trânsito

Trânsito, a barbárie que nos define. Por Paulo Renato Coelho Netto

No Brasil, trânsito é moedor de carne que ceifa vidas como um dia normal de abates no frigorífico…

Ilustração De Mascote Executivo Com Roupa Social, Nervoso, Com Raiva Ao Dirigir Um Carro, Estressado Com Poluição Sonora. Ideal Para Catálogos, Informações E Material Institucional Royalty Free SVG, Cliparts, Vetores, e Ilustrações

As leis de trânsito brasileiras deveriam ser revogadas e resumidas em apenas uma: cada um por si.

Ao assumir o volante do veículo, o pacato cidadão torna-se monstro e o jovem vítima ou assassino.

O trânsito é onde personificamos a falta de educação, o individualismo e a nítida diferença entre civilização e barbárie.

Quer saber a importância que os políticos destinam para a educação, o único caminho que melhoraria o trânsito?

Fique alguns minutos em uma esquina reparando como agem motoristas, motociclistas, ciclistas e pedestres.

É o caos.

Fora da faixa, as mães atravessam as ruas com um filho no colo e os outros arrastados pelos braços. Cenas corriqueiras.

Ensinam desde cedo que ruas, avenidas e estradas são e serão territórios sem lei para serem usadas da forma que vier à cabeça.

A falta de educação no trânsito brasileiro vem de berço.

No Brasil, trânsito é moedor de carne que ceifa vidas como um dia normal de abates no frigorífico.

Pela óbvia condição do transporte público, quem pode evitar se desloca de bicicleta, motos e carros pelas vias cada vez mais intransitáveis.

Montadoras, fábricas, importadoras e concessionárias disputam quem vende mais para ocupar as mesmas ruas projetadas para o milênio passado.

As cidades envelheceram, as ruas continuam as mesmas e os veículos brotaram de forma exponencial para transitar pelas vias por onde passavam carroças.

A conta não fecha e os administradores municipais não conseguem, na maioria das vezes, manter o asfalto sem crateras.

A exemplo de outras questões, além de não apresentar soluções, políticos sequer colocam o tema mobilidade urbana em discussão.

Os carros, que deveriam ser mais compactos, vão literalmente na direção inversa. Ficaram maiores em altura, comprimento e largura.

Geralmente, a prepotência do condutor acompanha o tamanho do veículo. Quanto maior o carro, maior a ignorância do motorista.

Desempregados viraram motoristas de aplicativos.

Milhões de desempregados, milhões de carros a mais pelas ruas.

Com a precarização do trabalho e a CLT nos estertores, jovens colocam a vida em risco para ganhar a vida como motoqueiros. O paradoxo da sobrevivência.

Recebem por entrega. Voam no asfalto para fazer algum dinheiro.

O mesmo motociclista que leva comida anda rápido para não morrer de fome.

Evite julgá-los. Tire os antolhos para olhar a vida com empatia.

Atropelamento como strike humano, rachas, despreparo e impunidade no trânsito no paraíso da impunidade.

Respeitar o limite de velocidade é pedir para ser passado por cima ou jogado para o acostamento.

Ceder a vez para quem precisa passar é raro. Gentileza no trânsito é sinônimo de fraqueza onde o normal é ser estúpido.

No lugar de aprender direção defensiva, futuros motoristas decoram placas que sinalizam a selva que os aguardam.

Retroalimentação de um modelo falido.

Este país é uma via sem sentido algum e o trânsito é a barbárie que nos define.

trânsito

________________________________

paulo rena

Paulo Renato Coelho Netto –  é jornalista, pós-graduado em Marketing. Tem reportagens publicadas nas Revistas Piauí, Época e Veja digital; nos sites UOL/Piauí/Folha de S.Paulo, O GLOBO, CLAUDIA/Abril, Observatório da Imprensa e VICE Brasil. Foi repórter nos jornais Gazeta Mercantil e Diário do Grande ABC. É autor de sete livros, entre os quais biografias e “2020 O Ano Que Não Existiu – A Pandemia de verde e amarelo”. Vive em Campo Grande.

 

capa - livro Paulo Renato

1 thought on “Trânsito, a barbárie que nos define. Por Paulo Renato Coelho Netto

  1. Concordo com tudo no texto e digo mais. À sua proposta de legislação de trânsito gostaria de ampliar: Lei Última – Ficam anuladas todas as Leis anteriores e proibidas as posteriores. Esta sim resolveria todos os problemas do Brasil.
    Mas não foram citados no texto que a autoridades (ou otoridades) de trânsito no Brasil são responsáveis por muito do desrespeito. Para falar apenas de por onde ando, na BR-101 ainda tem placas indicativas de redução de velocidade, desvio e outras do tempo da ampliação concluída a dez anos ou mais; está certo que está em recuperação em diversos trechos, mas não falo destes, embora pudesse por achar que estão pouco sinalizados.
    Encontrei agentes públicos indo e voltando em um sinal, acredito que estavam “aferindo” o radar; afinal de contas o processo inventado pode até ser mais inseguro durante a aferição, mas é mais barato, embora contra a Lei, uma vez que esta estabelece que deve ser feito pelo INMETRO e/ou autorizados.
    Radares para redução de velocidade são colocados em pontos de difícil, ou impossível, entendimento por parte dos transeuntes; mas têm que ser obedecido, mas receberão troco em local onde o condutor possa retaliar. Se as regras não forem aceitas com boas, não serão respeitadas.
    Excesso de velocidade só pode ser estabelecido em locais sinalizados, como se o infrator viesse a se denunciar às autoridades/otoridades de trânsito em outros locais.
    Obras na estrada sem fiscalização e PRF descansando no posto a dois quilometros.
    Posso fazer sugestão para começar o respeito? Ao invés de a multa ficar associada ao veículo, associe ao condutor, em primeiro lugar desconheço veículo com capacidade de pagar a multa; desta forma é inutil deixar de pagar as multas quando estas forem maior que o valor do veículo, deixando de pagar o condutor não conseguirá renovar a sua licença.
    Placas de proibido virar à direita ou esquerda agora é uma placa de sentido obrigatório apontando para que lado devo seguir. Quanto a isto, vejo placas que me determinam virar para cima de casas e edifícios, devo fazê-lo? PIOR, alguém com espírito de porco pegou uma placa desta que esteve/estava apontando para a minha esquerda e a apontou para a minha retaguarda; deveria respeitar esta placa de toda forma e dar marcha ré, ou devo questionar esta placa? Se questiono esta placa, como devo proceder com as outras?

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Assine a nossa newsletter