
A verdade é uma rolha no fundo do mar.
…A verdade é uma rolha no fundo do mar…Da mesma forma que as rolhas, a verdade sempre vem à tona. Emerge com a força de uma baleia jubarte. Assim são as pessoas…
Por Paulo Renato Coelho Netto
Feita da casca retirada da árvore sobreiro, a rolha de cortiça é utilizada para vedar garrafas de vinho.
Levada para o fundo do oceano, assim que for solta volta à tona.
Ainda que encharcadas, as rolhas flutuam.
A leveza faz parte da composição da casca do sobreiro. Sua densidade é menor que a da água.
A natureza dos elementos da água e da rolha não se confundem. Cada uma é o que é.
Contrariamente à teoria de Joseph Goebbels, o ministro da Propaganda Nazista de Adolf Hitler, mesmo contada mil vezes a mentira não se torna verdade.
Um milhão de vezes repetida, a mentira continuará sendo mentira.
Da mesma forma que as rolhas, a verdade sempre vem à tona. Emerge com a força de uma baleia jubarte.
Assim são as pessoas.
Por mais que se reprimam, que se cuidem ou se controlem, duas ou três palavras são suficientes para revelar quem são.
O potencial nesses casos é quase sempre para pior.
O parasita que pede propina sob as vestes de homem honrado.
O demagogo que hipnotiza a multidão.
O religioso imerso em dinheiro e lascividade.
O pedófilo diretor-presidente da respeitada sociedade dos enxadristas mirins.
O patriota funcionário fantasma do governo.
O vegano dono de açougue.
O ladrão milionário venerado pelo sistema.
A sorridente esposa do espancador.
O inseguro que grita para ser respeitado.
A anoréxica mais linda da festa.
O fascista com discurso democrático.
O que exige sua parcela no negócio sem trabalhar.
A turma da rachadinha.
O aborrecível responsável pela associação dos idosos sem lar.
O que olha e não enxerga, o que escuta e não presta atenção, o que fala sem nada para acrescentar.
O beija-flor que esconde o morcego-vampiro, o coelhinho que camufla o animal peçonhento e a raposa fantasiada de galinha que, por alguma força da natureza, não conseguem representar o tempo inteiro.
Canastrões da pior espécie.
Valem e pesam menos que a rolha.
Vovôs canalhas nas ceias natalinas, com camisas de mangas longas dobradas aos cotovelos.
Para todos e tantos mais, a verdade é uma rolha no fundo do mar.
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Paulo Renato Coelho Netto – é jornalista, pós-graduado em Marketing. Tem reportagens publicadas nas Revistas Piauí, Época e Veja digital; nos sites UOL/Piauí/Folha de S.Paulo, O GLOBO, CLAUDIA/Abril, Observatório da Imprensa e VICE Brasil. Foi repórter nos jornais Gazeta Mercantil e Diário do Grande ABC. É autor de sete livros, entre os quais biografias e “2020 O Ano Que Não Existiu – A Pandemia de verde e amarelo”. Vive em Campo Grande.
Sou obrigado a “quase” concordar com goebbels, uma mentira jamais tornar-e-á em verdade independente da quantidade de sua repetição, mas, por outro lado, para alguns parecerá caso não seja devidamente contraposta.