Muitos políticos querem acabar com a Lava Jato e outras operações policiais. É quase certo que seja por extraordinário amor à pátria estremecida.
O pessoal da cúpula do PMDB foi pilhado pelo grampo ambulante Sérgio Machado em claras manifestações do desejo ardente de que a operação “Lava Jato” seja consumida pelo fogo do inferno.
Como desejo não é crime, o que disseram Renan Calheiros, Romero Jucá, Sarney e outros figurões sobre as atividades lava-jatísticas nada significou para fins de aplicação da justiça, apesar da tentativa chocha do Janot.
Antes, a presidentA afastada e Luizinácio já tinham feito algumas manobras enviesadas para finar a operação de alguma forma. Para isso ela até nomeou um depois outro ministro da Justiça que interviriam como pudessem no trabalho da Polícia Federal, do Ministério Público e do Juiz Sérgio Moro. Não deu certo, e ela e ele negaram.
Por último, o Padilha ministro da Casa Civil de Temer Lulia expressou publicamente seu desejo de que a “Lava Jato” se extinga para o bem do país.
Que bem será esse?
A “Lava Jato” deve acabar para que o país volte a crescer – dizem eles extrapartidariamente em coro desafinado, enquanto trabalham nas sombras para extingui-la.
Nenhum deles em nenhum momento falou em acabar com as causas da “Lava Jato”. Nenhum neles parece ter imaginado a possibilidade de acabar com as pilhagens empilhadas que geraram as investigações. Modestamente, nenhum.
…Serão esses patriotas apenas distraídos ao esquecer as causas secretas que tanto renderam nas sombras desde sempre? Ou terão algum interesse oculto ou nem tanto – o longo rabo verde e amarelo de muitos deles, enroscado em milionárias malfeitorias?
Eles parecem imaginar que essa e as outras operações contêm a causa e o efeito em si mesmas.
Parecem ter pensado apenas em fechar a saída do esgoto sem fechar a entrada.
Ninguém falou em acabar com a extorsão dos políticos contra empresas e bancos nem com as barganha$, presente$ e favore$ recíproco$ sempre em prejuízo da coisa pública.
Ninguém falou em acabar com o apadrinhamento e as nomeações políticas na direção de empresas estatais.
Ninguém falou em acabar com as concorrências combinadas e viciadas das empresas quadrilheiramente organizadas para executar obras públicas.
Ninguém falou em acabar com o financiamento “por fora”, o “Caixa 2”, que o tesoureiro petista Delúbio Soares batizou com o nome incolor de “recursos não contabilizados” – o dinheiro secreto com que as quadr, isto é, as legendas políticas pintam e bordam.
Ninguém falou em reduzir para uns 4 ou 5 o número de quadril, isto é, de partidos comandados por picaretas interessados no Fundo Partidário e no troca-troca de favores variados.
Será preciso lembrar que essas, sim, são algumas das causas do esgoto institucional e da paralisação do país?
Pois todos os políticos e alguns comentaristas que se queixam da extensão supostamente excessiva da “Lava Jato” e de operações semelhantes parecem ter-se esquecido de que as investigações e punições são o REMÉDIO para eliminar a corrupção sistêmica que paralisa o país e não a CAUSA da paralisação.
Serão esses patriotas apenas distraídos ao esquecer as causas secretas que tanto renderam nas sombras desde sempre? Ou terão algum interesse oculto ou nem tanto – o longo rabo verde e amarelo de muitos deles, enroscado em milionárias malfeitorias?
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Josué Rodrigues Silva Machado, jornalista, autor de “Manual da Falta de Estilo”, Best Seller, SP, 1995; e “Língua sem Vergonha”, Civilização Brasileira, RJ, 2011, livros de avaliação crítica e análise bem-humorada de textos torturados de jornais, revistas, TV, rádio e publicidade.