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A grande novidade é ver o que passou. Por Paulo Renato Coelho Netto

Faz tempo que a grande novidade por aqui é rever o que já vimos dias, meses, anos e décadas atrás….

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Faz tempo que a grande novidade por aqui é rever o que já vimos dias, meses, anos e décadas atrás.

Remake na TV Globo, no ar desde segunda-feira, 31 de março, a novela Vale Tudo foi exibida originalmente entre 1988 e 1989.

Lá se foram 37 anos.

Em 1988 havia novidades. Naquele ano foi promulgada a nova Carta Magna, chamada “Constituição Cidadã”.

Após 21 anos de ditadura militar no Brasil, que até hoje muita gente afirma que não existiu, o então presidente da Assembleia Nacional Constituinte, Ulysses Guimarães, discursou:

A persistência da Constituição é a sobrevivência da democracia. Quando, após tantos anos de luta e sacrifícios, promulgamos o estatuto do homem, da liberdade e da democracia, bradamos por imposição de sua honra: temos ódio à ditadura. Ódio e nojo. Amaldiçoamos a tirania onde quer que ela desgrace homens e nações, principalmente na América Latina.

Havia políticos do porte de Ulysses Guimarães no Brasil e no horizonte a expectativa por dias melhores.

Deu no que deu.

Atualmente, telejornais cansados, com notas agudas de trompete, chamam para edições mornas. Todo mundo de olho na previsão do tempo, a principal notícia do dia.

O enredo do país não muda.

O jornalismo acompanha a pauta do relator. Do decano, de preferência.

A turma que solta é a mesma que manda prender.

A mão que afaga é a mesma que apedreja, como escreveu, em “Versos Íntimos”, o poeta Augusto dos Anjos.

De dezembro a dezembro as notícias se repetem.

No verão, chuvas, alagamentos, dengue, mortes nas estradas, mais chuvas, alagamentos e mortes nas estradas.

Aumento de pedágio e ameaças de greve nos aeroportos no dia 25 de dezembro.

Praias lotadas. Um trombadinha com estilete e canelas finas aqui, um trombadão armado por aí, um arrastão acolá em Copacabana.

No carnaval, os mesmos blocos e trios elétricos.

Acuada entre favelas, a passarela do samba desfila para o mundo a alegria da vida carioca na Cidade Maravilhosa, cheia de encantos e tiroteios mil.

São Paulo prepara a festa de Momo para a única atração que ainda vale a pena ver de novo, Alessandra Negrini.

As ruas cheias de gente com bolsos vazios.

No outono, destaque para o preço do bacalhau como se sobrasse algum para comer sardinha.

Nos supermercados, ovos de Páscoa pendurados pelos corredores após o Domingo de Páscoa.

Não sobra para comprar sequer os de galinha.

Na estiagem, notícias das queimadas podem ser repetidas como as do ano passado.

A mesma onça queimou as patas novamente.

Daqui a pouco começa tudo de novo.

Especialistas generalistas entrevistados.

Falta de verba para combater incêndios. Bombeiros e brigadistas esgotados.

Quem inventou os especialistas?

O maior número da série histórica de degradação da floresta Amazônica.

Qual a novidade no ciclo vicioso que desmata a selva para contrabandear madeiras centenárias, queimar o que sobrou e plantar pasto para engordar boi?

Dengue no inverno. Vacina atrasada para gripe.

Este país é de tal forma previsível que chega ser enfadonho.

A turma de sempre que aumenta o próprio vencimento e achata o salário mínimo.

Ano sim, ano não, eleições na primavera.

Como na estação mais colorida do ano, flores brotam na boca dos candidatos.

Reportagens mostram a sujeira dos santinhos jogados em frente aos locais de votação.

Impunidade.

Nada de novo no front do jornalismo nacional.

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paulo rena

Paulo Renato Coelho Netto –  é jornalista, pós-graduado em Marketing. Tem reportagens publicadas nas Revistas Piauí, Época e Veja digital; nos sites UOL/Piauí/Folha de S.Paulo, O GLOBO, CLAUDIA/Abril, Observatório da Imprensa e VICE Brasil. Foi repórter nos jornais Gazeta Mercantil e Diário do Grande ABC. É autor de sete livros, entre os quais biografias e “2020 O Ano Que Não Existiu – A Pandemia de verde e amarelo”. Vive em Campo Grande.

 

capa - livro Paulo Renato

 

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