Aceesp (Associação dos Cronistas Esportivos do Estado de São Paulo). Também é escritor. Tem publicados Velórios Inusitados e O Padre e a Partilha, além de participação em livros do setor esportivo
Bom dia Mestre Marinho: Apenas um aparte em sua coluna, que gostaria de que fosse esclarecida. Jogo de segunda-feira, é muito bom para quem tem fundos para pagar o Premiere. Será sempre um só jogo ou mais de um que a TV aberta possa mostrar? Por outro lado, quem vê o Tite, – posso estar errado já que não o conheço pessoalmente para julgar – parece ser ele uma pessoa que para tudo tem “uma explicação e uma citação filosófica”. Porque não assumir a seleção olímpica e caso ganhe, passar para a história do futebol brasileiro? É isso. Abraço
Caro Toninho, bom companheiro daqueles bons tempos do bom Jornal da Tarde.
Você tem razão de que o jogo de segunda-feira é melhor para quem tem assinatura. Não é preciso assinar o Premiere. Pelo menos eu não sou assinante e vi o jogo no Sportv. Mas, jogo às 20 horas é bom também para quem assiste no campo pois não irá chegar em casa lá pelas madrugadas. Quanto ao Tite, também não conheço pessoalmente. Eu o conheço por entrevistas e pelo trabalho que realiza. Parece-me que ele aproveitou bem aquele ano que passou na Europa estudando e acompanhando diversos times. Ele é bom sim de conversa, bem articulado o que é muito bom, depois de anos e anos de presidentes com extrema dificuldades de articulação, para ser delicado. Quant ao fato de não aceitar a Seleção Olímpica, foi uma escolha pessoal. Poderia realmente entrar para história com uma medalha de ouro, mas também começar um trabalho sendo derrotado em casa. Acredito que isso e mais a proximidade dos Jogos devem ter pesado na decisão dele. Um grande abraço, meu amigo-pescador-jornalista.
Caro Mário Lúcido,
argumentar é uma coisa historicamente complicada, de modo que, sem os mil argumentos que poderia recolher para defender meus pontos de vista, prefiro, por economia processual, somente lhe dizer que continuo a não gostar desses horários em que hoje se promovem os jogos de futebol nem acredito (respondendo à pergunta do titulo) na seleção brasileira agora dirigida pelo técnico Tite.
Leitor acídulo de sua coluna, eu, talvez um conservador saudosista, digo que preferia os jogos nos horários mais usuais de antes.
Entre outras coisas porque entendo que quem paga a conta não é a TV nem o patrocinador, os que dela exigem esses malabarismos de data e hora, mas o torcedor ou o espectador que, ao fim e ao cabo, são os que tiram do bolso a grana final.
Quanto à seleção, e aqui me refiro apenas à principal, também meio azedo lhe confesso que acho horrível ver uma escalação em que aparecem jogadores de que nunca ouvi falar, no Brasil. Que nunca jogaram em campeonatos nacionais, esses que eu (e, creio, o público brasileiro inteiro) não vi vestir camisa alguma de um time daqui – mesmo dos grandes clubes sudestinos, que têm mais visibilidade.
Fosse eu propor (como às vezes imagino) que a seleção brasileira fosse formada apenas por jogadores atuantes no território nacional, o céu cairia sobre minha cabeça! Mas não vou fazê-lo, embora…
Mas deixa isso pra lá, pra outra hora em que haja tempo de eu reunir aqueles meus mil argumentos a que me referi no começo.
O que aqui estou dizendo não é uma carta ao editor. Trata-se não mais de que um comentário pessoal de amigo para amigo.
E, confesso, a coluna continua sempre boa, abrindo espaço para ótimas elucubrações, grandes debates.
Isso é bom.
Abraço.
Toinho Portela