As memórias do cárcere de Roberto Jefferson

Por Paulo Renato Coelho Netto

“Ali embaixo todo mundo se iguala. Eu não recomendo isso a ninguém”

Publicado originalmente no Portal Top Vitrine, edição de 4 de abril de 2016

jailDurante entrevista à Rádio Estadão, o delator do mensalão lembrou o período de maior humilhação de sua vida.

Roberto Jefferson revelou que na cadeia quem tem dinheiro paga o remédio dos outros detentos e até sabonete para sarna.

Descreveu o ambiente como um inferno. “Tem sarna, tuberculose, um cheiro horroroso das pessoas que suam naquele coletivo. É mosquito, pernilongo que morde um, morde outro, vem morder você. É uma coisa pesada. Ali embaixo todo mundo se iguala”. Confira:

“Cadeia não faz bem a ninguém. Se eu puder dizer às pessoas que estão se envolvendo, ou estão voltando a se envolver com corrupção, não vale a pena. É humilhante você acordar de manhã cedo, chinelinho de dedo, chinelo branco, Havaiana, bermuda azul, camisetinha branca… Aí o confere matinal, sete horas da manhã: mãos para trás, todo mundo em fila, cabeça baixa.jail 1

– Roberto Jefferson?

– Presente, senhor!

De noite é a mesma coisa, o confere para dormir.

– Roberto Jeferson?

… mãozinha para trás e cabeça baixa porque não pode olhar no olho do guarda para não desafiar o guarda, não querer entrar na cabeça do guarda, essas coisas que você tem na cadeia. E você, que tem a fama de estar rico, de ter se locupletado na política, você que vai pagar remédio para todo mundo, a bola de futebol que fura…

Tem que ter habilidade, humildade, paciência, vai lidar com isso o tempo todo… lava a privada, que não é a privada que você conhece, é a privada turca, é o boi, que você agacha. Tem que lavar, tem o dia de lavar. De varrer o pátio, de varrer a cela…

Esses homens todos que viveram a vida toda com empáfia, com poder, vão passar por isso. Eu não recomendo isso para ninguém.

São memórias tristes, são coisas pesadas, são coisas que a gente passa, assimila.

Eu não estou reclamando, estou fazendo um relato do que é o real.

Fico com pena de ver que homens assim importantes, senadores da República, governadores de Estado, deputados, presidentes de poder e empresários de alta qualidade, representando empresas mais ricas do país, vão passar por isso sim.

Ali embaixo todo mundo se iguala.

Quem tem um pouquinho mais paga um preço maior porque vai ser responsável, vai ser responsável pelo antibiótico, pelo sabonete para sarna, porque tem sarna, tuberculose, um cheiro horroroso das pessoas que suam naquele coletivo. É mosquito, pernilongo, que morde um, morde outro, vem morder você. É uma coisa pesada, não é uma memória que me deixa infeliz, mas foi um aprendizado…

Eu colhi estas pedras no caminho para estender degraus e subir na minha vida”.

(O repórter pergunta, no final)

– Desses aprendizados que o senhor citou, os instintos primitivos que o senhor tinha pelo José Dirceu ficaram sob controle?

“Já passaram. Eu não posso ter ódio porque já passou e ele está passando por isso de novo. Eu não me regozijo com o sofrimento que ele está passando porque eu sei o que é este sofrimento. Não me regozijo”.

Entrevistajail 4

Clique para escutar na íntegra a entrevista de Roberto Jefferson à Rádio Estadão. É memorável:

http://radio.estadao.com.br/audios/detalhe/radio-estadao,pt-e-um-cancer-que-esta-sendo-mostrado-ao-brasil-pelo-judiciario-diz-ex-deputado-federal-roberto-jefferson,562986

Nota da Redação

Roberto Jefferson foi condenado a sete anos e 14 dias de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no escândalo do mensalão. Ele foi preso dia 24 de fevereiro de 2014.

Em 2015, o Supremo Tribunal Federal (STF) autorizou o ex-deputado a cumprir em casa o restante de sua pena imposta no julgamento mensalão.

O delator do mensalão retoma, dia 14 de abril agora, a presidência do PTB. Ele estava licenciado do cargo desde 2012.

ROBERTO JEFFERSON

Reprodução/Blog do Jefferson

Roberto Jefferson? – Presente, senhor!

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renatoPaulo Renato Coelho Netto Criador do Portal Top Vitrine, Paulo Renato é jornalista com pós-graduação em Marketing pela Universidade Católica Dom Bosco (UCDB), em Campo Grande (MS). É autor de nove livros, entre os quais “Mato Grosso do Sul”, obra em português e inglês e “Minha Vida Até os 40 – Uma biografia de João Leopoldo Samways Filho”. É coautor do livro “Campo Grande, Imagens de Um Século”, obra em português e francês. Foi roteirista dos filmes “Pantanal – Um Olhar sobre o Patrimônio da Humanidade”. Publicou seu primeiro livro aos 19 anos, “Ciência do Beijo”. Trabalhou como repórter no jornal Diário do Grande ABC, em Santo André (SP), e na sucursal em Campo Grande do jornal Gazeta Mercantil. Foi diretor e editor-chefe na TV Morena (Rede Globo) e TV Educativa de Campo Grande. Idealizou e implantou a TV UNAES – Centro Universitário de Campo Grande. Na mesma Instituição de Ensino Superior foi diretor da TV UNAES, responsável pelo site, pelo jornal O Centro e a Assessoria de Comunicação do Centro Universitário.

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