Sonolência e sofrência. Coluna Mário Marinho
Sonolência e sofrência
Eu não assisto a um jogo da Seleção Brasileira atual esperando uma apresentação emocionante, espetacular, arrebatadora.
Não espero, porém, desejo.
Assim, mais uma vez me postei frente à tevê no domingo.
O adversário era o Panamá, fraquíssimo.
Daí, quando o Brasil fez 1 a 0 com menos de dois minutos, pensei: pelo menos será divertido.
Engano, suave engano.
A Seleção entrou na mesmice de seus últimos jogos e por mais que o Galvão Bueno, Casagrande, Júnior e Arnaldo Cézar se esforcem, não dá para aguentar aquelas trocas de passes laterais, uma ou outra boa jogada individual (Philipe Coutinho, principalmente) e a boa oportunidade aproveitada pelo Gabigol.
De resto, tudo como antes no quartel do Dunga comandante.
Longe de mim dar uma de Cassandra a profetizar e antever tragédias, mas, essa seleção do Dunga ainda vai nos dar muita sofrência.
O novo
Velho Ganso
No clássico paulista da rodada, Ganso foi, mais uma vez, o mais importante jogador do São Paulo. Depois de um longo tempo sabático com a camisa tricolor Paulo Henrique Ganso volta a mostrar um pouco do futebol dos tempos do Santos.
Volta a ser maestro do time, o líder, porto seguro dos momentos aflitos e até fazendo gol.
Aliás, até repetiu uma cena acontecida na final do campeonato paulista de 2010, quando se recusou a sair de campo nos minutos finais do jogo contra o Santo André. Dorival Jr., o técnico, queria substituí-lo para colocar em campo um jogador mais defensivo.
Ganso não topou. Aos 21 anos de idade, rebelou-se contra a ordem do chefe, acabou campeão e até elogiado pelo técnico. Veja ou reveja a cena:
No jogo contra o Palmeiras, o técnico tricolor Edgardo Bauza queria substituí-lo, mas Ganso sinalizou que Thiago Mendes é quem deveria sair porque estava mais desgastado. A exemplo de Dorival Jr. há seis anos, El Patón obedeceu.
Veja o gol de Ganso contra o Palmeiras e o camisa 10 aparecendo como um centroavante.
https://youtu.be/fBouUTqiKMI
Menos,
Tite, menos.
O Corinthians parece reencontrar o seu futebol. Depois de um começo de temporada fraco, vai se encontrando e ontem passou pelo Sport, 2 a 0, com gols bonitos e muitos lances de trocas de passes como fazia com extrema facilidade no ano passado.
O jogo foi às 11 horas da manhã e após a vitória, Tite, em sua entrevista coletiva, elogiou o time, mas disse que jogo de futebol nesse horário é desumano.
A temperatura no domingo no Recife estava em torno dos 30 graus.
Não chega a ser desumano, Tite.
Se todos os jogos fossem nesse horário, aí, sim, seria complicado, até muito complicado, dependendo do local. Imagine o sol do meio dia de um verão ensolarado em Manaus, Tocantins, Cuiabá…
Será que jogar debaixo de chuva também é desumano?
Adeus
Invencibilidade
A vila Belmiro havia se transformado no Alçapão da Vila, onde o Santos não tomava muito conhecimento de seus adversários.
Isso até ontem, domingo, quando teve pela frente o Internacional.
Lucas Lima e Gabigol foram sentidas ausências do Peixe. Mas a torcida não quis saber.
Técnico, sério técnico, Dorival Jr saiu de campo vaiado. Dorival Jr. É o técnico que manteve o Santos invicto nos últimos 10 meses.
Ah!, gratidão de torcedor!
Ô raios!
Onde foi parar a educação?
Os europeus são mais educados do que nós brasileiros. Não é preciso ser nenhum gênio nem sofrer o complexo de vira-lata para chegar a essa conclusão.
Seu futebol que antigamente era tido como mais duro, de mais contato físico, trombadas, hoje dá lições a nós, pentacampeões do mundo.
Aí está o Barcelona ensinando como se joga e se vence com o toque de bola. O Real Madri a conquistar o título europeu de forma limpa.
Jogos, disputadíssimos, que terminam com, no máximo, uma dúzia de faltas.
O Cruzeiro é dirigido agora pelo técnico Paulo Bento que já passou por diversos times em Portugal e até dirigiu a seleção de seu país na Copa de 2014, aquela dos 7 a 1.
No jogo do fim de semana pelo Brasileirão, contra o América (o meu América!), o Portuga não deixou que seu time devolvesse para o América uma bola jogada para fora para que um jogador americano fosse atendido.
Os jogadores do Cruzeiro ficaram meio sem jeito, o técnico Givanildo, do América, esperneou, bateu boca como Portuga e ambos foram expulsos.
O jogo estava empatado, 1 a 1, e esse foi o placar final.
Depois do jogo, mais calmo, esperava-se que o dito Paulo Bento se desculpasse. Qual o quê! Foram estas as palavras dele:
– Não sei se o jogador do time adversário estava fingindo ou não. Só sei que meu time não devolverá bola. Isso é uma questão de filosofia e ponto final.
Eu acho que é uma questão de falta de educação, de fair-play, seu Portuga!
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Mario Marinho – É jornalista. Especializado em jornalismo esportivo foi durante muitos anos Editor de Esportes do Jornal da Tarde. Entre outros locais, Marinho trabalhou também no Estadão, em revistas da Editora Abril, nas rádios e TVs Gazeta e Record, na TV Bandeirantes, na TV Cultura, nas rádios 9 de Julho, Atual e Capital. Foi duas vezes presidente da Aceesp (Associação dos Cronistas Esportivos do Estado de São Paulo). Também é escritor. Tem publicados Velórios Inusitados e O Padre e a Partilha, além de participação em livros do setor esportivo
Fantástico, brilhante olhar crítico.
Daniel Alves