Tão Gomes Pinto. Testemunha ocular da história FHC/ Mirian Dutra. Imprensa, poder e insídia se misturam
POST DO JORNALISTA TÃO GOMES PINTO PUBLICADO EM 18-FEVEREIR0-2016,
EM SUA PÁGINA DO FACEBOOK, ONDE TEM RELATADO FATOS E LEMBRANÇAS NA FORMA DE DIÁRIO
Tão Gomes Pinto
Indaiatuba •
Caro Diário
Quando decidi fazer este Diário, a ideia era apenas juntar cacos do passado, coisas curiosas que vivemos juntos – eu e o Diário. Nada que fosse muito atual. Para não comprometer ninguém, muito menos acusar. As mídias sociais não aguentam mais tantas denúncias. Tanto lixo, na verdade. Ocorre que parece que atraímos esses vícios. Bastou pensar num assunto, pimba, tá ele na mídia. Acaba de acontecer com o “affaire” FHC x Mirian Dutra.
Ah…se eu me lembro. Faz tempo, muito tempo. Eu sentadinho na Boite Gaf, em Brasília, depois de um dia de trabalho, relaxava tomando meu uisquinho e eis que vejo o senador e a jornalista Mirian Dutra bailando na pista de dança. Curiosa a memória. Lembro que a Mirian usava saia quadriculada, padrão escocês. Disso me lembro, de mais nada daquela noite perdida no tempo.
Anos depois, e muitos, recebo um telefonema de um primo muito querido, o Fernando Lemos, filho da Catitinha, prima da minha mãe, e neto da Onorina, da geração de vovó Otillia, embora muito mais moça. Ele, como eu, era parente do ex-embaixador Roberto Campos. Ele sobrinho em primeiro grau. Eu em segundo.
Fernando, na minha ótica meio conservadora, era um gênio. Trabalhava em dois níveis. Num, assessorava políticos. No outro, casava-se seguidamente. Dizem hoje que era um grande lobista. Não sei. O que eu sei é que, com seu jeito largadão, nunca de paletó, muito menos gravata, sempre me pareceu o o anti-lobby. Morreu jovem ainda.
Sim, o telefonema…Fernando queria saber como era meu relacionamento com o pessoal da Caros Amigos, em especial, com o dono do empreendimento, o Sergio de Souza. Eu disse: nenhum. O que era rigorosamente verdadeiro.
Conhecia, é claro, o nome Sergio de Souza. Conhecia o veículo. Confesso que não era muito o meu gênero. Mas um episódio, com o Sergio de Souza, me marcara muito.
Eu tinha ido à cremação do Sérgio Pompeu, na longínqua Vila Alpina. Esperava ver lá dezenas de amigos, ou colegas, que o Sergio Pompeu tinha ou fizera ao longo de sete anos de Veja como um dos redatores chefes. Na revista, havia dois nessa função. O outro era José Roberto Guzzo.
Onde estavam todos aqueles que angustiados, enciumados, ou simples criadores de problemas, faziam fila na porta da salinha do Pompeu? E que sempre saiam dela com uma palavra de amigo ou um conselho de profissional experiente. Simplesmente ignoraram a morte do ex-chefe. De conhecidos, além da família, apenas o Eurico Andrade e o Sergio de Souza.
Nada mais justa, a presença do Sergio de Souza. O Pompeu, sempre se referia a ele como “Serjão”, de modo respeitoso, quase filial. A presença na cremação, e a maneira como se referia ao “Serjão”, fizeram com que eu retornasse o telefonema do Fernando Lemos e indagasse o que ele queria. O simples relacionamento do “Serjão” com o meu velho amigo Sergio Pompeu serviria como uma espécie de recomendação.
Meu primo então explicou. A Caros Amigos estava fazendo uma capa com a história do filho que FHC tivera com a Mirian Dutra. Ele sabia das coisas com antecipação. Deve vir dai a fama do seu escritório, a Polimídia. E ocorre que a Mirian Dutra era irmã da esposa, naquele momento, do Fernando, a Margrit Dutra Schmidt.
E ele gostaria que alguém, com acesso à Caros Amigos, pedisse a eles (a revista) para preservarem o filho da união extraconjugal. Não o expusessem demais.
Fernando Lemos sabia, inclusive, que eles tinham uma cópia da certidão de nascimento do menino, que na época deveria ter uns 9 ou 10 anos. Não se tratava de não publicar a matéria, até porque já havia saído tempos atrás. Já era assunto velho. Matéria requentada.
Pesei os prós e contras de uma ida até a Caros Amigos. Levei em conta a amizade que o falecido Sergio Pompeu parecia ter com o “Serjão”. Sobretudo havia o fato de que se tratava de preservar a imagem de uma criança. Decidi ir até a redação, onde fui recebido com mil gentilezas, cafezinhos, e até convites para participar da revista como colaborador.
Contei então ao “Serjão” a história, insistindo sempre que não era um assunto político, mas uma questão familiar, e que o assunto já estava gasto, batido, superado. Sergio de Souza despediu-se de mim dizendo “fica tranquilo, o garoto será preservado”.
Publicada a revista, vejo que eles deram a matéria como capa. E pior, publicavam com destaque a certidão de nascimento onde o filho de FHC e Mirian Dutra aparece como não tendo pai.
Não satisfeito, “Serjão” contou detalhes sobre a minha ida à redação, insinuando que eu fora pedir para não publicarem a matéria, enfim, desdobrando o enredo todo e sempre me colocando como peça vital do episódio. Foi bom, porque aprendi até que ponto um jornalista pode ser canalha, e isso parece não ter limites, especialmente hoje em dia.
Nunca mais sequer abri uma revista Caros Amigos. Aliás, nem sei se ela continua a sair.
TÃO GOMES PINTO, JORNALISTA, ESCRITOR, COM PASSAGENS EM ALGUNS DOS MAIS IMPORTANTES VEÍCULOS DE IMPRENSA, ENTRE ELES, ISTO É, JORNAL DA TARDE E VEJA