Não vai acabar bem

Não vai acabar bem…Se a Justiça americana continuar alerta – e aposto que continuará – o caminho de Trump vai se tornar pedregoso.

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Essas cinco chamadas estavam no Estadão online na manhã deste 19 de março. Aos 79, que completará daqui a alguns meses, Donald Trump deve estar se dando conta de que não terá tempo útil para encetar uma carreira de ditador.

Para chegar a um perfeito Putin, a um azeitado Fidel ou a um experiente Salazar, tinha que ter começado aos 40 ou 50. É nessa idade que se constroem as brilhantes carreiras autocráticas. Aos poucos, vai-se tecendo a teia de amizades, de cumplicidades, de cooptações. Só os anos podem alicerçar forte rede de apoios, eliminando duvidosos e interesseiros, e guardando os fiéis e os leais.

Veja o caso de Elon Musk, por exemplo. Como diz o outro, o salão oval não é grande o suficiente para dois egos daquele tamanho. Mais dia, menos dia, a própria eletricidade estática, fenômeno natural provocado pelo atrito entre duas massas, vai acabar expulsando um dos dois pela janela. Imagina-se que Trump, favorecido pelo peso do cargo e do corpo, continue atarrachado à poltrona presidencial. Portanto, sai o outro.

Com seu relógio pessoal encostando nos 80, fica muito complicado, para Trump, encetar o espinhoso caminho de ditador de carreira. Tendo interiorizado essa realidade, o presidente americano decidiu agir com rapidez. Acostumado ao papel de brutamontes nos negócios, está tratando os assuntos exteriores de seu país com ares de quem está com a faca e o queijo na mâo.

Desde a Alta Antiguidade, o mundo está interligado pelas trocas comerciais. Desde então, produtos são levados de cá e trazidos de lá, num movimento circular e constante. Dele participam todos os países. Pode chamar a isso globalização, mundo multipolar, mundo unipolar, mundo bipolar, tanto faz. Sempre houve essas trocas e não é hoje que vão parar.

Trump parece ignorar fatos que são maiores que ele. Ao aumentar impostos de importação, provoca represálias geralmente representadas pelo aumento de impostos de importação em países parceiros comerciais, que vão atingir produtos americanos. Qualquer ginasiano entende esse mecanismo, mas Donald Trump não parece acompanhar o giro da engrenagem.

Além de reações externas, Trump começa a sentir o peso de bloqueios internos. Em princípio, a Justiça não tem medo de cara feia. E o judiciário americano está começando a mostrar que se encaixa nesse modelo: brutamontes não assustam. É o que dizem as chamadas que recolhi hoje do Estadão e que estão na entrada deste artigo.

Se a Justiça americana continuar alerta – e aposto que continuará – o caminho de Trump vai se tornar pedregoso. Talvez ele logo se dê conta de que, apesar do estilo rolo compressor, não vai dar tempo de destruir tudo o que imaginava poder destruir.

O mundo agradece.

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  • JOSÉ HORTA MANZANO – Escritor, analista e cronista. Mantém o blog Brasil de Longe. Analisa as coisas de nosso país em diversos ângulos,  dependendo da inspiração do momento; pode tratar de política, línguas, história, música, geografia, atualidade e notícias do dia a dia. Colabora no caderno Opinião, do Correio Braziliense. Vive na Suíça, e há 45 anos mora no continente europeu. A comparação entre os fatos de lá e os daqui é uma de suas especialidades.
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