Paulistinha, o avião brasileiro que criou duas indústrias
Coluna de Jarbas de Barros
Espaço Defesa & Segurança
Embraer é coisa nova. A indústria brasileira de aviação começou muito antes: o primeiro avião genuinamente nacional (só o motor, um Franklin de 65 cavalos, era americano), o Paulistinha, começou a ser produzido em 1943 pela Companhia de Aeronáutica Paulista. O nome era inevitável: Paulistinha. Foi um sucesso: em cinco anos, foram fabricados e vendidos 777 aviões. E, quase 70 anos depois, uns 200 exemplares do avião de madeira, com estrutura de tubos de aço molibdênio, sem rádio, sem partida elétrica, continua voando nos aeroclubes do Interior:
Foi um momento histórico favorável, que conjugou grandes empresários, a Universidade, o Governo, para juntos levar o Brasil a dar o salto tecnológico que lhe permitiria fabricar aviões. Um grande industrial, Francisco “Baby” Pignatari, dono da Laminação Nacional de Metais, com diversas empresas espalhadas no ABC paulista, que empregava cinco mil pessoas – era apaixonado por aviões.
Outro grande empresário, Assis Chateaubriand, que seu biógrafo Fernando Morais chamou, num excelente livro, de Rei do Brasil, estava convencido de que um país do tamanho do nosso só poderia resolver seu problema de transportes a longa distância com estímulos à aviação – e impulsionou, com sua imensa rede de comunicações, os Diários e Emissoras Associados, a Campanha Nacional da Aviação, com o lema “Dêem Asas ao Brasil”. O IPT, Instituto de Pesquisas Tecnológicas, entrou de cabeça no projeto, aperfeiçoando o desenho do monomotor, baseado no Piper Cub americano, pesquisando novos materiais (por exemplo, madeiras resistentes e leves), desenhando e construindo as hélices. O interventor federal em São Paulo, Adhemar de Barros, fundador do Aeroclube Paulista, sempre se interessou por transporte aéreo. O presidente Getúlio Vargas e seu ministro da Aeronáutica, Salgado Filho, consideravam a aviação um assunto de interesse nacional – na época, os fabricantes internacionais estavam ocupados fabricando aparelhos militares para os combates da Segunda Guerra Mundial. O Tesouro velho de guerra foi chamado a colaborar, financiando aeroclubes em todo o país e comprando os Paulistinhas, entregues em comodato (um tipo de cessão sem despesas para quem os recebia) aos aeroclubes. E o Paulistinha, um avião bem desenhado, seguro, barato, se tornou o aparelho padrão do treinamento do pessoal aéreo brasileiro.
Um avião robusto, simples, barato, fácil de manejar, exigindo pouca manutenção. Mas, com a mesma rapidez com que se espalhou, foi sufocado: terminada a guerra, os fabricantes americanos e ingleses lotaram o mundo com os aviões que tinham sobrado (como os excelentes DC-3, parentes do Dakota militar), a preços de liquidação. De repente, o mercado do Paulistinha se evaporou. Em 1948, embora ainda com 120 aparelhos encomendados, a Cia. Aeronáutica Paulista fechou as portas. E a própria fábrica foi transformada por seu dono numa nova unidade da Laminação Nacional de Metais.
O Paulistinha acabou, mas seu projeto não morreu. Em 1955, outro empresário apaixonado por aviação, José Carlos de Barros Neiva, comprou os direitos de fabricação, os gabaritos e as plantas do Paulistinha. O projeto básico recebeu uma série de aperfeiçoamentos, entre eles um motor mais potente. O Paulistinha passou a chamar-se P-56 – P do Paulistinha inicial, 56 do ano de início da fabricação do novo aparelho. Foi novamente um sucesso: 260 P-56 produzidos, dos quais 250 foram distribuídos pelo Ministério da Aeronáutica a aeroclubes em todo o país.
A Neiva cresceu e ganhou mercado especialmente graças ao Paulistinha renovado. E, quando seu proprietário decidiu se aposentar, a empresa encontrou um novo destino: foi comprada pela Embraer, a principal empresa aeronáutica do país, hoje uma grande player no mercado internacional.
A campanha de Assis Chateaubriand teve sucesso: Baby Pignatari, Neiva e outros pioneiros deram asas ao Brasil.
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Teresina pi 04/11/2019
Boa tarde
Sou piloto privado,tirei meu breve no aeroclube do recife nos avions Paulistinha o famoso P-56 me orgulho ainda mais porque sei que a família Neiva no Brasil e só uma e tenho o prazer de pertencer a essa maravilhosa
família orgulho muito de ter um parente muito importante pra aviação brasileira.
Jose Rocha Neiva