Macacos não me mordam.
Por Marli Gonçalves
Feliz Ano Novo. Corre! Minha proposta, positiva, otimista: vamos tentar começar de novo, nem que seja usando o ano novo dos outros, porque esses nossos primeiros dias não foram bolinho, não refrescaram os nossos calores, muito menos mostraram a luz do fim do túnel. Vamos abrir outro ano; vamos agora de Ano Novo Chinês, 8 de fevereiro, Lua Nova, entrando no Ano do Macaco, o 4714. Será – mais precisamente – o Ano do Macaco de Fogo que, dizem, ajuda quem planta o bem. Vai até 27 de janeiro do ano que vem
Nesse período vai dar tempo de a gente pular uns galhos. Poderia ser Macaco de Metal, Água ou Madeira, mas agora é o de Fogo, tudo de acordo com o ano. O Macaco de Fogo cobra com juros o que foi injusto, falso e destruidor de vidas e sonhos, descobri, buscando mais sobre esses mitos. E como de juros a gente entende, penso que o tal macaquinho pode bem vir a ser um bom amuleto para a gente se apegar esse ano, pedindo para melhorar um pouco a situação e inclusive comprando até algumas bugigangas com a cara dele vindas justamente lá da China. Prepare-se que os macacos vão inundar o mercado de todo o planeta a partir dessa semana.
Daí a minha proposta de que façamos outro Ano Novo, só não dá para gastar muito nem comprar roupas novas que estão pela hora da morte. Vamos entrando, ver no que dá.
Dizem ainda que, se achamos que 2015 foi cheio de surpresas, desafios, mudanças e agitação, melhor se preparar para viver em 2016 o dobro disso tudo. O Macaco é um dos 12 animais símbolos do zodíaco chinês, onde cada um representa um ano. De acordo com a lenda, Buda chamou todos os animais a si antes de se mandar da face da Terra. Somente doze animais teriam vindo despedir-se. Como recompensa ele nomeou um ano para cada um pela ordem em que chegaram. Veio primeiro o rato, depois o boi, o tigre, coelho, dragão, serpente, cavalo, carneiro, macaco, galo, cão e porco. Bonito, né?
Bonito, mas essas coisas são sempre muito intrigantes. O macaco é um animal especial, inteligente e muito próximo, creio que eles também pensem assim quando nos veem. Em comum, tivemos lá atrás – há mais de seis milhões de anos – um mesmo antepassado, em solo africano. Uma linhagem virou o que somos. Outra, o que eles são, evoluindo por lá mesmo. Nós não descendemos dos macacos, como ainda tem quem ache. Não os substituímos, eles estão aí. Somos apenas bem parecidos.
Cada macaco no seu galho, nos diriam, baixinho, para não despertar uns chatos politicamente corretos, sociólogos de gabinete que associam essa tão conhecida expressão com uma “clara tentativa de intimidação social, de manutenção do status quo”. Prefiro, ao contrário, entender como “não se meta no meu território”, “cuide de sua vida que eu cuido da minha”. Não invada meu espaço. Tenho pensado muito sobre isso vendo tanta gente fazendo “jornalismo”, “comunicação”, sem ter noção dessa responsabilidade.
Mas repara que o macaco já está na ordem do dia. Uma boa parcela da população, pasma com tudo que vem sendo revelado nos últimos meses, com tudo que tem ido abaixo no país nos últimos meses, tem pensado seriamente em mandar um certo grupo político, um certo partido e seus líderes de barro, fazer o quê? Justamente: pentear macacos! Uma expressão comum e bem engraçada, se a gente ficar pensando que não deve ser nada fácil pegar o bichinho para pentear. Manda alguém ir fazer isso é não estar querendo vê-lo por perto por um bom tempo. Exatamente o que faremos quando nos livrarmos desses micos, e que estão nos fazendo pagar outros, alguns até bem esquisitos, diante do mundo.
Os macacos estão dando as cartas, como nos jogos dos baralhos tradicionais, em que alguém os tirava, aquele mico de circo. Têm a ver até com o nosso mais novo motivo para pânico, o vírus zika. O vírus foi isolado, encontrado pela primeira vez em 1947 em um macaco na floresta de Zika, que lhe dá o nome, em Uganda, África. De lá, veio se espalhando e chegou aos humanos como uma trágica vingança daqueles descendentes que não viraram humanos na evolução das espécies. Voa com o Aedes aegypti, o mosquito invocado, que tem um leque de doenças em sua mochila de viagem.
Então, Feliz Ano novo. Aproveitando as deixas budistas, lembro ainda de outros três macaquinhos, os chamados sábios, os que tapam os olhos, os ouvidos e a boca numa boa proposta resumida no provérbio “não veja o mal, não ouça o mal, não fale o mal”.
Só que aqui, no momento atual, precisaremos fazer ao contrário: temos de ver bem o que está acontecendo, ouvir com atenção e abrir a boca para protestar, inquietos, fazendo uma algazarra bem grande para nos livrarmos de todos desses perigos.
São Paulo, 2016
Marli Gonçalves, jornalista – Cachorro, no horóscopo chinês. Mas fica com a macaca quando tomam nossa banana de cada dia.
********************************************************************
E-MAILS:
MARLI@BRICKMANN.COM.BR
MARLIGO@UOL.COM.BR