Boca de Cassandra acerta. Para Cacalo, a imprensa precisa prever mais, e errar menos

cneta vermelhaCostuma-se chamar de Cassandra quem prevê que algo vai dar errado e dizem ser uma pessoa agourenta, mesmo que a previsão se confirme mais à frente. Isso, por desconhecerem a figura mitológica: Cassandra sofreu assédio sexual do deus Apolo, não topou dormir com ele e levou um castigo, o de fazer previsões que estavam sempre certas, mas que ninguém levava a sério. Como se pode ver, o desrespeito às mulheres vem de longe, mas a ignorância, nem tanto. Eu, por exemplo, de 2006 a 2014, fui analista de conteúdo da Agência Brasil (da hoje Empresa Brasil de Comunicação, EBC), tempo dividido em dois períodos, de 2006 a 2008, quando a empresa ainda se chamava Radiobras (e minha opinião valia), e de 2008 a 2014, já EBC. No segundo período, alertava diariamente em meus relatórios que a política de conceder crédito fácil a quem mal conseguia somar dois com dois iria redundar em desastre mais à frente. Fui solenemente ignorado pois a agência começava a dar sinais do que é hoje, quase uma assessoria do Palácio do Planalto (e, ao que tudo indica, o pedido de demissão do presidente e do diretor-geral da EBC tem a ver com resistência a isso). Sentia-me um Cassandro, pois os sinais do desastre eram cada vez mais evidentes e ninguém dava ouvidos. Eis uma das provas de que eu, modéstia inclusa, estava certo, publicado no G1:

mao apontando direitaImóvel com desconto e crise motivam ‘boom’ de pedidos de devolução

mao apontando direita41% das vendas tiveram distratos nos 9 primeiros meses de 2015, diz Fitch.

mao apontando direitaQueda dos preços dos imóveis e situação econômica elevaram pedidos.

E isso vale pra financiamento de automóveis e eletrodomésticos, situações mais complicadas, pois foram usados. No caso, há devoluções e inadimplência. Considero boa parte da imprensa corresponsável, foi muito boazinha, caiu no oba-oba, não fez o barulho necessário.

Antigamente, o programa A Voz do Brasil tinha o nome de A Hora do Brasil, a tortura durava 60 minutos. Quase no fim, havia a seção “Aviso aos Navegantes”, em que se divulgava a cor da várias boias espalhadas pelo litoral, luz verde, luz amarela e luz vermelha. Durante a ditadura militar, foi tomada umas das medidas mais ridículas da história brasileira, quiçá mundial, não se podia falar luz vermelha, era coisa de comunistas, passou-se a usar luz encarnada. A introdução é para chegar a um aviso: a língua portuguesa é normatizada pela Academia Brasileira de Letras (ABL), que edita o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (Volp). Em “jurisdiquês” diz-se que “O que não está nos autos não está no mundo”, em português, o que não está no Volp não existe (claro, exceção feita às gírias e alguns regionalismos), portanto de nada serve concordar com Fulano ou Beltrano, há que concordar com a ABL.

À medida que o tempo passa, o Volp vai sendo atualizado, palavras vão sendo incorporadas, mas, até que isso ocorra, não existem oficialmente. Sobre gramática, nem os gramáticos se entendem…

(CACALO KFOURI)

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No G1

Pelo menos 14 estudantes morrem afogados em praia da Índia

Outros (???) 12 estão desaparecidos após serem levados pela água.

Pelo menos 14 estudantes morreram afogados e (cerca de 12)(???) estão desaparecidos

(???) Além dos 14 mortos, 12 estudantes desapareceram nas águas

(*) Diretamente do ensino fundamental para o portal global, que legal, mas, a lógica, babau. Outros? Claro que foram, os “outros” morreram? Cerca de 12? Difícil ser exato com um número tão grande, né mermo? E, sendo cerca de 12, por que está escrito que foram 12 em parágrafo mais abaixo?

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No Estadão

Ministro reafirma elo entre zika e microcefalia

Embora a Organização Mundial da(*) Saúde (OMS) tenha sido cautelosa

(…), disse Jorge Kalil, diretor do Instituto Butantã(XXX)(Butantan)(*)

(*) Bem que avisei a uma repórter na semana passada que ela corria risco por ter violado uma norma e escrito certo, Butantan.

