Vagalumes no temporal. Coluna Carlos Brickmann
Vagalumes no temporal
Edição dos jornais de Quarta-feira, 25 de maio de 2016
Só há hoje uma certeza: quem disser que entende a crise está mal informado. Há linhas identificáveis de ação e de pensamento, há luzes sobre correntes políticas, mas sempre oscilantes diante da tempestade. Fatores estranhos à política interferem na análise: delações premiadas, o juiz Sérgio Moro, opiniões militares como a do comandante do Exército, general Eduardo Villas Boas, que reagiu duramente às declarações petistas sobre a necessidade de controlar e bolivarianizar o pensamento dos quartéis.
Aparentemente, Michel Temer tentou montar um núcleo duro, fiel a ele e bom nas negociações com os políticos, que daria suporte a um grupo técnico de peso e livre de suspeitas, responsável por tocar o Governo. E, como o pedágio é inevitável, há aqueles de sempre rodando no entorno.
Lindo desenho – mas vem Sérgio Machado, presidente da Transpetro por 12 anos, relacionadíssimo, e solta uma gravação detonando Romero Jucá, um dos políticos mais próximos a Temer. Mais: há comentários de que Machado teria também gravado Renan Calheiros e José Sarney. Renan joga sozinho; mas Sarney é o cacique dos caciques do PMDB. A qualquer instante, portanto, a situação pode mudar – ou não: e se Machado estiver jogando ao lado de um deles, e pelo menos uma das duas gravações não exista, seja só uma manobra na luta pelo poder?
Ou seja, as notícias não mudam. Mas há novidades sempre.
É ele de novo!
Preste atenção em José Serra. Como ministro das Relações Exteriores, sem verba, vem criando fatos políticos, a partir do pito que deu nos bolivarianos que queriam palpitar na política brasileira. Seu sonho é ser candidato à Presidência; e trabalha para isso.
Renan Calheiros também quer e parece agir discretamente na oposição a Temer. É bom de manobra, mas depende de um velho aliado. Se Sérgio Machado o gravou e resolver entregá-lo, muda tudo. Há quem diga que Gim Argello também o gravou.
Em silêncio, por enquanto
É bom prestar atenção também em Paulo Skaf, presidente da Fiesp, amigo de fé de Michel Temer e cacique do PMDB paulista. Skaf quer ser governador. Mas é amigo há anos do governador Geraldo Alckmin, do PSDB. Skaf pode sentir a vontade de treinar no comício dos outros e sair forte para o Governo, em 2018. Impossível não é, e se Temer estiver bem avaliado suas chances serão boas. A máquina eleitoral já existe, a própria Fiesp, e ao longo dos anos Skaf aprendeu a comandá-la com precisão. Na Fiesp, nem há mais oposição: todos caminham com ele.
Comentário
A informação é de que Sérgio Machado procurou três de seus mais velhos e fiéis companheiros e padrinhos para forçar conversas em que eles discutiriam seus planos para o futuro e ele as gravaria, em busca de vantagens pessoais, entregando à Polícia os amigos que lhe deram poder e riqueza.
Que caráter!
Falta explicar
De Sérgio Machado, na conversa (que serviu de delação premiada) com Romero Jucá: “O Aécio, rapaz … O Aécio não tem condição, a gente sabe disso. Quem que não sabe? Quem não conhece o esquema do Aécio? Eu, que participei de campanha do PSDB…”
A opinião pública talvez gostasse de ser mais bem informada. E como garante Machado, ele, que participou de campanha do PSDB, conhece. Que tal contar?
Os sábios
O curioso é que todos esses políticos que esquecem que o gravador existe conviveram com gente mais esperta. Tancredo Neves, por exemplo, dizia que telefone só servia para marcar encontro, e no lugar errado. Certa vez, quando preparava a candidatura à Presidência, Tancredo explicou: “Sei como as coisas funcionam. Já fui ministro da Justiça”.
Verdade: tinha sido ministro da Justiça em 1954, quando gravar telefones era complicadíssimo. Mas era possível. E ele nunca se esqueceu de evitar riscos.
Um nome é um nome
A ação que atingiu Taiguara, sobrinho da primeira esposa de Lula, chamou-se Operação Janus. Envolve empreiteira brasileira, obras em Angola, dinheiro que saía oficialmente do Brasil mas ficava por aqui mesmo, e a firminha sem tradição nem condições técnicas que pegava a obra para que outra a fizesse, dividindo o pixuleco.
Janus era o deus romano com duas caras, uma olhando para a frente, outra para trás. Bela inspiração.
É nóis!
Cinco horas de tiroteio na Favela da Rocinha, bandidos disputando o ponto e ignorando a presença do Bope. Dúvida: se a favela estava oficialmente pacificada, por que tanto tiro?
Chumbo Gordo – www.chumbogordo.com.br
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