
O que resta aprender. Por Paulo Renato Coelho Netto
… Aprender o poder do silêncio, da contemplação e, definitivamente, como dar sobrevida às bananas e aos abacates.
Sobre o abacate, por exemplo. Entre a compra e a fruteira, o que acontece que ele sai verde do supermercado e no outro dia fica escuro em casa?
Como conservar um abacate é um mistério que ainda não faço a menor ideia.
A banana é outra que adora enganar as pessoas.
Mesmo amarela, você aperta e ela responde que ainda não está no ponto. Daí ela fica lá em um canto, com aquela cara de banana abandonada.
Dois dias depois, entra em ruínas como os últimos quatro times da tabela do brasileirão no fim do campeonato.
A banana migra do é agora para a decadência em segundos de desatenção.
Bananas e abacates deveriam vir com o termômetro que existia nos perus, que avisava a hora de sair do forno.
Pensando agora, creio que os termômetros nas aves eram mais uma jogada de marketing do que um auxílio na cozinha.
Basta conferir com os olhos se é hora de servir o prato principal do Natal, ou do Thanksgiving Day, nos Estados Unidos, cuja próxima ação de graças se dará quando Donald Trump deixar para sempre a Casa Branca.
No mais, como elegeram Trump duas vezes presidente americano é algo que não me interessa minimamente.
Na prática, procuro entender coisas mais úteis para usar na vida e que me façam bem, muito mais importantes que este sujeito, como bananas e abacates.
Por exemplo: entender a abissal diferença entre se alimentar e comer. O alimento é tudo que precisamos para nos manter saudáveis. Comer é o oposto.
Preciso aprender com os estoicos a não me preocupar com as coisas que não posso mudar.
Se vivesse na mesma época daqueles caras, seria capaz de deixar o que estivesse fazendo para passar a vida escutando o que eles falavam.
Não recriminar ninguém, não acusar ninguém e não reclamar de ninguém. Recriminar apenas a si mesmo. Quanto evoluiria se seguisse apenas este pensamento de Epicteto?
Aprender mandarim para conversar em Pequim com um chinês velhinho, em uma praça, durante a primavera.
Para evoluir, aprender shinsetsu com os japoneses.
Para brincar, aprender com russos como colocar a matrioska dentro da outra, dentro da outra, dentro da outra, dentro da outra…
Aprender o poder do silêncio, da contemplação e, definitivamente, como dar sobrevida às bananas e aos abacates.
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Paulo Renato Coelho Netto – é jornalista, pós-graduado em Marketing. Tem reportagens publicadas nas Revistas Piauí, Época e Veja digital; nos sites UOL/Piauí/Folha de S.Paulo, O GLOBO, CLAUDIA/Abril, Observatório da Imprensa e VICE Brasil. Foi repórter nos jornais Gazeta Mercantil e Diário do Grande ABC. É autor de sete livros, entre os quais biografias e “2020 O Ano Que Não Existiu – A Pandemia de verde e amarelo”. Vive em Campo Grande.