A presidenta zumbi e a verdade sobre o impeachment

Por Mauricio Huertas

Curioso que os petistas e defensores da presidente Dilma Rousseff só tenham notado a má qualidade da Câmara agora que perderam a maioria e caminham como mortos-vivos para o fim.

“Não vai ter golpe”. “São 54 milhões de votos desrespeitados”. “O impeachment é uma vingança pessoal do Cunha”. “É uma ameaça á democracia”. “A Câmara dos Deputados é um lixo”. São algumas das afirmações que se ouvem sobre o processo de afastamento da presidente Dilma Rousseff. Isso mostra que o Brasil precisa falar (sério) sobre o impeachment. Vamos lá…

Primeiro, é verdade que a presidente Dilma Rousseff teve 54 milhões de votos, ou 51,64% dos votos válidos em 2014. Ninguém questiona. Mas o tamanho da votação, por si só, não é antídoto anti-impeachment. Até porque Fernando Collor, com seus 35 milhões de votos em 1989, teve proporcionalmente um apoio ainda maior de brasileiros: 53,03%. Isso não impediu o PT de lutar legitimamente pelo afastamento do presidente. Faz parte do jogo democrático, constitucional, republicano.

Na chamada “Era Collor”, o PT se escorava nos 46% de brasileiros que tinham votado em Lula contra o “caçador de marajás” para ir às ruas e justificar o impeachment. Agora, tenta desqualificar os 48% de brasileiros que votaram em Aécio Neves, mais o percentual de eleitores arrependidos de Dilma que caíram no estelionato petista, tachando a todos como “golpistas”. Ora, ora…

Ah, mas a Câmara é composta por uma grande maioria de deputados inexpressivos, despreparados, suspeitos de cometerem crimes etc. Pode ser. Porém, aquele processo de afastamento de Collor em 1992, com 85% dos deputados pró-impeachment (ou 441 votos), numa época em que Lula afirmava ver 300 picaretas na Câmara, foi tão legalista quanto o atual, quando 71% (ou 367 deputados) acabam de votar pelo encaminhamento da denúncia contra Dilma ao Senado.

Que o nível da Câmara dos Deputados (e dos políticos, em geral) é baixíssimo, todos nós sabemos. Afinal, não foi à toa que saímos às ruas desde 2013 pedindo uma reforma política profunda, apontando a falência do atual sistema eleitoral e partidário, além da nossa insatisfação com essa democracia representativa que, de fato, pouco nos representa. Mas é o que temos. Todos foram eleitos democraticamente. Ou não?

Queridos, escutem: não temos indignação seletiva. Defendemos a apuração de todos os casos de corrupção, doa a quem doer. Pode ser do PT, do PSDB, do PMDB, do PP, do PCdoB, do PSB, do PPS, da “pqp”! Não temos corruptos de estimação. Não jogamos na polarização “nós” x “eles”…

Curioso que os petistas e defensores da presidente Dilma Rousseff só tenham notado a má qualidade da Câmara agora que perderam a maioria e caminham como mortos-vivos para o fim. Nestes 13 anos em que cooptaram e controlaram deputados, para manter o chamado “presidencialismo de coalizão”, por acaso o nível era melhor? Cadê as reformas estruturais prometidas? Por que quase nada avançou nas mãos de Lula e Dilma?

Petistas e pseudo-esquerdistas também criticam o vice-presidente Michel Temer e o PMDB, que, segundo eles, não teriam legitimidade para assumir a Presidência da República. Mas, queridos, foram vocês que por duas vezes consecutivas escolheram Temer para vice de Dilma. Vocês que mantiveram o PMDB no centro do poder. E o vice, cá entre nós, além de legitimamente eleito (com os mesmíssimos 54 milhões de votos da presidente) só existe para uma única função: substituir a titular do cargo. Oh! Surpresa!

Outros esclarecimentos necessários, dando nomes, para não restarem dúvidas: nós apoiamos o impeachment, mas abominamos políticos como Jair Bolsonaro, por exemplo, que dedica o seu voto a torturadores da ditadura. Isso é uma excrescência da democracia. Também lutamos juntos pelo afastamento do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, o “malvado favorito” de uns e outros, escolhido a dedo como antagonista de Dilma, até porque assim seria mais cômodo e emblemático. Mas não cola! Não é porque estamos contra Dilma que seremos a favor de Cunha. Jamais!

Queridos, escutem: não temos indignação seletiva. Defendemos a apuração de todos os casos de corrupção, doa a quem doer. Pode ser do PT, do PSDB, do PMDB, do PP, do PCdoB, do PSB, do PPS, da “pqp”! Não temos corruptos de estimação. Não jogamos na polarização “nós” x “eles” tentando salvar o lado mais conveniente dos bandidos. Queremos todos os políticos corruptos cassados e na cadeia! TODOS!

De resto, não queiram jogar a pecha de “golpistas” em quem defende o processo de afastamento da presidente Dilma por crime de responsabilidade e incapacidade política de gerir o país. É o que determina a lei. É a repetição do processo que vocês também participaram contra Collor. É um instrumento constitucional, legitimado pelo Congresso Nacional, pela Procuradoria Geral da República e pelo Supremo Tribunal Federal. Simples assim. Ou vocês querem nos convencer que todos fazem parte de um conluio contra o PT, e o seu (des)governo é a vítima inocente de uma conspiração golpista?

Ai, ai… Acorda, Brasil!

______________________________________

Mauricio Huertas, jornalista, é secretário de Comunicação do PPS/SP, diretor executivo da FAP (Fundação Astrojildo Pereira) e apresentador do #ProgramaDiferente

mauriciorh@uol.com.br

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Assine a nossa newsletter