
As portas do inferno de Trump. Por Paulo Renato Coelho Netto
… As portas do inferno estão abertas e o bode-preto é falastrão, obeso, tem cara e cabelo de palhaço de circo decadente…

Após a ação militar de Israel, que deixou 413 mortos em Gaza, o presidente dos Estados Unidos comunicou que “as portas do inferno se abrirão”. A ofensiva aconteceu nesta terça-feira, 18 de março.
Os ataques romperam a trégua entre Israel e o Hamas, que estava em vigor desde 19 de janeiro deste ano. Previsto para 15 meses, o cessar-fogo não completou dois meses.
Além dos mortos, segundo o Ministério da Saúde de Gaza, o bombardeio deixou 660 feridos.
O Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) confirmou que 130 crianças morreram na Faixa de Gaza nos ataques de Israel. Além das crianças, 94 mulheres e 34 idosos perderam a vida no bombardeio.
Desde 7 de outubro de 2023, mais de 18 mil crianças palestinas foram mortas vítimas dos ataques israelenses.
Traumatizadas pelos horrores da guerra, as que estão vivas sofrem com desnutrição extrema, desidratação, hipotermia e sarna.
Karoline Claire Leavitt, secretária de imprensa da Casa Branca, declarou: “Como o presidente Trump deixou claro, o Hamas, os Houthis, o Irã e qualquer um que busque aterrorizar – não apenas Israel, mas os Estados Unidos – pagarão um preço alto. As portas do inferno se abrirão – garantiu”.
O motivo do ataque teria sido, segundo o comunicado da Casa Branca, o não cumprimento do acordo de devolução dos reféns israelenses pelo Hamas.
A frase “na guerra, a primeira vítima é a verdade” não tem autoria confirmada.
O ministro da Propaganda da Alemanha Nazista, Joseph Goebbels, declarou que “uma mentira contada mil vezes torna-se uma verdade”.
Em 2003, o presidente americano George W. Bush invadiu o Iraque alegando que o país tinha armas químicas de destruição em massa.
Não encontrou um desodorante vencido que pudesse apresentar como a arma do ditador iraquiano Saddam Hussein que iria destruir a humanidade. Petróleo havia de sobra.
Bush filho descansa no seu rancho texano. Saddam Hussein e os iraquianos, que acabariam com o planeta, repousam sob a terra.
A personificação desta guerra ficou na imagem de um menino iraquiano de dez anos de idade que perdeu os dois braços devido a explosão de uma bomba.
Poder, território e riquezas naturais são as principais causas das guerras.
O início do conflito entre Israel e Hamas se deu a partir da ação abominável do Hamas ao país, no dia 7 de outubro de 2023.
Integrantes do Hamas mataram soldados, invadiram casas, decapitaram e executaram famílias inteiras à queima-roupa com tiros de fuzil e assassinaram jovens que participavam de um festival de música perto da fronteira entre Israel e Gaza.
Embora até hoje não se saiba o número exato, 251 reféns foram feitos pelo Hamas, entre israelenses e estrangeiros. Pelo menos 1.200 foram mortos no dia 7 de outubro de 2023.
Os Estados Unidos consideram o Hamas uma organização terrorista.
O massacre que Israel impingiu aos palestinos é igualmente desproporcional e abominável.
O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, está longe de ser unanimidade até mesmo entre os israelenses, que o querem fora do poder.
No início deste ano, Trump defendeu que os Estados Unidos tomem a Faixa de Gaza e transformem o território palestino na “Riviera do Oriente Médio”, expulsando mais de dois milhões dos moradores.
Sobre os incontáveis túneis do Hamas, cadáveres e escombros do que sobrou do território palestino, o presidente americano quer transformar o lugar em um complexo de luxo.
Pretende fazer dali um ímã para atrair bilionários entediados que voltariam para seus países para contar, para outros bilionários entediados, as maravilhas que o dinheiro pode fazer.
Trump sonha ver bolhas de champanhe onde bombas borbulharam.
O desejo de Trump equivale construir um parque de diversão sobre o campo de concentração de Auschwitz, onde soldados e oficiais alemães da SS dividiam o tempo entre submeter prisioneiros judeus a trabalhos forçados, torturas, usá-los como cobaias humanas para experimentos pseudocientíficos e executá-los em câmaras de gás.
Conforme a história registra, mulheres e crianças foram incluídas em todas as práticas acima.
Com total indiferença ao sofrimento dos civis palestinos, que também são vítimas dos extremistas do Hamas, tanto quanto os reféns e israelenses assassinados, Trump quer erguer em território palestino a Riviera do Oriente Médio.
Na riviera trumpista, uma palmeira tropical seria plantada no mesmo local onde foi bombardeada a mãe com o filho bebê nos braços. Uma piscina olímpica escavada entre os ossos do que sobrou dos alunos de uma escola infantil. Um hotel de frente para o mar construído onde palestinos foram soterrados por tijolos da própria casa. Uma sorveteria vintage, dos anos 60 nos Estados Unidos, erguida sobre o que foi um hospital aniquilado por tanques de guerra. Uma pista de patinação no gelo sobre um cemitério.
É inadmissível, do ponto de vista humano, que alguém pense algo assim.
Anexar o Canadá aos Estados Unidos. Tornar a Groenlândia território estadunidense. Consolidar o muro que separa os EUA do México para que latino-americanos não entrem no país. Ignorar o aquecimento global, como todo negacionista de ultradireita que ignorou a pandemia de Covid-19. São plataformas políticas aprovadas pelos eleitores que levaram Trump à presidência.
A maioria do eleitorado americano o reelegeu sabendo exatamente de quem se tratava. Em momento algum o candidato sinalizou que não agiria, no poder, como um representante da ultradireita.
Ao reeleger Donald Trump, os estadunidenses atravessaram o Rubicão.
As portas do inferno estão abertas e o bode-preto é falastrão, obeso, tem cara e cabelo de palhaço de circo decadente.
Alguém precisa dizer ao presidente americano que o demônio não escolhe o sangue que vai beber para se embriagar.
O que passar pela frente ele devora, incluindo quem abriu as portas do inferno.
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Paulo Renato Coelho Netto – é jornalista, pós-graduado em Marketing. Tem reportagens publicadas nas Revistas Piauí, Época e Veja digital; nos sites UOL/Piauí/Folha de S.Paulo, O GLOBO, CLAUDIA/Abril, Observatório da Imprensa e VICE Brasil. Foi repórter nos jornais Gazeta Mercantil e Diário do Grande ABC. É autor de sete livros, entre os quais biografias e “2020 O Ano Que Não Existiu – A Pandemia de verde e amarelo”. Vive em Campo Grande.