Mirando a Imprensa: Isto é jornalismo?
Por CACALO KFOURI
Há 43 anos, graças ao trabalho investigativo de dois repórteres de Washington Post, Carl Bernstein e Bob Woodward, estourou o Caso Watergate, que culminou com a renúncia de Nixon. Nada do que eles publicaram foi desmentido, pois tudo foi apurado com o máximo cuidado.
O jornal O Globo publica, na capa, uma admissão de erro sobre notícia publicada há um mês envolvendo Lulinha, filho de Lula. Lauro Jardim, ex-Veja, escreveu, em sua estreia no jornal, que Lulinha foi citado por Fernando Baiano em delação premiada na Lava Jato. O colunista incorreu em erro grave, publicou sem apurar, baseado no pernicioso “ouvir dizer” que assola o jornalismo brasileiro, declaração pra cá, declaração pra lá, nada de apuração.
O Estadão, em um “erramos” tucanado, publica um box, intitulado “Para entender” – em vez de admitir que errou, que praticou mau jornalismo – informa que “(…), o Estado afirmou que um dos filhos do ex-presidente Lula tinha sido citado em delação premiada de Fernando Baiano (…). A informação foi creditada ao jornal O Globo (…).
No Aurélio:
afirmar
[Do lat. affirmare.]
Verbo transitivo direto.
1. Tornar firme, fazer firme; consolidar:
2. Dizer ou declarar com firmeza; asseverar:
Como um jornal pode “afirmar” alguma coisa sobre um assunto que não apurou? Por que não mandou seus repórteres para verificar a informação antes de “afirmar” que Lulinha “teria” sido citado? Notaram como a coisa vai mal? Além de mau jornalismo, o que se tem visto nos jornais é o total desconhecimento do sentido das palavras. “Teria” -que era chamado de condicional nos velhos tempos e virou futuro do pretérito – indica uma dúvida, como se pode “afirmar” sobre algo que não se tem certeza de que aconteceu?
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Outra barbaridade recorrente nos textos é o uso indiscriminado de possuir em vez de ter, dia desses havia em um texto que “Fulano possui 32 anos de idade”. Pelo andar da carruagem, logo, logo, leremos que Beltrano possui febre de 40 ºC…
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Outro erro constante é o uso inadequado de “outro”… É comum ler “no acidente, morreram cinco pessoas e outras quatro ficaram feridas”. Não é óbvio que as quatro que ficaram feridas são “outras”, pois as “outras” morreram?
CACALO KFOURI – É jornalista