A confusão nacional no dia a dia da imprensa. Cacalo mira
Deve ser triste para alguns só poder bater na tecla do “não tem mulheres, não tem negros” ou, como acrescenta a apeada, “são todos homens brancos e ricos” nos ministérios por não poder dizer que há um monte investigado na Lava Jato, pois muitos deles eram ministros na (indi)gestão anterior. Não sei qual desonestidade é pior, a que desvia dinheiro público ou a intelectual.
Começou a faxina na EBC, mamata armada pela afastada na porta de saída, a contratação de Sidney Rezende por 1 milhão de reais/ano para fazer um programete na Rádio Nacional (RJ) foi cancelada (os “padrinhos” se esqueceram de estipular multa, então foi fácil). O novo presidente bem que poderia mandar examinar o contrato de aluguel das atuais instalações da empresa em Brasília e os contratos de terceirização de serviços que poderiam ser executados por pessoal da casa, ficaria abismado com o resultado. Ah, e do escritório de São Paulo também, imóvel alugado em local sabidamente sujeito a inundações (sei bem o que escrevo, sou um dos que avisaram) – e das bravas.
Quando se cumpre o papel que cabe ao jornalista, apurar, descobre-se, como fez o SPTV 1ª Edição (23), a tal da “restrição hídrica” não acabou em vários bairros de São Paulo. Pauteiros, aonde estão que acreditam piamente no que diz o pessoal da Sabesp e não mandam ver se é verdade?
Se o Judiciário julgasse os que têm foro privilegiado o país não teria tanto problema, estariam na cadeia e nós livres deles. Porém, há um problema cuja solução depende do povo e, então, vem outro problema, os condenados saem da cadeia e são reeleitos.
Como já mencionado aqui, as palavras devem ser usadas conforme o contexto, não adianta ir ao dicionário e ver que no verbete “ter” aparece “possuir” como sinônimo, elas não podem ser usadas livremente uma pela outra. Por acaso, alguém “possui” uma dor de cabeça? E o tal do “frente” ou “frente a/ao” por “ante”, “diante de”, “por causa de”? Um dos que mais erram é o outrora modelo de escrita O Estado de S. Paulo. Pelamordedeus, gente, o vernáculo é a ferramenta de trabalho do jornalista, já pensaram em um cirurgião usando (mal) um bisturi desse jeito?
Boas leituras, “Os Filhos da Garapa”, pág. E4, Aliás (Estadão 22), mostra que o Bolsa Família – sem dúvida, melhor que nada – não tem porta de saída; “O Golpe de 16”, Folha (22), pág. A2.
Na mesma edição da Folha: “Seria bem melhor, para não dizer obrigatório, que as manchetes estivessem articuladas com reportagens que trouxessem números comparativos, ouvissem analistas independentes, contextualizassem e apontassem rumos na discussão. Ojornalismo nãopode se limitar a blá-blá-blá. Faltou a mensuração adequada das possibilidades reais de implementação de cada medida anunciada em entrevistas confortáveis dos novos assessores do novo presidente. De que serve ao leitor simplesmente reproduzir aquilo que cada ministro diz, sem a necessária discussão de sua viabilidade?”.
Como este Mirando vem apontando faz tempo, os repórteres se comportam como gravadores, mal e mal perguntam, nunca questionam, se alguém diz que dois mais dois dão cinco, publicam. O trecho entre aspas está na coluna da ombudsman do jornal, vale ler inteira, “Sobre, discursos, gritos e sussurros”.
O Estadão, na sua infindável saga “é nome nóis detona”, mudou o do ministro Luís Roberto Barroso para José Roberto (pág. E2, Aliás) e do indigitado deputado Waldir Maranhão para Valdir (pág. A8, coluna de Eliane Cantanhêde).
(CACALO KFOURI)
***************