Biblioteca Alexandrina

Os livros insistem, as bibliotecas persistem. Por Teresa Otondo

… as bibliotecas conhecem sua própria história. E, à sua maneira, resistem e persistem. A pioneira é a famosa Biblioteca de Alexandria criada pelo rei grego Ptolomeu I no século III a.C. que chegou a reunir 700 mil volumes entre papiros e códices.

Bibliotecas
Depois de um lauto café da manhã o novo residente daquele casarão resolveu que era dia de fazer faxina na biblioteca. Chamou um empregado e explicou a tarefa. O subordinado já tinha uma lista das palavras-chave que irritavam o patrão e sabia conversar com a inteligência artificial.

Pouco depois chegaram a uma lista de uns 900 livros que estavam demais ali e resolveram ir por partes. Era preciso pensar o que fazer… ou onde estocar os livros retirados de circulação… e que a operação fosse rápida. Medir a eficiência e o impacto da operação e passar logo para outra coisa.

As bibliotecas conhecem sua própria história. E, à sua maneira, resistem e persistem. A pioneira é a famosa Biblioteca de Alexandria criada pelo rei grego Ptolomeu I no século III a.C. que chegou a reunir 700 mil volumes entre papiros e códices. Dali saiu a ordem alfabética e o primeiro catálogo de obras, para começar. Inventores, escritores, pensadores, cientistas ali trabalharam ao longo de seis séculos e iluminam nossos saberes até hoje.
Mas, porque será que, de tempos em tempos, livros e bruxas vão parar na fogueira?

Não se sabe ao certo a história do incêndio que destruiu em parte a Biblioteca de Alexandria – a maior e mais antiga do mundo. Segundo a versão mais popular, foi em 48 a.C. na época da guerra civil entre Pompeu e o imperador romano Júlio Cesar. No entanto há versões que chegam até a época das cruzadas cristãs contra os árabes.

O corpo principal da biblioteca reunia uns 500 mil volumes e no templo anexo, o Serápis, uns 43 mil. Entre eles a primeira tradução do Antigo Testamento do hebraico para o grego (cienciaecultura.bvs.br/Cult. Vol. 55. no.1 São Paulo Jan/mar 2003).

Em 2002 -uns mil anos depois – o Egito inaugurou uma nova biblioteca com o mesmo espírito da anterior. Construída perto do local antigo, custou cerca de 200 milhões de dólares e contou com o apoio de diversos países. Hoje é um momento turístico apreciado e centro de pesquisa e conhecimento importante.

A nova Biblioteca de Alexandria tem como princípio fundamental garantir a liberdade de pensamento afim de evitar todo e qualquer fanatismo religioso, moral ou cultural na administração intelectual do material arquivado. E a liberdade administrativa garantida afim de evitar também qualquer interferência ou censura externa na administração do acervo da biblioteca. Isso significa que o Parlamento do Egito tem como obrigação manter os princípios de independência na manutenção, administração e uso do acervo da biblioteca.

A Biblioteca de Alexandria inspira e alimenta até hoje o pensamento e a produção intelectual e científica do conhecimento humano. Sem a biblioteca de Alexandria não estaríamos hoje, quem sabe, fazendo piruetas turísticas em torno da Terra com naves espaciais de passeio.

Como diz o argentino Jorge Luis Borges em A Biblioteca de Babel: “basta que um livro seja possível para que exista”. Para ele a biblioteca é “ilimitada e periódica”.


Teresa Montero Otondo – jornalista,  autora de “Rascunhos de Vida – entre livros e escritos”. (Editora Coerência, BP 2024.)

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