A posição brasileira foi levada ontem à Organização Mundial de (XXX)(da(*) Saúde

(*) Isto, na minha terra, se chama desleixo. E, pergunto, siglas foram criadas para economizar espaço, foi usada na primeira linha do texto, pra que o extenso de novo? Não é dar sopa pro azar?

Advogado chama tríplex de ‘Minha Casa Minha Vida’

O criminalista e ex-governador do Rio de Janeiro Nilo Batista classificou ontem de “factoides” as suspeitas de que o petista tenha sido proprietário oculto de um tríplex em(*) Guarujá

(*) Foi por distração…

(…),comprou cotas da cooperativa Bancoop para o empreendimento do Condomínio Solaris, no(XXX)(em)(*) Guarujá.

Este de (*) Guarujá é um tríplex Minha Casa Minha Vida,

(…), todas confrontando as informações concedidas pelo instituto sobre o tríplex do
condomínio Solaris, localizado no (XXX)(em)(*) Guarujá,

(*) A gente vamo atirano, um nóis acertemo… É muito desleixo, muita falta de respeito com o leitor. Este pessoal não duraria uma semana na primeira redação em que trabalhei, o lema do diretor (Paulo Patarra) era “Marcou, dançou!”

Dilma: e eu com isso?

(…); depois vêm (XXX)(vem)(*) a Olimpíada e o País para; e, enfim, o ano acaba com as eleições municipais

(*) Tive um professor de Física que dizia, brincando, “se podemos complicar, pra que simplificar?”. Segundo os dicionários, Olimpíada é o intervalo entre dois Jogos Olímpicos consecutivos, apesar de também significar a própria competição. Mas, 95% das pessoas falam Olimpíadas e o jornal resolveu padronizar no singular. Sou capaz de apostar que a articulista escreveu no plural, mudaram e se esqueceram do verbo.

Veterinário é proibido de atender cães de graça

O médico(-)veterinário Ricardo Fehr Camargo, de 39 anos, foi obrigado a suspender os mutirões de atendimento gratuito que dava todo sábado a cães e gatos de pessoas carentes em sua clínica, em São Carlos, interior de São Paulo.O Conselho Regional de Medicina Veterinária (CRMV-SP) o(XXX) advertiu(-o) que a ação beneficente contraria o código de ética da profissão e o ameaçou com sanções. Ele será processado e pode até perder o registro profissional.

Obs.: – Sim, leitor, é isto mesmo, ações beneficentes viraram crime, preocupação com o próprio umbigo, nenhuma com a população. E, do ponto de vista jornalístico, a matéria é um desastre, não ouviram o médico para saber que atitude tomará e nem as instâncias superiores para saber que providências tomarão diante do despautério.

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Em Airways, publicado no UOL

MUSEU DA TAM EM SÃO CARLOS TEM ATIVIDADES SUSPENSAS

“A Tam(XXX)(TAM)(*) ressalta ainda, (…), o “Museu Asas de um Sonho”, possui(XXX)(tem) um acervo com mais de 90 aeronaves de diferentes épocas. A coleção possui(XXX)(tem) aeronaves clássicas

Ciente da intenção da Tam(XXX)(TAM) em desativar o museu

(…), como a direção de Campo de Marte e os responsáveis pelo acervo da Tam(XXX)(TAM),
(…), o museu da Tam(XXX)(TAM) nunca registrou grande movimentação de público. O local fica a cerca de 250 km do centro de São Paulo, um dos motivos (pelo qual)(XXX)(pelos quais)(*) quase sempre tem poucos visitantes.

(*) É fácil notar que o autor não possui (aqui cabe!) o dom da atenção e nem o do conhecimento da gramática…

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Na Cultura (!!?) FM

“O pianista carioca Braz Velloso fala de um dos motivos que o levou(XXX)(levaram(*) a se interessar pela obra de Leopoldo Miguéz”

(*) Oh, escriba, inverta a frase e descubra como é fácil acertar: dos motivos que o levaram, fala de um. Cultura, hein?

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Na TV Brasil, a TV que ninguém vê (segundo os próprios funcionários)

Que vergonha, empresa pública ensinando errado, chamam de “aédes aêgípiti” o mosquito Aedes aegypti, o correto é “édes égipti”, em latim, “ae” tem som de “é”. O curioso é que na Rádio Nacional falam corretamente (mesma empresa). E é a gente que paga, duplamente, pela inépcia dos governos (em todos os níveis) e os salários de quem erra na EBC e na Cultura (como se vê acima).

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