O pênalti. Coluna Mário Marinho
O pênalti.
Assim que o juiz apita e estica o braço apontando para a chamada marca fatal ou marca da cal, jogadores se abraçam e a torcida vibra como se fosse um gol. Os narradores de rádio e televisão se infamam, enchem os pulmões e soltam a voz: Pênalti! O juiz marcou pênalti!
É um alvoroço total. Afinal, pênalti é sinônimo de gol. Tanto assim que se o juiz não marcar a falta, será crucificado por torcedores e críticos de arbitragem por ter interferido no placar do jogo. Ah!, se ele marcasse o pênalti, a história seria outra, meu time não teria perdido…
Na década de 60, o carioca e filósofo do futebol Neném Prancha decretou: “O pênalti é tão importante que deveria ser batido pelo presidente do clube de terno e gravata”.
Essa penalidade fatal, que parece punir mais o goleiro do que quem a praticou, foi inventada, quem diria?, por um goleiro irlandês, o elegante William McCrum.
A história registra que o Notts County vencia o Stoke City por 1 a 0, em jogo válido pela FA Cup, em 1889.
No minuto final do jogo, Hendry, jogador do Notts, salvou um gol certo ao defender com a mão uma bola que entraria. A falta, como se fazia naquela época, foi marcada no local em que foi cometida, quase em cima da linha de gol. O Notts colocou o time todo em cima da linha de gol, formando uma barreira impossível de ser vencida. Cobrada a falta, o Notts recuperou a bola e o jogo acabou.
O elegante William McCrum não se conformou com a atitude antidesportiva do Notts e enviou para a International Board, entidade responsável por alterações nas regras do jogo, a sugestão da criação do pênalti. Resumindo, ele sugeria que qualquer falta cometida a uma distância de 12 metros do gol, será ordenado um pênalti. Em 12 de maio de 1891 o pênalti foi oficialmente instituído.
De lá para cá, a regra evoluiu, criou-se a grande área, que determina o espaço onde qualquer falta se transforma em pênalti, e a distância foi fixada em 11 metros.
De um lado, o pênalti é alegria; de outro, tremenda frustração.
Na Copa do Mundo de 1986, no México, o Brasil foi eliminado pela França na Cobrança de pênaltis.
Veja nas imagens abaixo: Sócrates toma distância curtíssima e erra; o zagueiro Júlio César enche o pé e manda a bola na trave; o goleiro Carlos escolheu o canto esquerdo e foi lá em todas as cobranças, não defendeu nenhuma.
E ainda deu azar: num dos pênaltis a bola bate na trave, no seu corpo e entra, gol válido.
Oito anos depois, na Copa dos Estados Unidos, o Brasil foi bem e ganhou a Copa. Aliás, foi a primeira decidida nos pênaltis. O goleiro Taffarel fez uma bela defesa e o craque Roberto Baggio chutou para fora a última cobrança.
Veja:
https://youtu.be/EkPYzVEYsQ8
Pois bem, na terça-feira, 03-05-2016, os cobradores de pênalti não tiveram muita sorte. Na Champions League, Atlético de Madri e Bayern, perderam suas cobranças.
Os dois goleiros foram muito bem. Veja:
https://youtu.be/bsMwNEPqIk4
Na noite da quarta-feira, 04-05-2016, foi a vez do Corinthians amargar o pênalti mal batido de André e ser eliminado da Libertadores da América.
https://youtu.be/ODEbTnO0eg0
A cobrança do André:
https://youtu.be/8_5PjkVmHL0
O que está acontecendo com tantos pênaltis perdidos?
São muitas as explicações. Porém, o que salta aos olhos é que os goleiros estão cada vez mais bem treinados.
Além dos treinos, eles contam com a ajuda de imagens que dão uma ideia do que fazem os cobradores oficiais dos times.
Há algumas décadas, os goleiros nem sequer tinham treinadores específicos. Eu me lembro que cobria o Corinthians para o Jornal da Tarde no final dos anos 60 e assistia ao goleiro Ado ficar em campo após os treinos, pedindo aos companheiros que cobrassem faltas, chutassem bola ao seu gol de diversas posições do campo. Era o treinamento dele, por esforço próprio.
Um outro dado a favor do goleiro foi a proibição da paradinha consagrada por Pelé. Aquela paradinha costumava ser mortal para os goleiros.
Já para os cobradores não existe treino específico. Normalmente, eles treinam cobranças de pênaltis. Mas, em campo, a coisa muda de figura. Se a pressão é muita, como no caso do André, o cobrador sente. Nesse momento, o gol fica pequenininho e o goleiro se torna um gigante.
Se o cobrador não estiver com a cabeça boa, certamente perderá a cobrança.
Por isso, eu sempre gosto de dizer que pênalti se bate com a cabeça.
Veja 10 cobranças de pênalti muito esquisitas:
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Mario Marinho – É jornalista. Especializado em jornalismo esportivo foi durante muitos anos Editor de Esportes do Jornal da Tarde. Entre outros locais, Marinho trabalhou também no Estadão, em revistas da Editora Abril, nas rádios e TVs Gazeta e Record, na TV Bandeirantes, na TV Cultura, nas rádios 9 de Julho, Atual e Capital. Foi duas vezes presidente da Aceesp (Associação dos Cronistas Esportivos do Estado de São Paulo). Também é escritor. Tem publicados Velórios Inusitados e O Padre e a Partilha, além de participação em livros do setor esportivo
A COLUNA MÁRIO MARINHO É PUBLICADA TODAS AS SEGUNDAS E QUINTAS AQUI NO CHUMBO GORDO.
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