Se Temer faltar, o bicho vai pegar. Por Josué Machado

SE TEMER FALTAR, O BICHO VAI PEGAR

Por Josué Machado

Caso o presidente interino não suporte o esforço excessivo no trabalho e em casa, poderá haver surpresas do arco da velha, como diria ele.

O presidente em exercício Michel Miguel Elias Temer Lulia, de vida sempre próspera e serena, agora está sendo alvejado de vários lados. O tiro mais direto por enquanto foi desferido pelo inviável ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado (PMDB-CE), o grampo ambulante.

Pois Lulia, acossado como está, se vê sobrecarregado com a tarefa de conduzir um governo que perde um ministro a cada dez ou doze dias, todos naufragados pelo peso de tenebrosas transações. Com passado discutível, apontam-se também Mendonça Filho, Moreira Franco, Geddel…

O fato é que, além da tensão de tentar manter sob controle um governo que precisa aprovar reformas importantes, Elias também não pode se descuidar dos deveres conjugais.

Diante de tantas preocupações e esforços, considerando já ter 76 aninhos, fica-se pensando se sua saúde correrá algum risco. Talvez tenha de se valer de drogas para controlar a pressão arterial, drogas para manter a vitalidade, drogas para manter bem penteados os cabelos, drogas para elevar o ânimo.

Tudo isso então — diria ele –, quando não fosse, sê-lo-ia para bem enfrentar os desafios diuturnos que se lhe apresentam no gabinete presidencial e no recesso do lar ao lado da amada Marcela, de 33 anos.

Daí o problema: com tanto esforço aqui e ali, e se o antigo coração de desbravador fenício não aguentar, mesmo correndo para o Hospital Sírio-Libanês, como já fizeram aliás, Sarney, Luizinácio e Dilma? (Deve-se lembrar que o Líbano de Temer foi pátria dos destemidos fenícios.)

Em hipótese menos dramática, e se Elias Temer tivesse de viajar para o exterior por exigências presidenciais?

Quem assumiria a presidência? Quem?

Sim, ele mesmo, o improvável Waldir Maranhão (PP-MA),  presidente interino ou nem tanto da Câmara, lá instalado por Eduardo Cunha. Maranhão é o primeiro vice-presidente da Câmara e se transformou em risível folclore ambulante de poucas prendas intelectuais e morais: investigado na Lava Jato, é alvo também de inquérito no STF.

Caso Maranhão recuse por modéstia ou pressão interna a honra de eventualmente presidir a República, o segundo na linha sucessória é também o segundo vice-presidente da Camara, Fernando Lúcio Giacobo (PR-PR), que tem comandado a maioria das sessões em lugar do simplório Waldir, por acordo interno. Pois Giacobo já foi réu no STF em três ações, acusado de falsidade ideológica, formação de quadrilha, sonegação de impostos, e até sequestro e cárcere privado. Todas prescreveram por artimanhas jurídicas variadas.

Em entrevista à “Folha” em setembro de 2004, Giacobo  disse ter ganhado, em junho de 1997, 12 vezes nas loterias da Caixa Econômica Federal em apenas 14 dias; foram R$ 134 mil, valor equivalente a R$ 610 mil hoje se atualizado pelo IGP-M. Um milagre, por certo.

Sem sequer sorrir, o abençoado Giacobo atribuiu sua “sorte” ao bom Deus, que, segundo ele, “deu uma olhadinha lá e uma benzida”.

Parece incrível, mas Maranhão e Giacobo talvez não sejam as piores hipóteses na falta de Temer Lulia, provisória ou não.

Com a provável cassação do mandato do inefável Cunha, o “centrão” já articula para a presidência da Câmara o absurdo líder do governo, eleito com pseudônimo (Por que será?): André Luis Dantas Ferreira, alCUNHAdo André Moura (PSC-SE).

(O “centrão”, sabem todos, é o grupo interno que flutua na onda de ventos malcheirosos, formado quase só por personalidades negativas e comandado nestes tempos inglórios por Cunha.)

Convém lembrar que André Moura está sendo acusado de tentativa de homicídio e de roubo de verba pública para financiar churrasco e bebida alcoólica. Usou também sua cota parlamentar para contratar a empresa Elo Consultoria que forneceria notas frias em contratos de locação de carros e de assessoria jurídica. Mas o verdadeiro “elo” de André Moura é o temível – para “eles” — Cunha que, se for engaiolado, poderá contar coisas que abalarão ainda mais as estruturas bichadas do sistema político brasiloso.

Portanto, no quadro atual, se a presidentA não voltar nos braços do povo, como esperam alguns, pelo jeito em vão, e Temer Lulia vier a faltar, a Pátria Amada poderá ser presidida por 90 dias, até que haja novas eleições, por uma destas singularíssimas figuras: Maranhão, Giacobo ou André, o Moura – três representantes do mais fino extrato da política nacional.

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JOSUE 2Josué Rodrigues Silva Machado, jornalista, autor de “Manual da Falta de Estilo”, Best Seller, SP, 1995; e “Língua sem Vergonha”, Civilização Brasileira, RJ, 2011, livros de avaliação crítica e análise bem-humorada de textos torturados de jornais, revistas, TV, rádio e publicidade.

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