As alegrias do poder
AS ALEGRIAS DO PODER
Josué Machado
Os palácios devem ser usados por quem de direito, e às vezes também por quem ama demais
Os brasileiros devíamos nos orgulhar porque, embora num país de miseráveis sempre ou quase sempre miseravelmente governado, nossos governantes podem morar em palácios de alto luxo, servidos por dezenas de criados, carros de luxo com combustível e motoristas, alimentação e tudo o mais de graça. De graça não, porque tudo pagamos como contribuintes felizes. Os do poder só precisam comprar roupinhas pessoais. Talvez nem isso. A única coisa que precisam fazer de fato é cuidar da higiene pessoal. E, se quiserem, haverá quem faça até isso por eles.
No resto do tempo, é trabalhar pelo bem-estar do povo.
E que ninguém se sinta forçado a fazer a graçola indigna de que palácio não falta por aí, e palhaço é o que não falta por aqui.
Agora, por exemplo, Michel Miguel Elias Temer Lulia, morador do Palácio do Jaburu, ensaia a mudança com sua Bela para palácio ainda maior e mais luxuoso do que o que ocupam – vão para o Palácio da Alvorada, onde por enquanto mora Dilma, nem um pouco disposta a sair; se forçada a partir por pelo menos seis meses, ela talvez vá para a Granja do Torto, outro palácio sem nome de palácio.
Palácio é o que não falta por lá. E por todo o país com seus governadores, prefeitos, assembleias, câmaras. (São Paulo talvez seja a segunda cidade mais plena de palácios para suas respeitáveis autoridades, com um deles até para o Tribunal de Contas do Município, uma glória!)
E que ninguém se sinta forçado a fazer a graçola indigna de que palácio não falta por aí, e palhaço é o que não falta por aqui.
Outra graçola é a que andaram fazendo com a bem-aventurada senhora Temer. Por que esculhambar a provável futura primeira-dama? Só porque é jovem, “bela, recatada e do lar”, como disse dela a revista Veja sem a intenção de fazer graça? Que mal há em tais “virtudes”?
Nem todas podem ser como a desditosa professora Ruth Cardoso, que tanto sofreu antes, durante e depois do governo. A maioria estará mais para Marisa Letícia, desditosa sempre, com as prendas domésticas que o bom Deus lhe terá dado. A umas e outras, segundo seus genes e esforços.
Beleza por cultura e cultura por beleza, a história de Marcela com o Michel Miguel não deixa de ser bela.
Ele foi visitar Paulínia, no interior de São Paulo. Presidente nacional do maior partido do país, o glorioso e sempre a favor PMDB, professor de direito constitucional (eles pronunciam “constucional”), poderoso, homem bem-vestido, limpinho, bem-penteado, bem-falante, boas maneiras, viu Marcela, miss Paulínia (“míssi”, dizem os cariocas), 19 anos, sonhadora, ingênua e sobrinha de um dos quadros do partido.
Viu-a com muito gosto, e ela também não o viu com tanto desgosto.
Ele por certo pensou, coração aos pulos: “É ela!”
Ela terá pensado, coração sonolento: “Por que não?”
O que teria feito ela se não tivesse encontrado o quase formoso sessentão Lulia, apenas 43 anos mais velho e nem 15 centímetros mais baixo?
Não pensou nem disse, mas intuiu como toda gente: “Sendo político há tanto tempo, há de ser bem abonado…”
Foi amor à primeira vista.
O que teria feito ela se não tivesse encontrado o quase formoso sessentão Lulia, apenas 43 anos mais velho e nem 15 centímetros mais baixo? (Ele, 23/9/40, 1,60m de altura; ela, 16/5/83, 1,73m de altitude.).
Bela como é, teria se casado com o filho de algum fazendeiro rico ou de algum vereador local. Porque o que havia na vitrina da província eram garotões mascadores de chiclete com a aba do boné virado para trás ou para o lado, coçando-se alhures grosseiramente em público e falando aos berros. Com o Michel Miguel, “jamais de la vie!” (Ela aprendera um pouco de francês.)
Foi, sim, amor à primeira vista!
E o que receberá ela como presente de trigésimo terceiro aniversário, dia 16 de maio próximo? (Michel Miguel diria 16 de maio “vindoiro”.)
Receberá tão somente o título de primeira-dama do Brasil, por certo o ápice da carreira de Michel Miguel Elias Temer Lulia e também o de Marcela Tedeschi Araújo Temer.
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