A fan of Sao Paulo soccer team cheers before the Brazilian soccer league final match against Goias in Brasilia, Sunday, Dec. 7, 2008. (AP Photo/Eraldo Peres)

O convívio com as organizadas. Coluna Mário Marinho

O  convívio com as organizadas

Diz o presidente do São Paulo, Carlos Augusto Barros e Silva, popularmente chamado de Leco, que não há como conviver sem as torcidas organizadas.

As afirmações estão na Folha de S. Paulo de hoje, 20 de janeiro. Leco diz: “Não tem como não conviver com elas. São concessões que temos que fazer. Ajudar no Carnaval e a entrar nos estádios. Sempre foi assim e sempre vai ser”.

As afirmações feitas pelo presidente são-paulino após o festival de horrores promovido por alguns torcedores-vândalos tricolores no domingo passado, em jogo pela Copa São Paulo de juniores, é altamente preocupante.

Mais adiante na mesma entrevista, a Assessoria de Imprensa do São Paulo informa que para cada jogo no Morumbi são destinadas às organizadas 1.500 ingressos e 500 quando o jogo é fora. Para o Carnaval o Clube destina R$ 150 mil para as organizadas.

Leco diz que condena veementemente a violência nos estádios, mas, ao ajudar a financiar as tais organizadas, é óbvio que ele acaba, ainda que indiretamente, financiando a violência.

Em anos passados e vividos, os torcedores se misturavam nos estádios. Atleticano ao lado de americano, palmeirense junto de corintiano, flamenguistas e vascaínos lado a lado, alvirrubros ao lado dos tricolores do Santinha etc. etc.

Surgiram as tais organizadas.

Uma das primeiras foi do São Paulo. O jornalista Ruy Mesquita contava na redação do Jornal da Tarde que lá pelos anos 1940 ele e estudantes amigos se reuniam em dias de jogos do São Paulo para irem juntos ao novíssimo Pacaembu. Vestiam-se com roupas iguais e até tinham seu grito de incentivo ao time.

País considerado dono das torcidas mais violentas do mundo, os Holligans, a Inglaterra colocou o seu futebol em paz em cinco anos de ação firme das autoridades: leis fortes contra os vândalos (que são cumpridas), proibição da presença de torcidas uniformizadas, proibição das faixas de torcidas nos estádios, conscientização, etc..

Como fazer trabalhos assim no Brasil, se os Clubes são os primeiros a financiarem e acobertarem suas torcidas organizadas?

A entrevista do Leco causa ainda mais preocupação. Ele diz: “O jogador quando faz o gol e faz o sinal da Independente (maior torcida do São Paulo), não faz para ser agradável é por medo”.

Veja a que ponto chegamos. A torcida atemoriza os jogadores.

É a total inversão de valores: o Clube paga para que as ditas ou mal ditas torcidas uniformizadas compareçam aos jogos. Em condições normais, é o torcedor quem paga para assistir ao jogo. E paga com prazer para ver seus ídolos.

Mais um

Gil, mais um que se vai

Lá se vai o zagueirão Gil. É o sexto jogador do time campeão brasileiro do Corinthians a sair do elenco.

Essa é uma situação que acontece já há algum tempo. Causa espanto agora por serem muitos jogadores de um só time e com um só destino: a China.

A saída mais inusitada que já vi até hoje no futebol brasileiro foi a de Diego Tardelli no São Caetano.

O artilheiro era do São Paulo e, cheio de problemas disciplinares, acabou sendo emprestado ao São Caetano.

Era o ano de 2006 e eu comentava jogos pela rádio 9 de Julho ao lado do narrador Ivanor Batista.

Estávamos transmitindo o jogo do São Caetano contra o Palmeiras (se é que a memória não está me traindo).

Na volta dos jogadores após o intervalo do primeiro para o segundo tempo o repórter de campo Edson Rufino informou que o Tardelli não havia voltado.

– Sabe qual o motivo?

– Informe, pediu Ivanor.

– O Diego Tardelli tem que ir correndo para casa, fazer as malas e pegar os documentos porque amanhã ele estará indo para o futebol europeu.

Transferência assim, no meio do jogo, eu nunca tinha visto.

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FOTO SOFIA MARINHO
MARIO MARINHO, agora qui no Chumbo Gordo.com.br
  • Mario Marinho É jornalista. Especializado em jornalismo esportivo foi durante muitos anos Editor de Esportes do Jornal da Tarde. Entre outros locais, Marinho trabalhou também no Estadão, em revistas da Editora Abril, nas rádios e TVs Gazeta e Record, na TV Bandeirantes, na TV Cultura, nas rádios 9 de Julho, Atual e Capital. Foi duas vezes presidente da Aceesp (Associação dos Cronistas Esportivos do Estado de São Paulo). Também é escritor. Tem publicados Velórios Inusitados e O Padre e a Partilha, além de participação em  livros do setor esportivo
A COLUNA MÁRIO MARINHO É PUBLICADA TODAS AS SEGUNDAS E QUINTAS AQUI NO CHUMBO GORDO

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