boicote - Tabasco

Boicote…Com a agressividade comercial de Donald Trump fazendo o mundo inteiro temer pelo amanhã, não é confortável descobrir que estou agindo contra a corrente – em vez de me abster, continuo comprando produtos americanos…

boicote - Tabasco

Gosto de comer apimentado. Para os dias em que a comida não está picante o suficiente, tenho sempre à mão um vidrinho do molho de pimenta Tabasco, feito justamente pra servir à mesa. Duas gotinhas e pronto: um prato sem graça vira uma iguaria.

Outro dia, passeando os olhos pela mesa da cozinha e lendo etiquetas de embalagem, um de meus passatempos preferidos, me dou conta de que o Tabasco é feito no país de Trump! De fato, é importado direto da Luisiana.

Me senti meio aborrecido. Com a agressividade comercial de Donald Trump fazendo o mundo inteiro temer pelo amanhã, não é confortável descobrir que estou agindo contra a corrente – em vez de me abster, continuo comprando produtos americanos.

Não é tanto por vingança, que não tenho nada contra eles, mas é questão de solidariedade para com os países que neste momento se sentem esmagados e banidos do comércio mundial.

Já que o assunto era Tabasco, tive curiosidade de saber um pouco mais sobre o produto. Descobri que já faz século e meio que é produzido na Ilha Avery, situada nos alagados do estuário do Rio Mississipi. Quem deu nome ao lugar foi a família Avery, franceses originários da Normandia, que por lá se estabeleceram nos anos 1830 e foram proprietários daquelas terras. Era o tempo em que a Nova Orléans era a porta de entrada da América francesa.

Imaginei vasculhar a lojinha do indiano aqui perto de casa. (Digo indiano, mas talvez seja paquistanês, não sei, o fato é que não fala língua nenhuma além da sua, fato que dificulta a compreensão.) A loja é minúscula, mas tem uma imensa quantidade de produtos espremidos nas prateleiras cambaleantes. Há centenas de produtos indianos, paquistaneses e de outras lonjuras do Extremo Oriente, além de artigos do mundo todo, incluindo latino-americanos e até brasileiros. Um bazar sortido.

Mesmo antes de ir ao indiano, já considerei que não vai ser fácil encontrar substituto para o Tabasco. Com todas aquelas embalagens escritas em caracteres extremo-orientais e com o balconista que não entende nada, estamos bem arranjados. Melhor não trocar o certo pelo duvidoso.

Está resolvido, fico com o Tabasco. Mas tomo uma resolução: em vez de duas gotas, vamos pingar uma gota só em cada prato.

Tenho certeza de que essa prova de desprendimento patriótico vai ajudar a cortar pela metade o PIB americano. Trump que se prepare, que comigo a conversa é apimentada.

_______________________

JOSÉ HORTA MANZANO – Escritor, analista e cronista. Mantém o blog Brasil de Longe. Analisa as coisas de nosso país em diversos ângulos,  dependendo da inspiração do momento; pode tratar de política, línguas, história, música, geografia, atualidade e notícias do dia a dia. Colabora no caderno Opinião, do Correio Braziliense. Vive na Suíça, e há 45 anos mora no continente europeu. A comparação entre os fatos de lá e os daqui é uma de suas especialidades.

_____________________________________________________________

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Assine a nossa newsletter