Paisagem suiça

PAISAGEM SUÍÇA

Por Josué Machado

A longa e sempre produtiva caminhada de Eduardo de Cunha em equilíbrio permanente nos cumes do poder

Muita gente tem a mania de falar mal de pessoas em evidência.

Do deputado Eduardo Cunha, por exemplo.

Esse senhor é resultado de vários milagres, digam o que disserem dele.

Começou muito bem como protegido do então governador do Rio, o funesto Wellington Moreira Franco (1987-1991) – titular de um governo apontado como exemplarmente corrupto ao lado de bicheiros e outros bichos: naquele tempo, por exemplo, Jânio de Freitas, da Folha, publicou previamente no jornal, em código, os resultados de grandes concorrências que seriam divulgados depois; assim impediu para tristeza de Moreira que desaparecessem bilhões de dólares em negociatas entre gente do governo moreirista e empreiteiras. Moreira estava francamente lá.

Eram tempos da gloriosa revolução redentora das torturas, até agora defendidas pelo deputado Boçalnato. Cunha trabalhou para ele, Moreira, que esteve sempre e sempre e sempre flutuando junto ao poder. Como o próprio Cunha, aliás.

Mais tarde, Cunha trabalhou para Maluf, o eterno, que gostava de dar rolês pelo mundo, mas agora se mantém confinado em território nacional só para não ser preso alhures.

Depois, Cunha foi tesoureiro de PC Farias no Rio; sim, aquele PC do Grande Caçador de Marajás, hoje brilhante no Senado.

… Com o honrado e religioso governador Anthony Garotinho, Cunha converteu-se ao bom Jesus, virou evangélico, obtendo assim apoio eterno junto com a promessa de vida e bens eternos, e mudou-se para o PMDB…

Foi daí que, sendo procedente do PDS, nome que deram à Arena apoiadora da gloriosa revolução redentora, Cunha passou para o Partido da Reconstrução Nacional (PRN), do Caçador de olhos desvairados (Vai saber por que tais olhares…).

Cunha foi brindado então com o comando da Telerj (91/93), mas o Tribunal de Contas do Estado descobriu tramoias – grande novidade!, e ele foi ejetado, já no tempo de Itamar na presidência no lugar do homem de olhos esgazeados, então expulso da presidência.

Com o honrado e religioso governador Anthony Garotinho, Cunha converteu-se ao bom Jesus, virou evangélico, obtendo assim apoio eterno junto com a promessa de vida e bens eternos, e mudou-se para o PMDB.

Presidiu em seguida a Cia. Estadual de Habitação do Rio. De novo, irregularidades, que o perseguem sem trégua, como se isso fosse novidade.

Por penúltimo, aliou-se a outro senhor de fina fama, Sérgio Cabral, que, sob acusações diversas, renunciou ao governo do Rio com o prestígio em queda vertiginosa.

Enfim, a eleição para a presidência do Câmara, a declaração falsa na Comissão de Ética de que não tinha bufunfa no exterior e o looooooooooonnnngo resto na luta ferrenha para manter-se livre.

Por ter conduzido tão bem os trabalhos da Câmara no processo que aceitou o impedimento da presidentA, seus amigos, entre eles o sempre notável Paulinho da Força, querem livrá-lo do processo de cassação.

Por certo, Cunha é homem de talento.

Pode ser até que às vezes ferva por dentro, com seu andar de pato rechonchudo, mas consegue manter inalterável sua serena cara de  paisagem. Por coincidência, paisagem suíça congelada, já que o governo suíço congelou parte dos dólares lá depositados atribuídos a ele, que ele jura não serem dele.

Por que será que o STF demora tanto a  manifestar-se sobre tão excelsa figura?

mrburns

Vida eterna para Cunha.

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JOSUE 2Josué Rodrigues Silva Machado, jornalista, autor de “Manual da Falta de Estilo”, Best Seller, SP, 1995; e “Língua sem Vergonha”, Civilização Brasileira, RJ, 2011, livros de avaliação crítica e análise bem-humorada de textos torturados de jornais, revistas, TV, rádio e publicidade.

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