vícios

Combustível para vícios. Por Adilson Roberto Gonçalves

…Serão nossos vícios a nossa ruína? Estão ligados a ascensão social, pertencimento, ritos de passagem, satisfação pessoal, dependência pura e simples?

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            Vícios são novamente objeto de reflexão neste espaço. E não será a última vez. Um ano atrás eram publicados estes dois artigos: “Cigarro eletrônico e outras drogas” (https://www.chumbogordo.com.br/439401-cigarro-eletronico-e-outras-drogas-por-adilson-roberto-goncalves/) e, na sequência, “Vícios e crimes” (https://www.chumbogordo.com.br/440702-vicios-e-crimes-por-adilson-roberto-goncalves/). O assunto predominante era a ascensão dos cigarros eletrônicos. Mas o álcool volta à tona, em contraponto com questões comerciais envolvidas. Ou melhor, o custo em vidas e recursos financeiros envolvidos no vício.

            O comércio bilionário do álcool é benéfico à nossa economia quando é do biocombustível que se trata. Porém, é extremamente maléfico quando diz respeito à bebida considerada lícita, cujos valores que afetam a saúde pública chegam a R$ 19 bilhões, conforme estudos que revelam o “impacto bilionário do álcool no Brasil”.

            Para além de uma questão cultural, o problema dos vícios é muito sério. O álcool é apenas uma das partes socialmente aceitas. O esporte está intimamente ligado a esse comércio, pois, ontem foi sustentado pela cerveja e pelo cigarro, hoje são as bets que financiam clubes. Em breve poderá ser a fé, outro negócio bilionário viciante e tão danoso quanto.

            Serão nossos vícios a nossa ruína? Estão ligados a ascensão social, pertencimento, ritos de passagem, satisfação pessoal, dependência pura e simples? Estudiosos de crimes sexuais, por exemplo, atribuem à natureza primitiva de nossos cérebros os desejos carnais que levam a praticar crimes porque somos impelidos a eles. Ou seja, o vício em sexo é reprimido pela sociedade castradora e nos torna caças e caçadores. Até a pedofilia é justificada em algumas culturas com base nessa suposta tara natural. Em sã consciência, não há como justificar tais crimes. Sexo é algo lindo, quando há anuência e querência de todas as partes envolvidas. Fato é que, viciante ou não, a indústria pornográfica é outra de bilhões e bilhões.

            O cigarro eletrônico não é matéria pacificada, longe disso, levando jovens a um vício mais nocivo do que o tabaco. A jogatina faz parte da crônica brasileira e até o jogo do bicho parece hoje algo inocente frente aos tigrinhos que surgiram. Fé é tabu a não se discutir (com o que discordo), e “sem a cachaça ninguém segura esse rojão”, já cantava Chico Buarque.

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Perfil ambiental e político – Adilson Roberto Gonçalves –  pesquisador da  Universidade Estadual Paulista, Unesp, membro de várias instituições culturais do interior paulista.  Vive em Campinas.

 

 

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